Ex-servente de pedreiro ajuda o Brasil a tentar vaga decisiva no Mundial de beisebol

Aos cinco anos, o pequeno Osvaldo Carvalho Júnior, de Marília, passou pelo episódio que mudaria sua vida. Pequenos bilhetes e cartazes de divulgação do beisebol, entregues na escola em que o jovem estudava, definiriam o futuro do brasileiro. Hoje, aos 23 anos, colhe os impactos dessa decisão: ao lado da delegação brasileira, busca a vaga da seleção no Mundial de Beisebol, contra a Alemanha, nesta quinta-feira, a partir das 22h (de Brasília), com transmissão do Disney+ no streaming.

No país do futebol, Osvaldo se encantou por uma bola com um diâmetro três vezes menor. E mesmo sem incentivo, não desistiu de seguir os caminhos do beisebol. Até o último ano, se dividia entre o trabalho de servente de pedreiro, de segunda a sexta-feira, com a rotina dos treinamentos. Nunca ganhou um centavo sequer com o esporte.

“Jogo porque amo o beisebol, amo esse esporte”, afirma, ao Estadão, enquanto se prepara para a decisão que pode dar uma vaga ao Clássico Mundial de Beisebol (WBC, na sigla inglês) pela primeira vez desde 2013. Na ocasião, a seleção brasileira perdeu as três partidas que disputou, contra Japão, Cuba e China.

Este ano, no entanto, pode ser diferente. E a história de Osvaldo inspira o sucesso da seleção. Explica-se: como um jogador utilitário – que exerce mais de uma função em campo -, o jogador pode se classificar como um faz-tudo para a equipe. Atuando tanto como defensor interno e externo, é um dos destaques da seleção por atuar, durante toda a sua vida, por apenas um objetivo: jogar no esporte que ama.

Diferentemente de outros nomes da seleção, Osvaldo tem o beisebol como o amador. Outros nomes, como Lucas Ramirez, filho Manny, ex-jogador da Major League Baseball (MLB), receberam oportunidades profissionais – o brasileiro chegou a ser draftado pelo Los Angeles Angels – ou disputaram o high school, semelhante ao Ensino Médio, em uma escola americana. Não é o caso de Osvaldo.

Hoje treinador do Nikkey Marília, clube que o lançou no esporte, faz parte de uma das gerações mais vitoriosas do beisebol brasileiro. Campeão do Sul-Americano de 2022 e medalha de prata no Pan-Americano de 2023, em Santiago, perdeu apenas uma partida nas Eliminatórias da WBC, contra a Colômbia – que já havia sido algoz da seleção no Pan, há dois anos, e já está garantida no Mundial.

Quando disputou o Pan-Americano, ainda trabalhava como servente, durante cinco dias da semana. Batia concreto de dia para treinar a noite. Em março de 2024, deixou a profissão. Desde então, venceu, pelo Nikkey Marília, a Taça Brasil de beisebol, eleito jogador mais valioso (MVP) do torneio. Sem ganhar financeiramente com o esporte.

“Muitas empresas poderiam ajudar bastante para podermos ter um beisebol profissional no Brasil. Porque atleta tem, só não tem o incentivo e a ajuda financeira”, conta Osvaldo. No último ano, a seleção brasileira foi vice-campeã sul-americana. “É uma alegria, estar junto com os amigos e poder fazer história novamente.”

Para se garantir na fase final da WBC, o Brasil precisa apenas vencer a Alemanha, em Tucson, no Arizona. Nesta semana, a seleção já venceu os europeus, por 9 a 7, e precisa dessa última vitória para retornar à competição. A Copa do Mundo do beisebol será disputada em 2026, em Porto Rico, Japão e EUA, entre 16 seleções. No país do futebol, é o beisebol quem pode dar mais uma alegria ao esporte brasileiro.

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