Venezuela anuncia repatriações dos EUA em meio à crise migratória de Trump

A Venezuela concordou, neste sábado (22), em retomar os voos de deportados pelos Estados Unidos, suspensos há um mês, enquanto os governos dos dois países se acusam mutuamente de boicotar um acordo sobre o assunto alcançado em janeiro.

O anúncio chega uma semana após a deportação de 238 venezuelanos para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), uma prisão de segurança máxima em El Salvador, um incidente que o presidente Nicolás Maduro chamou de sequestro.

O ritmo das deportações foi questionado pelo governo Trump, que em represália revogou a licença de operação da petroleira americana Chevron na Venezuela.

Caracas, por sua vez, afirmou na quinta-feira que o Departamento de Estado americano estava “bloqueando” voos de repatriação para o país caribenho.

“Entramos em acordo para retomar, com o governo dos EUA, a repatriação de migrantes venezuelanos com um voo inicial amanhã, domingo, 23 de março”, disse o negociador-chefe do governo venezuelano, Jorge Rodríguez, em um comunicado.

Os dois países romperam relações diplomáticas em 2019, durante o primeiro governo Trump, que impôs um embargo ao petróleo após considerar fraudulenta a primeira reeleição de Maduro em maio de 2018.

Washington também não reconheceu a proclamação de Maduro para um terceiro mandato após as eleições de julho de 2024, denunciadas como fraude pela oposição que reivindicou a vitória do exilado Edmundo González Urrutia.

“Já amanhã, graças à perseverança, à persistência do nosso governo, retomaremos os voos para seguir resgatando e libertando migrantes das prisões dos Estados Unidos, vamos resgatar um grupo de rapazes amanhã e na outra semana, e na outra”, disse Maduro neste sábado.

Os Estados Unidos acusam os venezuelanos levados para El Salvador de pertencerem à temida gangue Tren de Aragua, que surgiu na Venezuela e foi declarada organização terrorista por Trump.

– “Migrar não é crime” –

Para as deportações dos venezuelanos para El Salvador, o presidente americano invocou uma lei de 1798 que permite a expulsão de “inimigos estrangeiros” sem julgamento. Caracas alega ser “anacrônica”.

Trump negou ter assinado a invocação na sexta-feira, horas depois de o juiz James Boasberg, que suspendeu a expulsão de migrantes ordenada pelo governo, ter chamado as implicações do uso de uma lei de guerra de 1798 de “inacreditavelmente problemáticas”.

“Não sei quando foi assinada porque eu não assinei. Outras pessoas o fizeram”, disse Trump, sugerindo que seu secretário de Estado, Marco Rubio, era o responsável por assinar a ordem.

Também na sexta, o governo Trump anunciou que vai revogar o status legal nos Estados Unidos para cerca de 532.000 cubanos, haitianos, nicaraguenses e venezuelanos que chegaram aos Estados Unidos sob um plano lançado por seu antecessor, Joe Biden.

Os afetados vão perder a proteção legal 30 dias após a ordem do Departamento de Segurança Nacional ser publicada no Registro Federal.

O programa humanitário para cubanos, haitianos, nicaraguenses e venezuelanos, conhecido como CHNV pelas iniciais dos países, em vigor desde janeiro de 2023, permitia a entrada aos Estados Unidos durante dois anos de até 30.000 imigrantes por mês procedentes dos quatro países.

O governo Maduro denuncia uma campanha para criminalizar a migração que, segundo a ONU, levou para fora de seu país mais de 7,5 milhões de venezuelanos desde 2014. Também nega que integrantes do Tren de Aragua estivessem entre os deportados para El Salvador.

“Migrar não é crime e não descansaremos até garantir o retorno de todos que requeiram e resgatar nossos irmãos sequestrados em El Salvador”, acrescentou o comunicado.

Familiares dos deportados para El Salvador entrevistados pela AFP disseram que esse grupo de migrantes recebeu ordem de deportação para a Venezuela e foi transferido por engano para o Cecot.

“Vai chegar o momento em que resgataremos os rapazes sequestrados, desaparecidos sem ter cometido crimes nem nos Estados Unidos e muito menos em El Salvador, sequestrados em campos de concentração nazistas”, disse Maduro, neste sábado, durante um ato oficial em La Guaira (norte).

Desde fevereiro, cerca de 900 venezuelanos foram repatriados, quase 400 deles dos Estados Unidos e o restante do México, onde ficaram retidos.

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