Cessar-fogo por um fio

A árdua batalha diplomática para selar o cessar-fogo, ainda vigente, entre Israel e o grupo terrorista Hamas levou semanas de construção e diálogo com a mediação norte-americana, egípcia e catari. A possibilidade de implementação do acordo foi fruto de um conjunto de fatores políticos internos e externos, que trouxeram, sobretudo, a antiga administração Biden e a atual administração Trump para persuadir Netanyahu a aceitar uma pausa. O plano inicial, envolve três etapas cruciais, não apenas para recuperar os reféns e proporcionar maior ajuda humanitária aos palestinos, mas também, encaminhar um fim definitivo para o conflito que coloca em estado de constante tensão a região mais geoestratégica do mundo. 

Até o momento, os prazos de libertação dos reféns foram cumpridos, mas a humilhação pública nas cerimônias organizadas pelo Hamas, tem sido interpretada como uma enorme provocação. Ao não respeitar a dignidade de inocentes que ficaram meses em cativeiro, e até mesmo enviar o corpo errado de uma das mães mortas em Gaza, o Hamas abriu precedente para que o lado mais forte se irasse e buscasse formas de quebrar o cessar-fogo. Até agora, os israelenses apenas retardaram a libertação de 600 prisioneiros palestinos na última semana, como uma amostra de sua insatisfação pelo tratamento dado aos reféns e às peças publicitárias jihadistas produzidas com os mesmos nas cerimônias na Faixa de Gaza. Algo que ficou evidente nas imagens que circularam o mundo é que o grupo terrorista, por mais que esteja fragilizado e em menor número, ainda possui grande força política dentro do enclave, além de armamentos pesados, demonstrando que estariam prontos para continuar a lutar.

A constatação global que o Hamas ainda vive e dita as regras em Gaza é um enorme sinal de fraqueza de Benjamin Netanyahu, que tem ciência que seus objetivos militares não foram alcançados com essa guerra. Se de um lado o premiê precisava urgentemente dar uma resposta interna positiva, por parte dos familiares dos reféns que clamavam por um acordo, por outro há milhões de israelenses decepcionados com seu governo ao ver as capacidades militares do Hamas. A pressão americana, em dezembro e janeiro, também foi crucial para persuadir Netanyahu, mas a nova face da política externa de Donald Trump mostrada nas últimas duas semanas pode ser grande indicativo que Israel teria a ajuda necessária do seu mais fiel aliado, caso a guerra fosse retomada agora.

Dois pontos de lançamentos de foguetes em Gaza foram alvo de um bombardeio israelense, segundo a imprensa local, algo que não quebrou o cessar-fogo de forma definitiva, mas nos deu a certeza que o atual acordo está em vigor por um fio. A fase dois, inicialmente proposta para que houvesse o retorno de todos os reféns remanescentes à casa, e a guerra tivesse seu final encaminhado, não foi discutida a fundo. A falta de movimentações diplomáticas neste momento em que a fase um se aproxima do fim, enfatiza que a chance de as hostilidades recomeçarem é grande.

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Donald Trump, busca finalizar a guerra da Ucrânia em tempo recorde para colher os frutos políticos econômicos desta manobra ainda no primeiro semestre de 2025. Enquanto isso, sabe que desestabilizar seu principal inimigo no Oriente Médio, o Irã, levará mais tempo. Talvez, o retorno da guerra na Faixa de Gaza, em breve, seja apenas o prelúdio de outros planos pensados em Washington para o completo reposicionamento global nas questões geopolíticas e econômicas. Seja qual for o resultado, a chance de paz duradoura para israelenses e palestinos parece continuar sendo muito baixa, infelizmente.

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