Ajuda à Ucrânia coloca Europa diante de encruzilhada

"StarmerLíderes europeus se reuniram em Londres para discutir o apoio futuro à Ucrânia. Há ideias concretas, mas continua em aberto como envolver os EUA, cujo apoio segue sendo considerado indispensável.Trata-se de um “momento único” para a segurança da Europa, enfatizou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ao iniciar uma cúpula informal no palacete Lancaster House, em Londres, neste domingo (02/03).

À esquerda dele estava o presidente francês, Emmanuel Macron; à direita, o ucraniano, Volodimir Zelenski. Também presentes estavam chefes de Estado e de governo europeus, os principais representantes da União Europeia (UE), o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, o ministro do Exterior da Turquia, Hakan Fidan, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. Todos estavam cientes da gravidade da situação.

A cúpula de domingo já estava marcada mesmo antes do desentendimento público entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e Zelenski, na sexta-feira anterior. Em reação ao bate-boca, muitos chefes de Estado e de governo europeus garantiram sua solidariedade à Ucrânia. Na cúpula em Londres, eles discutiram o que isso significará na prática.

Mais ajuda militar à Ucrânia

O importante é colocar a Ucrânia na posição mais forte possível, destacaram. Starmer enfatizou após a reunião que nada muda no apoio militar à Ucrânia e na pressão econômica sobre a Rússia. Ele anunciou que disponibilizará ao país agredido 1,6 bilhão de libras (R$ 12 bilhões) para a compra de mais de 5 mil mísseis antiaéreos fabricados no Reino Unido. Na véspera, o país assinara um empréstimo de 2,2 bilhões de libras para a Ucrânia, garantido por fundos russos congelados.

Os líderes reunidos também destacaram que é necessário garantir que a Ucrânia seja capaz de se defender no longo prazo, mesmo depois da paz. Ou, nas palavras da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen: a nação deve se tornar um “porco-espinho de aço indigesto para potenciais agressores”.

Para o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, um fator-chave para a paz na Ucrânia é a capacidade de defesa do país e a existência de um exército forte. “Ele terá que permanecer grande mesmo em tempos de paz – muito além do potencial econômico da Ucrânia.” Além disso, demandas russas, como a instalação de um governo pró-Rússia ou a desmilitarização da Ucrânia, não devem ser atendidas.

Uma “coalizão dos dispostos”

Já antes da reunião, Starmer anunciara na BBC que estava trabalhando com a França para, juntamente com mais um ou dois outros países, elaborar um plano com a Ucrânia para acabar com os combates. Esse plano deveria depois ser levado aos EUA. Segundo o premiê britânico, as tratativas estariam “no caminho certo”.

Também foi acordado que o plano de paz, qualquer que seja, deve garantir a soberania e a segurança da Ucrânia. E os ucranianos devem participar das negociações. Uma “coalizão dos dispostos” deverá garantir a manutenção da paz, e a reunião de domingo teve por objetivo unir os demais países em torno disso, observou Starmer.

Reino Unido e França se declararam publicamente dispostos a enviar tropas à Ucrânia para garantir um possível acordo de paz. Segundo o primeiro-ministro britânico, outros países também demonstraram disposição, mas cabe a cada governo falar publicamente sobre isso.

Nada é possível sem os EUA

No entanto, também ficou claro que nada disso é possível sem a ajuda dos Estados Unidos. Starmer defendeu que a Europa assuma a maior parte do fardo, mas, para serem bem-sucedidos, esses esforços precisam do forte apoio americano.

Em especial, trabalha-se com os EUA para garantir um acordo de paz. A ideia de um “backstop” – ou seja, de uma intervenção dos americanos em caso de emergência – está sendo discutida, disse o premiê britânico. Trump ainda não se posicionou sobre a questão.

A defesa europeia também depende fundamentalmente da cooperação com os Estados Unidos em outras áreas, como logística e informações de inteligência. O chanceler federal alemão enfatizou que a reunião foi “muito boa” e que todos concordaram que a cooperação transatlântica continuará sendo importante também no futuro.

Ainda não está claro, para os participantes, como o relacionamento entre a Ucrânia e os EUA pode ser reatado após o desentendimento mais recente. Antes da reunião, o secretário-geral da Otan declarou à BBC que pedira a Zelenski uma maneira de restaurar as relações com Trump. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, propôs uma cúpula entre os EUA e os europeus, mas até a noite de domingo não havia mais notícias a esse respeito.

Também a Europa precisa se armar

Após a reunião, Von der Leyen, declarou que na próxima cúpula da UE, em 6 de março, pretende apresentar,um plano sobre como rearmar a Europa, o que classificou como uma necessidade urgente.

Há uma discussão dentro da UE sobre como financiar esse rearmamento em tempos de orçamentos apertados. O valor que já está sobre a mesa há algum tempo é de 500 bilhões de euros para os próximos dez anos. Os países-membros precisam de um espaço de manobra fiscal maior, enfatizou Von der Leyen. Semanas atrás, na Conferência de Segurança de Munique, ela já havia defendido flexibilizar as regras de endividamento da UE para elevar os gastos militares.

Scholz lembrou que também a ajuda de longo prazo à Ucrânia seria custosa para os europeus e representaria “desafios significativos” aos orçamentos.

Starmer concluiu anunciando que os líderes voltarão a se encontrar dentro de algumas semanas. Segundo ele, a Europa está numa encruzilhada histórica: “Este não é um momento para mais palavras. É hora de agir. É hora de dar um passo à frente, liderar e se unir em torno de um novo plano para uma paz justa e duradoura.”

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