Financiamento climático posto em xeque à medida que doadores reduzem ajuda

Nuvens carregadas pairam sobre as promessas das nações ricas de financiar a luta contra a mudança climática nos países mais pobres, em meio à pressão para cortar orçamentos de ajuda ao desenvolvimento.

As nações mais ricas prometeram na cúpula da ONU COP29, em novembro, aumentar os gastos com ações climáticas nos países em desenvolvimento para US$ 300 bilhões (R$ 1,74 trilhão) por ano até 2035, um valor considerado muito insuficiente.

Desde então, o presidente Donald Trump congelou as contribuições dos Estados Unidos para o fundo global e retirou-se de um acordo de financiamento para ajudar os países em desenvolvimento a fazer a transição para energias limpas, entre outras iniciativas.

O Reino Unido cortou a ajuda externa para aumentar os gastos com defesa, após uma série de medidas semelhantes tomadas por governos europeus.

Diplomatas e analistas dizem que ainda não está claro onde serão os cortes, mas há temores de que o dinheiro destinado ao financiamento climático possa estar em risco.

Laetitia Pettinotti, economista do instituto ODI Global, disse à AFP que os sinais não são bons e que cortes podem ser esperados. “É muito difícil prever de onde virá o dinheiro”, disse.

– Caminho difícil –

Com os Estados Unidos interrompendo abruptamente sua ação para o clima, as expectativas se voltaram principalmente para a União Europeia, historicamente o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa e o maior contribuinte para o financiamento climático.

Mas o bloco de 27 nações está sob pressão orçamentária, em meio a uma guerra tarifária com os Estados Unidos e à necessidade de aumentar os gastos militares.

Nas últimas eleições, populistas de direita hostis às políticas climáticas ganharam espaço em todo o continente.

França, Alemanha, Países Baixos, Bélgica e Reino Unido anunciaram recentemente cortes em ajudas à medida que as prioridades econômicas e de segurança mudam e as pressões orçamentárias se intensificam.

A UE “precisa encontrar uma nova maneira de priorizar seus recursos limitados, por razões muito legítimas”, disse Li Shuo, analista sobre clima do ‘Asia Society Policy Institute’.

“Isso tornará a discussão sobre financiamento climático muito difícil”.

– “Tendências preocupantes” –

O Azerbaijão, que sediou a cúpula da COP29, onde o acordo de US$ 300 bilhões foi negociado, busca garantias em uma reunião de dois dias entre negociadores para o clima em Tóquio, que começa nesta quinta-feira.

Yalchin Rafiyev, o principal diplomata para o clima do país, disse que perguntaria às nações desenvolvidas se os cortes afetariam o dinheiro “que estavam pensando ou planejando alocar para o clima ou não”.

“Ainda não temos certeza. Não ouvimos nenhum corte concreto nos fundos para o clima de nenhuma das partes. Apenas vimos algumas tendências preocupantes”, disse à AFP.

O Brasil, que sediará a cúpula COP30 deste ano, disse que analisa maneiras de arrecadar as somas necessárias para que os países em desenvolvimento abandonem os combustíveis fósseis e se adaptem ao aquecimento global.

Segundo especialistas independentes, esses países, excluindo a China, precisarão de US$ 1,3 trilhão ( R$ 7,57 trilhões) em assistência externa anual até 2035 para atender às suas necessidades climáticas.

Em virtude do Acordo de Paris, os países desenvolvidos, que têm a maior responsabilidade pelo aquecimento global até o momento, são obrigados a pagar pelo financiamento climático, mas outros países fazem suas próprias contribuições voluntárias.

“O financiamento climático para países em desenvolvimento já era insuficiente, mas os cortes recentes nos orçamentos de ajuda externa representam um novo desafio”, disse a Presidência da COP30 em uma declaração escrita à AFP.

np/jj/jz/zm/jc/aa

Adicionar aos favoritos o Link permanente.