Isolamento, vexame contra a Argentina: o que fez Dorival ser demitido da Seleção

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) decidiu na sexta-feira, 28, encerrar a passagem frustrante de Dorival Júnior pela Seleção masculina.

O ponto de ruptura veio na derrota histórica contra a Argentina, por 4 a 1, em Buenos Aires, mas a decisão foi municiada por uma sequência de desempenhos ruins desde a Copa América de 2024, disputada nos Estados Unidos, como a IstoÉ explica neste texto.

Os números

Dorival Júnior comandou a Seleção brasileira em 16 jogos, com sete vitórias, sete empates e duas derrotas, e um aproveitamento de 58,3%.

O Brasil teve 10 treinadores efetivos no século 21, e o desempenho do técnico supera apenas os conquistados nas passagens de Emerson Leão, em 2001, e Fernando Diniz, em 2023, que foram mais curtas — duraram nove e seis jogos, respectivamente.

Passo a passo da queda

A CBF tirou Dorival do São Paulo, onde ele havia sido conquistado o título inédito da Copa do Brasil em 2023, no início de 2024, após passagens interinas de Ramon Menezes e Diniz pelo cargo e uma tentativa frustrada de tirar o italiano Carlo Ancelotti do Real Madrid, da Espanha. O brasileiro, portanto, nunca foi o “plano A” da canarinho.

Em contraposição a um retrospecto ruim desde que a Copa do Mundo de 2022 terminou, com eliminação para a Croácia nas quartas de final, o início do trabalho do ex-são paulino até foi animador, com uma vitória contra a Inglaterra, por 1 a 0, e um empate em 3 a 3 com a Espanha.

Em julho de 2024, no entanto, Dorival foi aos EUA para disputar sua primeira competição oficial no cargo, a Copa América, sob pressão desde a perda do caneco para a Argentina, em casa, em 2021. Por lá, o Brasil fez jogos ruins ainda na primeira fase e avançou na segunda posição, atrás da Colômbia, para as quartas de final.

Em Las Vegas, o Brasil entregou uma atuação pouco criativa contra o Uruguai e, após o 0 a 0 no tempo normal, foi eliminado por 4 a 2 nos pênaltis. A Argentina se sagrou bicampeã.

Além das atuações e resultados ruins, o torneio abriu sobre o trabalho de Dorival uma frente de críticas que não se dissolveu desde então, quanto à falta de critério nas escolhas e hesitação em fazer mudanças — principal diagnóstico do que minou o desempenho de Tite em Copas do Mundo.

O atacante Endrick, por exemplo, chegou ao torneio como artilheiro da “era Dorival”, mas disputou apenas 35 minutos na primeira fase. Contra o Uruguai, porém, “furou a fila” e virou titular para um duelo mais difícil, em que não conseguiu se destacar.

Desde essa eliminação, a Seleção não voltou a encantar. Na retomada das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, uma vitória magra contra a Bolívia, em casa, por 1 a 0, foi seguida de uma derrota para o Paraguai, no estádio Defensores del Chaco, também pelo placar mínimo.

Duas vitórias contra Chile e Peru — as duas piores seleções na classificação das Eliminatórias –, entre outubro e novembro de 2024, foram asseguradas por gols de Luiz Henrique e Igor Jesus, atacantes que viviam ótima fase no Botafogo. Mas os sinais de alívio antecederam antecederam novos empates, contra Venezuela e Uruguai.

Isolamento, vexame contra a Argentina: o que fez Dorival ser demitido da Seleção

O atacante Matheus Cunha no gramado do Monumental de Nuñez após o vexame contra a Argentina

Atos finais

A sequência fez Dorival abrir seu segundo ano à frente da Seleção sob forte pressão. Na convocação para enfrentar Colômbia e Argentina, ignorou recados do campo, não chamou jogadores que foram bem em jogos anteriores (casos de Igor Jesus e Luiz Henrique) e afirmou que preparava o time em torno de Neymar — fora da seleção desde outubro de 2023, o atacante foi retirado da lista após ser diagnosticado com problemas físicos.

Em 20 de março, no estádio Mané Garrincha, em Brasília, um gol do atacante Vinícius Júnior nos acréscimos do segundo tempo livrou a Seleção de uma nova derrota e selou um placar de 2 a 1 contra a Colômbia.

Mesmo com a vitória, analistas criticaram a atuação canarinho. Na entrevista após o jogo, porém, Dorival defendeu o próprio trabalho e afirmou ver uma “melhora considerável” do futebol praticado por seus comandados a cada rodada.

“Não há como o treinador da Seleção afirmar que há uma melhora significativa do trabalho a cada convocação. Houve alguns destaques [na vitória], mas o trabalho é ruim. Muito abaixo da média”, criticou o narrador André Henning, do canal TNT Sports.

Inábil para reconhecer as dificuldades do time em campo, o treinador apostou novamente em um esquema com dois meio campistas (André e Joelinton) e quatro atacantes (Raphinha, Rodrygo, Vinícius Júnior e Matheus Cunha) para enfrentar a Argentina, conhecida pelo amplo domínio no setor central do campo, no estádio Monumental de Nuñez.

Armados com cinco meio-campistas, os atuais campeões do mundo foram melhores desde o início do confronto e, aos 12 minutos, já impuseram 2 a 0 sobre o Brasil. Dorival não fez mudanças no time e nem no sistema tático no primeiro tempo e, na etapa final, alterou apenas as peças, sem reverter o domínio argentino.

A Seleção perdeu por 4 a 1, maior derrota da história brasileira em Eliminatórias e nos embates contra a principal rival, e viu a torcida argentina pedir “um minuto de silêncio” após o árbitro apitar pela última vez. O desempenho deixou pouca margem para a continuidade do trabalho do treinador.

Na sexta-feira, 28, após uma reunião na sede da CBF, o presidente Ednaldo Rodrigues anunciou a demissão. “A gente agradece muito o trabalho e deseja muito sucesso nos novos desafios da sua carreira. A partir de agora, vamos trabalhar na busca de um substituto”, afirmou. Dorival não se pronunciou publicamente sobre a decisão.

Conforme as apurações dos sites Globo Esporte e ESPN Brasil, Jorge Jesus, campeão brasileiro e da Copa Libertadores de 2019 com o Flamengo, é o favorito para guiar a Seleção até a Copa do Mundo de 2026. Embora esteja sob contrato no Al-Hilal, o português já disse publicamente ter o cargo no Brasil como um desejo pessoal, o que dá margem a um acordo de ruptura com o clube árabe.

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