Por que há alta de dengue todos os anos? Entenda os fatores

O Governo de São Paulo decretou situação de emergência para dengue na quarta-feira (19), após o estado registrar mais de 100 mortes pela doença em 2025. A previsão é de que o número de casos continue crescendo nos próximos meses.

Em entrevista à CNN no final de janeiro, o presidente do Instituto Butantan, Dr. Esper Kallás, afirmou que 2025 será um ano difícil para o Brasil devido ao aumento de casos da dengue. Segundo o especialista, o acúmulo de casos no início de janeiro deste ano lembra o padrão observado em 2024, sugerindo que os números podem ser semelhantes ou até mesmo superiores.

A dengue é uma doença considerada endêmica no Brasil, ou seja, que vem ocorrendo de forma continuada desde a década de 1980, intercalando-se com a ocorrência de epidemias. “Desde 2021, uma epidemia vem sendo maior que a outra”, afirma Alexandre Naime, Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e chefe de Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), à CNN.

De acordo com o especialista, a alta de casos de dengue ao longo dos anos acontece por um conjunto de fatores. Um deles são as mudanças climáticas.

“O aquecimento global aumentou de forma bastante importante as fronteiras do Aedes aegypti. Estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, por exemplo, não tinham dengue há 10 ou 15 anos. E, mesmo nos locais onde já se tinha classicamente dengue, como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, estão tendo temperaturas médias cada vez mais altas, facilitando a eclosão dos ovos do mosquito”, explica o especialista.

Além disso, as chuvas intensas que atingem diferentes regiões do Brasil também facilitam a reprodução do mosquito Aedes aegypti e a transmissão da doença. “A pluviosidade é bastante alta no verão, o que favorece ainda mais a formação dos criadores do mosquito e a eclosão de ovos postados em anos anteriores. Então, para o mosquito, está havendo uma conjunção perfeita de fatores: média alta de temperaturas e grande pluviosidade”, completa Naime.

Sorotipo 3 do vírus da dengue preocupa especialistas

Outro ponto de preocupação em relação ao aumento de casos de dengue é a circulação do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil.

No total, a dengue possui quatro sorotipos diferentes circulando no mundo, com distintos materiais genéticos e linhagens. Esses tipos são nomeados: DENV-1DENV-2DENV-3 e DENV-4. Eles pertencem à família Flaviridae e são vírus que só contêm RNA na composição.

Em janeiro, o Ministério da Saúde afirmou ter identificado a volta do sorotipo 3 da dengue (DENV-3) no país. Os estados de maior circulação foram São Paulo, Minas Gerais, Amapá e Paraná. De acordo com número da pasta, em dezembro de 2024, 40,8% dos casos da doença foram provocados pelo DENV-3.

“As pessoas que nunca pegaram dengue estão suscetíveis a pegar qualquer tipo de sorotipo do vírus. Quando ela se infecta por um deles, ela só fica imune contra esse sorotipo, podendo ainda contrair os outros”, explica Naime. “Em São Paulo, por exemplo, está circulando o sorotipo 3, que há mais de 15 anos não circulava. Então, uma grande parte das pessoas que nunca teve contato com esse sorotipo, principalmente crianças e adolescentes, o que aumenta a vulnerabilidade da população à infecção pelo vírus da dengue”, completa.

Como se prevenir da dengue? Relembre os principais cuidados

Atualmente, uma das principais formas de se prevenir da dengue é a vacinação. Desde dezembro de 2023, a vacina contra a dengue está incorporada no Sistema Único de Saúde (SUS). O imunizante, na saúde pública, é voltado para aqueles com idade entre 10 anos e 14 anos.

Na semana passada, o Ministério da Saúde ampliou a faixa etária para receber o imunizante. Segundo a pasta, as doses com um prazo de 2 meses de validade poderão ser remanejadas para municípios ainda não contemplados pela vacinação contra dengue ou ser aplicadas em faixa etária ampliada, contemplando pessoas de 6 anos a 16 anos de idade.

Já para as vacinas que completarem 1 mês de validade, a estratégia poderá ser expandida até o limite etário especificado na bula da vacina, abrangendo a faixa etária de 4 anos a 59 anos, 11 meses e 29 dias de idade.

Além disso, outras medidas são importantes para prevenir a proliferação do Aedes aegypti e do vírus da dengue. São elas:

  • Uso de telas nas janelas e repelentes em áreas de reconhecida transmissão;
  • Remoção de recipientes nos domicílios que possam se transformar em criadouros de mosquitos;
  • Vedação dos reservatórios e caixas de água;
  • Desobstrução de calhas, lajes e ralos;
  • Participação na fiscalização das ações de prevenção e controle da dengue executadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Dengue: entenda por que circulação do sorotipo 3 preocupa

Este conteúdo foi originalmente publicado em Por que há alta de dengue todos os anos? Entenda os fatores no site CNN Brasil.

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