Módulo Blue Ghost conclui a primeira missão comercial bem sucedida na Lua

A Firefly Aerospace, empresa com sede no Texas que realizou um pouso lunar impecável com sua espaçonave Blue Ghost no início deste mês, declarou o fim da missão histórica após alcançar “100%” de seus objetivos. O feito marca a primeira operação comercial “totalmente bem-sucedida” na Lua, afirmou a empresa nesta segunda-feira(17).

O Blue Ghost, um módulo robótico de quatro pernas aproximadamente do tamanho de um carro pequeno, passou duas semanas operando no lado visível da Lua. O local de pouso ficava próximo a uma antiga formação vulcânica chamada Mons Latreille, localizada ao norte do equador lunar.

A espaçonave permaneceu sob a luz do Sol durante a maior parte da missão, até que o anoitecer lunar trouxe a escuridão ao local de pouso neste domingo (16). No entanto, o veículo conseguiu cumprir um dos principais objetivos da missão, continuando a operar por cerca de cinco horas após o pôr do sol, graças à energia fornecida por suas baterias.

Durante as operações, o módulo transmitiu um total de aproximadamente 120 gigabytes de dados — o equivalente a mais de 24 mil músicas — de volta à Terra.

Entre suas atividades estavam a captação do sinal de GPS mais distante já recebido, o uso de um dispositivo a vácuo para coletar e separar poeira lunar e a implantação de uma perfuratriz para medir temperaturas do solo.

O controle da missão da Firefly recebeu o sinal final do Blue Ghost por volta das 20h15 (horário de Brasília) neste domingo, segundo a empresa.


Esta imagem foi capturada pelo módulo de pouso Blue Ghost da Firefly durante o pôr do Sol lunar, com a Terra visível como um crescente no horizonte
Esta imagem foi capturada pelo módulo de pouso Blue Ghost da Firefly durante o pôr do Sol lunar, com a Terra visível como um crescente no horizonte • Firefly Aerospace

“Esta conquista marca as operações comerciais mais longas na Lua até o momento”, disse a Firefly em um comunicado.

O módulo de pouso Blue Ghost também enviou uma mensagem de despedida antes de entrar no “modo monumento”, referência ao fato de que ele permanecerá inativo na superfície lunar por tempo indeterminado.

“Detecção de mudança no modo de missão, agora em Modo Monumento; Boa noite, amigos”, dizia a mensagem da espaçonave, de acordo com uma publicação da Firefly na plataforma X, antigo Twitter.

“Vou manter vigília neste ponto em Mare Crisium para observar a contínua jornada da humanidade rumo às estrelas. Aqui, durarei mais do que seus rios mais poderosos, suas montanhas mais altas e talvez até sua espécie como a conhecemos”, continuava a mensagem. “Mas é notável que uma espécie possa ser superada por sua própria engenhosidade. Aqui jaz o Blue Ghost, um testemunho da equipe que, com o apoio amoroso de suas famílias e amigos, construiu e operou esta máquina e suas cargas úteis.”

A missão histórica do Blue Ghost na Lua

Operar durante a noite lunar é um grande desafio, pois as temperaturas na superfície podem variar drasticamente, de 121 graus Celsius durante o dia para até -173 graus Celsius à noite.

Com a chegada da noite lunar, o Blue Ghost deveria capturar vídeo em 4K do brilho do horizonte lunar. Durante esse fenômeno, que já foi observado por astronautas da Apollo, partículas de poeira lunar parecem levitar ao redor do pôr do sol.

A Nasa e a Firefly planejam compartilhar essas observações em uma coletiva de imprensa marcada para terça-feira (18), às 15h.

Além disso, o Blue Ghost testemunhou um eclipse a partir da superfície lunar na semana passada. O evento projetou a sombra da Terra sobre a Lua, mergulhando brevemente o módulo na escuridão. No entanto, o explorador robótico conseguiu registrar o impressionante “efeito anel de diamante”, quando o Sol reapareceu por trás do nosso planeta.

Da Terra, esse eclipse pôde ser visto como uma “lua de sangue”, deixando nosso vizinho celeste mais próximo com uma tonalidade avermelhada-alaranjada.


Blue Ghost capturou esta imagem do "efeito anel de diamante" que ocorre durante eclipses quando a luz solar ilumina apenas o anel externo de um corpo planetário; tal fenômeno é visto durante eclipses solares totais na Terra, mas aqui é capturado quando a Terra eclipsa a visão do sol da superfície da Lua
Blue Ghost capturou esta imagem do “efeito anel de diamante” que ocorre durante eclipses quando a luz solar ilumina apenas o anel externo de um corpo planetário; tal fenômeno é visto durante eclipses solares totais na Terra, mas aqui é capturado quando a Terra eclipsa a visão do sol da superfície da Lua • Firefly Aerospace

Fracassos de outros módulos lunares privados

A Firefly chamou sua missão de “o primeiro pouso comercial totalmente bem-sucedido na Lua” da história. O título faz referência à empresa Intuitive Machines, também do Texas, cujo módulo Odysseus se tornou, no ano passado, a primeira espaçonave comercial a pousar suavemente na Lua. No entanto, a nave aterrissou de lado, o que gerou desafios significativos de comunicação e levou a uma conclusão prematura da missão.

O segundo módulo da Intuitive Machines, Athena, pousou na Lua apenas alguns dias depois do Blue Ghost, mas teve um destino semelhante, ficando tombado próximo ao polo sul lunar. Ambos os locais de pouso da empresa estavam na desafiadora região sul da Lua, repleta de crateras de impacto e outros obstáculos.

Várias companhias comerciais — incluindo a Astrobotic Technology, dos Estados Unidos, a Ispace, do Japão, e a SpaceIL, de Israel — tentaram e falharam anteriormente ao tentar pousar suavemente veículos na Lua.

Por décadas, esse tipo de missão foi considerado tecnologicamente exigente demais e caro para o setor privado.

Tanto a Intuitive Machines quanto a Firefly enviaram seus módulos lunares sob o programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS) da Nasa, que busca incentivar o setor empresarial a investir na exploração lunar.

A Firefly recebeu um contrato de preço fixo de 101,5 milhões de dólares (cerca de R$ 579 milhões) para essa missão.

Por meio do programa Commercial Lunar Payload Services, a Nasa espera estabelecer uma frota de espaçonaves desenvolvidas pelo setor privado que possam explorar roboticamente a superfície lunar de forma relativamente rápida e econômica, antes do retorno dos astronautas à Lua ainda nesta década.

“Nossa equipe pode parecer mais jovem e menos experiente do que muitas nações e empresas que tentaram pousos lunares antes de nós, mas o apoio mútuo que temos é o que impulsiona o trabalho árduo e a dedicação para encontrar cada solução que tornou essa missão um sucesso”, disse Will Coogan, engenheiro-chefe do Blue Ghost, em um comunicado à imprensa.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Módulo Blue Ghost conclui a primeira missão comercial bem sucedida na Lua no site CNN Brasil.

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