Fila do SUS empurra milhões de brasileiros para a rede privada de saúde

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, intitulada “A Classe C e a Saúde: os desafios de acesso a exames e consultas”, revela que essa realidade afeta principalmente a classe C, formada por mais de 100 milhões de pessoas que ganham entre quatro e dez salários mínimos. O estudo aponta que a longa espera para marcação de consultas e exames não apenas gera frustração, mas também compromete diagnósticos e tratamentos, colocando vidas em risco. Segundo o levantamento, 94% dos entrevistados afirmam que a demora no atendimento do SUS representa um risco à vida.

A pesquisa também mostra que 72% da classe C já pagaram – ou conhecem alguém que pagou – por consultas ou exames particulares devido à fila do SUS, um reflexo da dificuldade de acesso à saúde pública. Além disso, 64% relataram piora na saúde ou conhecem alguém que passou por essa situação por conta da espera, enquanto 47% afirmaram que enfrentaram – ou conhecem quem enfrentou – doenças evitáveis por falta de atendimento em tempo hábil.

O impacto financeiro também é significativo: 38% dos entrevistados disseram que desistiram de consultas com médicos generalistas no SUS e acabaram pagando pelo atendimento, e 32% afirmaram o mesmo sobre consultas com especialistas. Com o acesso ao SUS cada vez mais difícil, muitos brasileiros acabam recorrendo a alternativas como clínicas populares, consultas avulsas e até planos de saúde com cobertura reduzida, arcando com um custo que pesa no orçamento familiar.

Diante desse cenário, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) colocou em consulta pública a proposta de um novo modelo de plano de saúde, voltado exclusivamente para consultas e exames, sem cobertura para atendimentos emergenciais ou internações. A agência reguladora estima que até 50 milhões de brasileiros podem aderir a esse tipo de plano, que será implementado de forma experimental por dois anos.

O estudo do Instituto Locomotiva reforça que a população não quer abandonar o SUS, mas enxerga na maior integração com o setor privado uma possível solução para melhorar o atendimento. Modelos híbridos e iniciativas que reduzam a burocracia no acesso à saúde podem ser caminhos para amenizar o problema. Enquanto isso, a fila do SUS continua crescendo, forçando milhões de brasileiros a buscarem alternativas por conta própria – muitas vezes às custas de sacrifícios financeiros significativos.

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