Caso do bolo: ‘Não parecia se enquadrar em nada’, diz médico sobre diagnóstico de família envenenada no RS


Clínico geral William Keller estava de plantão na noite em que seis pessoas da mesma família precisaram ser hospitalizadas após envenenamento por arsênio. Três morreram, em Torres. Assista ao primeiro bloco do documentário sobre o Caso do Bolo Envenenado
O início dos sintomas demorou “de dois a cinco minutos” para ser percebido pelos membros da família que comeram um bolo envenenado com arsênio em dezembro de 2024, em Torres, no Litoral Norte do RS.
📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp
De acordo com William Keller, médico que prestou atendimento à família no hospital da cidade, o relato de todos os pacientes atendidos chamou atenção pela rapidez com que começaram a sentir os problemas causados pelo veneno. Ele foi entrevistado exclusivamente pela RBS TV para o RBS.DOC – O Caso do Bolo Envenenado, transmitido na sexta-feira (21).
“O quadro do bolo foi basicamente instantâneo. É muito rápido entrar em contato e começar a manifestar os sintomas. Comeram o bolo e foi questão de dois, cinco minutos.Vários familiares relataram a mesma coisa”, explica.
Assista documentário sobre o caso que chocou o Brasil
Das três vítimas do envenenamento, Tatiana dos Anjos e Maida da Silva já haviam morrido quando Keller chegou ao plantão médico no dia 24 de dezembro. Neuza dos Anjos teria o agravamento dos sintomas horas depois de ser internada, e morreria horas mais tarde, ainda naquela noite.
Outras três pessoas foram internadas no hospital em que Keller trabalha: o marido de Neuza recebeu alta rapidamente, antes do início do plantão do clínico geral. Zeli, sogra da mulher suspeita de envenenar o bolo, ficou internada até janeiro de 2025. Uma criança de 10 anos, que também comeu o bolo, recebeu alta ainda em dezembro.
“Às 8 da manhã do dia 24, quando eu assumi, já tinham dois óbitos. E tinham mais três pacientes. Essa paciente que estava na UTI (Neuza) e dois pacientes no setor da emergência (Zeli e a criança). Já tinha sido feito contato com o Centro de Informações Toxicológicas, e eu estava tentando ver se a gente conseguia enquadrar eles numa síndrome”, explica.
“A gente tenta enquadrar o paciente em alguma síndrome. E não parecia se enquadrar em nada. É uma situação bastante crítica, porque o paciente está muito grave, e a gente não tem um diagnóstico”, afirma o médico.
Caso do bolo: William Keller, médico que atendeu a família envenenada por arsênio no RS
Reprodução/RBS TV
Deise Moura dos Anjos foi presa temporariamente no dia 5 de janeiro suspeita de envenenar a farinha utilizada no bolo. A polícia também investigava se ela matou o sogro, Paulo Luiz dos Anjos, que morreu em setembro, após consumir bananas e leite em pó levados à casa dele pela nora. Deise foi encontrada morta dentro da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, em 13 de fevereiro. A suspeita é de suicídio.
LEIA TAMBÉM
‘Neto é tudo que tenho’, diz homem que perdeu familiares
EXCLUSIVA: leia entrevista com Zeli dos Anjos
Suspeita deixou recado ‘com desabafo’, diz delegado
Como ficam as investigações após morte
FOTO: camiseta com frases escritas à mão é encontrada em cela
Demora por antídoto
De acordo com Keller, exames apontaram a presença de arsênio no bolo em 26 de dezembro, data em que os médicos solicitaram um quelante, espécie de antídoto para o veneno, ao Centro de Informações Toxicológicas. Até a chegada do produto, no entanto, os pacientes que sobreviveram foram mantidos com medidas de suporte.
“Esse quelante não é muito disponível. Teve poucos casos no Rio Grande do Sul. O quelante foi manipulado em outro estado, e demorou bastante tempo para chegar, porque é uma coisa que não está disponível nos lugares”, afirma o médico.
Quando o antídoto chegou, o menino de 10 anos já estava estável e havia recebido alta da UTI. Zeli não estava mais no hospital, e diz que iniciou o tratamento com o antídoto para o arsênio no dia 15 de janeiro, mais de 20 dias após ingerir o medicamento.
“Demorou bastante. Aí eu tomei 10 dias, né? 40 comprimidos. Como agora ainda deu muito alta a urina e já baixou no sangue, mas precisa de igual, vou tomar de novo”, disse Zeli ao documentário.
A Secretaria Estadual da Saúde disse que “logo que foi identificado o agente causador da intoxicação foi orientado imediatamente o uso do antídoto e solicitado o medicamento, porém, devido a dificuldade de conseguir o insumo utilizado e à logística para envio do medicamento, o uso do antídoto demorou alguns dias para ser realizado, mas foi o mais breve possível”.
Arraste para o lado e veja a cronologia completa do caso:

VÍDEOS: Tudo sobre o RS

Adicionar aos favoritos o Link permanente.