Zelensky pressiona Europa após contatos entre Trump e Rússia

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pressionou seus aliados europeus neste sábado (15), instando-os a reforçar sua unidade para evitar um acordo forjado pelos Estados Unidos sem a participação de Kiev e da Europa para pôr fim ao conflito na Ucrânia.

“Acredito realmente que chegou o momento de criar as forças armadas da Europa”, declarou o líder ucraniano na Conferência de Segurança de Munique, em um momento em que se teme um menor compromisso militar de Washington no continente.

A Ucrânia teme ser deixada de lado, assim como a União Europeia, nos diálogos para encerrar a guerra, iniciada em 24 de fevereiro de 2022 com a invasão russa da ex-república soviética.

Esse temor aumentou depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversou na quarta-feira por telefone com o par russo, Vladimir Putin, sobre o futuro da Ucrânia.

Após quase três anos de conflito, centenas de manifestantes se reuniram perto do hotel onde a conferência ocorre na Alemanha, expressando seu receio de um entendimento direto entre Trump e Putin.

Os Estados Unidos “se apresentam como um bastião da democracia e ajudaram muito a Ucrânia, mas ultimamente já não sei o que pensar”, declarou uma das manifestantes, Natalia Galushka, uma ucraniana de 40 anos.

Neste contexto, o presidente francês, Emmanuel Macron, convidou os líderes europeus para uma reunião em Paris na segunda-feira, segundo o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, que indicou que estaria presente no encontro.

O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, que defende que a Europa assuma o controle de sua própria defesa, também confirmou presença. Os europeus devem demonstrar “relevância” se quiserem ter alguma influência, argumentou ele.

– “Garantias de segurança” –

Kiev pediu que Washington elaborasse um “plano comum” para enfrentar a Rússia, mas Zelensky observou que ainda não havia uma posição conjunta após a reunião com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, na sexta-feira.

Neste sábado, o presidente ucraniano anunciou que bloqueou um acordo proposto por Trump para permitir que os EUA tivessem acesso a recursos minerais estratégicos, afirmando que, por enquanto, o republicano “não protege” o seu país e que qualquer decisão deve “estar vinculada a garantias de segurança”.

O governo Trump pretende concluir um acordo sobre os minerais ucranianos que “reembolsaria” parcialmente os Estados Unidos pela ajuda fornecida a Kiev.

Quanto à posição de Washington sobre o papel dos aliados europeus, Zelensky afirma que “os Estados Unidos não oferecerão garantias [de segurança] a menos que as próprias garantias da Europa sejam sólidas”.

O enviado especial americano, Keith Kellogg, a quem Zelensky convidou a visitar o front, insinuou que os europeus não participaram diretamente das negociações, mas que teriam “voz”.

O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, incentivou a Europa a compartilhar as próprias posições sobre a Ucrânia e as questões de segurança, “ou então outros atores globais decidirão sobre nosso futuro”.

“Não podem tomar decisões sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, assim como não podem tomar decisões sobre a Europa sem a Europa. A Europa tem que ter um assento na mesa” dos diálogos”, insistiu Zelensky.

– Rússia “precisa da guerra” –

Segundo o presidente ucraniano, Putin “não pode oferecer garantias reais de segurança, não só porque é um mentiroso, mas porque a Rússia, em seu momento atual, precisa da guerra para manter o poder coeso”.

O líder do Kremlin buscará “que o presidente americano esteja na Praça Vermelha [em Moscou] em 9 de maio [dia em que se comemora a vitória da Rússia sobre a Alemanha nazista] não como um líder respeitado, mas como uma peça de sua própria performance”, acrescentou.

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, e seu par americano, Marco Rubio, conversaram por telefone neste sábado e expressaram a vontade de “cooperação” para resolver o conflito na Ucrânia, segundo a chancelaria russa.

No campo de batalha, o Exército russo reivindicou, neste sábado, a tomada de uma nova localidade na província de Donetsk, no leste da Ucrânia, onde as tropas de Moscou vêm avançando há meses.

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