Vigilância em saúde aponta problemas de higiene e manutenção no Caps que recebe usuários da Cracolândia


Em novembro, durante uma vistoria feita no local, a Covisa apontou sérios problemas de higiene e manutenção na unidade. A prefeitura da capital disse que fez as adequações no Caps Redenção e informou que está procurando um novo prédio para transferir a unidade. Unidade do Caps Redenção.
Reprodução/ TV Globo
A unidade do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Redenção, que atende usuários da Cracolândia no Centro de São Paulo, foi apontado pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) da capital como “insatisfatório” por ter apresentado problemas ao atender os pacientes.
Em novembro, durante uma vistoria feita no local, a Covisa apontou sérios problemas de higiene e manutenção na unidade.
A unidade fica próxima a Praça Princesa Isabel.
O SP2 teve acesso ao relatório feito durante a vistoria. Nele, os fiscais destacaram condições higiênicas sanitárias ruins, falhas em procedimento críticos, como desinfecção de esterilização de itens e problemas no controle de medicamentos e comida.
O Caps Rendação é administrado pela Associação Filantrópica Nova Esperança, contratada pela prefeitura. A Covisa deu 45 dias para que os problemas apontados no relatório sejam resolvidos.
Segundo o promotor de Justiça da área de saúde e direitos humanos, Arthur Pinto Filho, a vistoria no Caps resultou em um auto de infração e as irregularidades refletem que tipo de atendimento é dado aos dependentes químicos em são paulo.
“Os CAPS são fundamentais no sistema de saúde mental. Se eles funcionarem bem, você tem uma situação de potência para a resolução de problemas de saúde mental, cada vez mais aparente na nossa capital. Mas, infelizmente, os nosso CAPS – são mais de 100 – eles estão muito sucateados. Faltam profissionais, às vezes o local é inadequado, os prédios não são os adequados. Nós temos CAPS na capital que sequer tem psicólogo e psiquiatra”, afirma.
Ainda segundo usuários, muitas vezes a unidade não possui profissionais para realizar atendimentos e que chegam a esperar horas por uma consulta no local.
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A prefeitura da capital disse que fez as adequações no Caps Redenção e informou que está procurando um novo prédio para transferir a unidade. Sobre a falta de profissionais, afirmou que o quadro de funcionários dos Caps está completo e que só tem uma vaga em aberto, mas já em processo de contratação.
‘Fluxo’
Segundo a Prefeitura de São Paulo, o ‘fluxo’ da Cracolândia, próximo à Avenida Duque de Caxias, nos Campos Elísios — um dos principais pontos de cenas abertas de uso de drogas na capital paulista — diminuiu em janeiro deste ano, quando comparado com o mesmo período do ano passado.
Janeiro de 2025:
158 pessoas durante o dia
232 durante a noite
Janeiro de 2024:
539 pessoas durante o dia
548 pessoas durante a noite
Apesar da diminuição da área monitorada, a reportagem encontrou usuários espalhados pela região central, em pequenos grupos na Rua do Triunfo, Avenida Rio Branco, Bom Retiro e entre as ruas dos Andradas.
Muro no ‘fluxo’
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Na principal área do fluxo monitorada pela Prefeitura de São Paulo, na Rua General Couto Magalhães, na região da Santa Ifigênia, perto da estação da Luz, foi levantado um muro de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura – que em conjunto com gradis, delimita a área da Cracolândia. O muro foi mostrado pelo g1.
Segundo a gestão Nunes, a construção, dentre outras medidas, ocorreu para melhorar o atendimento dos usuários, garantir mais segurança para as equipes de saúde e assistência social e facilitar o trânsito de veículos na região.
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Parlamentares do PSOL acionaram o STF pedindo a derrubada do muro. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, pediu, então, esclarecimentos ao governo municipal.
Em sua resposta à Suprema Corte, Nunes alegou que “a construção do muro não visou segregar, excluir ou restringir o direito de ir e vir das pessoas em situação de rua. Pelo contrário, a medida tem caráter preventivo e protetivo, buscando evitar acidentes, especialmente atropelamentos considerando o estado de extrema vulnerabilidade de muitos frequentadores da região”.
No documento, a prefeitura afirmou ainda que “a execução de ordem para destruição do muro teria efeitos e danos irreversíveis”. E acrescentou que “não procede à alegação de ‘confinamento’ de quem quer que seja” e que a obra está em “consonância com o princípio da dignidade humana”.
Histórico do governo
Problema que se arrasta há décadas na cidade de São Paulo sem solução, a Cracolândia é alvo constante de promessas por parte dos políticos.
Em sua primeira entrevista após assumir o governo do estado em 2023, Tarcísio de Freitas (Republicanos) prometeu acabar com a Cracolândia.
“A gente está conversando com a prefeitura e estaremos alinhados para dar efetividade para, por exemplo, dar habitação, fazer tratamento e tirar as pessoas das ruas dentro de uma lógica de confiança”, afirmou.
Mais tarde, em julho daquele ano, Tarcísio mudou o discurso, afirmando que iria transferir o fluxo para o Bom Retiro, também no Centro, onde fica o Complexo Prates com serviços públicos de atendimento à usuários de drogas.
“Não é simplesmente levar o fluxo e ter cena aberta de uso em outro canto da cidade. Não é isso”, disse. “Eu tenho que levar as pessoas onde eu possa ter uma abordagem mais qualificada, onde eu possa ter mais exito e tirar mais pessoas da rua. A ideia é levar as pessoas ao local onde eu tenha mais condições de fazer essa abordagem”.
Após protestos de comerciantes e moradores da região, o governo desistiu da mudança.
Em junho de 2024, a prefeitura e o governo instalaram grades na Rua dos Protestantes para delimitar o espaço dos usuários de droga.
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