O que Gabriel Galípolo pensa sobre a política de juros do BC

Gabriel Galípolo, indicado nesta quarta-feira (28) pelo governo federal à presidência do Banco Central (BC), virou foco de atenção do mercado financeiro nas últimas semanas pelas falas sobre possível aumento dos juros.

Em diversas oportunidades, o atual diretor de Política Monetária pontuou que o aumento da Selic está na mesa do BC, o que levou parte do mercado a apostar um movimento para cima já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para setembro.

Desde maio, a taxa está em 10,5% ao ano.

No último dia 12, Galípolo sinalizou que a alta dos juros estava nas discussões do BC, apesar de ressaltar que a declaração não era uma espécie de guidance, como são chamadas as indicações dos próximos passos da autoridade monetária.

“Isso não é a realidade do diagnóstico do Copom. A alta está na mesa, sim, do Copom, e a gente quer ver como isso vai se desdobrar”, disse.

As falas do diretor de Política Monetária, que era a principal aposta do mercado para assumir o comando do BC, foi endossada pelo próprio presidente da autarquia monetária, Roberto Campos Neto, trazendo ainda mais expectativas pela volta do ciclo de alta da Selic.

“Elevaremos a taxa de juros se for necessário”, disse o presidente em participação no evento Barclays Day, promovido pelo Banco Barclays, no último dia 16.

Na última quinta-feira (22), Galipolo voltou a apontar que o BC não vai hesitar em subir os juros se a medida for necessária para entregar a inflação dentro da meta.

“Eu espero que a gente tenha conseguido deixar claro que, a partir do cenário que nós temos hoje, a alta de juros está na mesa, sim, e que o Banco Central não vai hesitar, se for necessário, a perseguição da meta, fazer uma elevação de juros”, ele disse, em um evento da Fundação Getulio Vargas (FGV).

No mesmo dia, o diretor de Política Monetária buscou diminuir a fervura das expectativas do mercado pela alta dos juros, afirmando que o BC não estava encurralado em subir a Selic.

Ele ainda reafirmou as declarações recentes feitas por ele sobre aumentar os juros se necessário e disse que “posição difícil para o BC não é subir juros, mas a inflação fora da meta”.

“Nesse sentido, eu discordo da interpretação de quem acha que as minhas falas recentes podem colocar o BC num corner do ponto de vista do que será feito em política monetária”, disse em participação no 32º Congresso e ExpoFenabrave.

Votos no Copom

Gabriel Galípolo foi aprovado à diretoria de Política Monetária do BC em 4 de julho do ano passado, e desde então participou de nove reuniões do Copom.

O seu primeiro voto no colegiado foi no encontro encerrado em 2 de agosto, que marcou o início do ciclo de queda dos juros pelo BC. À época, a Selic estava em 13,75% ao ano e passou para 13,25% — corte de 0,5 ponto.

Nas seis reuniões seguintes, o voto seguiu o mesmo: a favor do ciclo de queda da taxa de juros no ritmo de 0,5 ponto, o consenso entre os membros do colegiado. Ao fim deste ciclo, a Selic ficou em 10,75%.

A situação mudou no encontro encerrado em 8 de maio deste ano, quando o Copom mostrou divergência na decisão. Os quatro diretores indicados por Lula — incluindo Galípolo — votaram por manter o passo visto até então.

Por outro lado, os cinco remanescentes nomeados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro — entre eles, Campos Neto —, optaram por diminuir o ritmo para redução de 0,25 ponto.

A maioria venceu, e a Selic recuou para 10,5%. A decisão “rachada” do BC acendeu alertas no mercado do risco de maior leniência do BC com a inflação a partir de 2025, quando os indicados pelo atual governo petista seria maioria.

A autarquia tirou parte da pressão ao divulgar a ata na semana seguinte, afirmando que a discordância dos votos na reunião do colegiado não se deu pela leitura de cenário, ou dos fatores que podem promover alta ou queda da inflação, e sim por uma questão “reputacional” de se mudar o compromisso que havia sido assumido no encontro de março.

A unanimidade do Copom retornou na reunião seguinte, com o colegiado concordando em parar o ciclo de queda e manter os juros em 10,5% ao ano, movimento que foi repetido no último encontro, no fim de julho.

Indicação ao BC

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou oficialmente a indicação do governo de Gabriel Galípolo como novo presidente do Banco Central (BC).

“É uma honra, um prazer e uma responsabilidade imensa ser indicado à presidência do Banco Central do Brasil pelo ministro Fernando Haddad e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É uma honra enorme, uma grande responsabilidade e eu estou muito contente”, disse Gabriel Galípolo na ocasião.

Haddad também comentou que, a partir deste anúncio, o governo agora vai trabalhar para escolher os três nomes que vão compor as diretorias do BC.

Isso porque, além do cargo em política monetária — que ficará vago ao Galípolo assumir a presidência do BC, caso seja aprovado —, outras duas vagas serão abertas por conta do fim de outros mandatos: dos diretores de Regulação, Otávio Ribeiro Damaso, e de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta, Carolina de Assis Barros.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em O que Gabriel Galípolo pensa sobre a política de juros do BC no site CNN Brasil.

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