Filho de Elis Regina celebra show esgotado: “Atravessou portais do tempo”

A cantora Elis Regina, que morreu em 1982, ganha o show Elis 80 em homenagem ao seu aniversário de 80 anos. Com ingressos esgotados mais de 40 anos após a morte da artista, o evento ocorre nesta sexta (28), no Espaço Unimed, para cerca de três mil pessoas.

João Marcello Bôscoli, produtor musical e filho da cantora, organiza o Elis 80 e traz artistas que trabalharam com ela ao centro do palco. Entre eles, João Bosco, Fagner e Ivan Lins — Pedro Mariano, 49, um dos filhos da intérprete brasileira, também participa do espetáculo.

Em conversa com a CNN, o produtor comentou sobre os ingressos esgotados e relembrou o medo da mãe ser esquecida depois da morte precoce, aos 36 anos, em 19 de janeiro de 1982. Ele tinha somente 11 anos na época.

“Fico muito feliz [pelo medo da mãe ser esquecida não ter se concretizado] porque, para quem já partiu há 43 anos, marcar um show onde as pessoas sabem que ela não vai estar fisicamente presente e esse show esgotar assim… Claro, tem o nome desses artistas todos que estarão presentes, mas sempre é motivo de muita alegria e sempre algum grau de surpresa“, comentou o empresário sobre a apresentação.

Para ele, a voz e personalidade de Elis Regina se tornaram transcendentais, conquistando, inclusive, as novas gerações. “É muito bom saber que ela conseguiu atravessar esses portais do tempo, que se fecham e se abrem de vez em quando”, disse Bôscoli.

A “grande visão de mundo” de Elis Regina, segundo o empresário, é um dos motivos para esse sucesso mesmo décadas depois da morte da cantora. “Ela tinha uma noção empírica para onde as coisas estavam indo”, pontuou.

A identificação das novas gerações com Elis Regina também vem, na opinião de Bôscoli, pelas poucas mudanças sociais, no Brasil e no mundo, desde a década de 1980.

“As grandes questões que ela tratou continuam aí, mostrando que tem um pouco da visão futurista dela, mas também um pouco das coisas não terem caminhado como poderiam em alguns campos: nunca imaginei que, em 2025, a gente ainda teria a guerra [por exemplo]”, completou.

Como será o Elis 80?

O espetáculo conta com um roteiro baseado nas parcerias de Elis com outros artistas, como Ivan Lins, que deve tocar “Me Deixa em Paz” e “Madalena”; João Bosco deve apresentar “O Bêbado e A Equilibrista” e “Bala Com Bala”; Fagner, “Mucuripe” e “Noves Fora”; e Pedro Mariano, “Casa no Campo”.

João Bôscoli, que começou a organizar o Elis 80 no final do ano passado, não conseguiu contar com a presença de Gilberto Gil, 82, que também trabalhou com a artista, devido à turnê de despedida dele dos palcos. O produtor também tentou levar Milton Nascimento, 82, mas sem sucesso. “Não daria para ele ir”, disse.

O palco do Elis 80 também exibe objetos pessoais da artista, com as roupas mais conhecidas de Elis Regina. “Como tem muito material, é sempre difícil [escolher], porque você tem um número de renúncias maior do que de escolhas para serem feitas”, disse João sobre o processo de curadoria para o show.

Outro destaque do Elis 80 é a tecnologia aplicada no catálogo da artista. Com o uso da inteligência artificial, a voz da intérprete brasileira aparece com áudios limpos de apresentações e entrevistas, que continham, por exemplo, ruídos. O show conta com versões a capella e também acompanhadas por uma banda.

“O estúdio e o palco são os habitats naturais da artista. Só que ela passou muito mais tempo no palco do que gravando discos. Ela gravava os discos em três ou cinco dias, em uma semana ou duas. Nos shows, ela ficava o ano inteiro — às vezes mais de um ano, como é o caso [da turnê de] ‘Falso Brilhante’”, relembrou o empresário.

À CNN, João Bôscoli também disse que não usarão holografia no Elis 80 — e nem em outros shows. “É mágico você pensar que, no auge da tecnologia, o que a gente precisa fazer para sentir a Elis presente numa sala de apresentações, num teatro, num lugar como o Unimed, é fechar os olhos“, completou.

A reportagem tentou contato com a equipe de Maria Rita, 47, filha mais nova de Elis Regina, para tentar entender o porquê ela não comparecerá ao evento, mas não teve retorno até o momento desta publicação. Em entrevista à revista IstoÉ, João Bôscoli afirmou ser por uma questão de agenda. O espaço segue aberto e será atualizado quando tiver uma resposta.

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