‘Saudação de Hitler’: brasileiros são alvo de xenofobia na Alemanha

No vídeo abaixo, uma brasileira relata uma agressão que sofreu na Alemanha. “Quando a gente foi entrar, que a porta ia fechar, um dos rapazes que estavam com essa família fez a saudação de Hitler para mim”, conta a mestranda Priscila Menezes.

O episódio foi durante o embarque no transporte público em Jena, onde Priscila mora há dez anos. A cidade fica no estado da Turíngia, no leste do país, onde o partido de ultradireita e anti-imigração AfD tem maioria no Legislativo. Um partido que é monitorado pelo serviço de inteligência interno da Alemanha por suspeita de extremismo. E que agora soma 20% das intenções de voto para as eleições parlamentares de 23 de fevereiro.

E Priscila acredita que esse contexto político tem a ver com a hostilidade que ela viveu. “Que existe uma ousadia maior por parte dessas pessoas que são racistas, xenofóbicas, sim, e sinceramente não me sinto mais tão à vontade como eu me sentia antes”, afirma.

Além da Turíngia, a AfD é bem forte na Saxônia. Em Pirna, nos arredores de Dresden, conversamos com o enfermeiro Jonatan Bruno da Silva . Ele está há cinco meses na Alemanha e passou por isto aqui enquanto atendia uma mulher de 68 anos: “Ela não aceitou que eu calçasse a meia compressiva dela. Porque ela disse que eu era negro. Quando a enfermeira perguntou ‘Por que não?’, ela respondeu: ‘Ele é escuro’.”

O Leste da Alemanha é uma região com uma cultura política particular.

“Esses estados perderam muita importância econômica e principalmente cidades, que eram grandes cidades industriais no mundo socialista, depois da reunificação, a competição com a parte ocidental levou a que essas cidades perdessem completamente a sua significância”, afirma o sociólogo Sérgio Costa, da Universidade Livre de Berlim .

Segundo o sociólogo, muitos alemães daqui se sentem cidadãos de segunda classe dentro do país reunificado. E costumam rejeitar o que associam ao antigo lado ocidental, como a política migratória. Por isso, o racismo e a xenofobia são elementos mais percebidos e disseminados entre a população.

“Eu vejo um risco muito grande de normalização da discriminação, da normalização do discurso de ódio, da normalização desse populismo”, diz Evelyne Leandro , da ONG Janaínas.

A nossa reportagem não conseguiu dados específicos sobre violência contra brasileiros. Mas a discriminação direcionada a estrangeiros em geral aumentou na Alemanha, segundo um relatório da Anistia Internacional. Os brasileiros com quem conversamos, não só no Leste alemão, estão apreensivos com o crescimento da ultradireita no país.

“Se eu não me sinto bem no local onde eu moro, não faz mais sentido”, afirma a intérprete e tradutora Cleusa dos Santos Knoll.

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