Dólar tem alívio por Treasuries e Ptax, mas segue atento a fiscal e inflação

Às vésperas do fechamento da taxa Ptax do fim de julho, na quarta-feira, 31, o dólar começa a semana em baixa no mercado à vista. Investidores ajustam posições de olho na queda dos rendimentos dos Treasuries e pode ter também pressão técnica de investidores vendidos em contratos cambiais (apostaram na queda do dólar). A moeda americana vem acumulando altas ante o real em julho (cerca de 0,8%) e neste ano (cerca de 16%) diante das preocupações com as contas públicas no país.

Os dados fiscais do governo brasileiro apontaram déficit primário acima do previsto em junho. O setor público consolidado teve déficit primário de R$ 40,873 bilhões em junho, enquanto a mediana das estimativas do mercado colhidas pelo Projeções Broadcast apontava para um saldo menos negativo, de R$ 39,4 bilhões. No radar está o detalhamento do corte de R$ 15 bilhões nos gastos públicos, em decreto previsto para amanhã.

Contudo, podem estar ajudando no humor local os sinais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em pronunciamento veiculado em rede nacional de rádio e televisão no domingo, 28, de que não abrirá mão da responsabilidade fiscal. “Não abrirei mão da responsabilidade fiscal. Entre as muitas lições de vida que recebi de minha mãe, dona Lindu, aprendi a não gastar mais do que ganho”, disse Lula. “É essa responsabilidade que está nos permitindo ajudar a população do Rio Grande do Sul com recursos federais”, completou.

Apesar do risco de contratar mais uma crise junto ao Congresso, o presidente deve validar até mesmo o congelamento de emendas parlamentares para cumprir o arcabouço fiscal. A avaliação no Palácio do Planalto é que não é possível chegar aos R$ 15 bilhões de bloqueio e contingenciamento, necessários para o cumprimento das regras fiscais apenas “peneirando” os gastos nos ministérios.

No boletim Focus, a mediana para a inflação suavizada dos próximos 12 meses passou de 3,74% para 3,72%. Um mês atrás, ela era de 3,61%. Essa medida deve ganhar importância nas análises do mercado após a regulamentação da meta de inflação contínua, que valerá a partir de 2025. O novo regime prevê que o cumprimento da meta seja apurado com base na inflação acumulada em 12 meses. A meta continua tendo como centro 3%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.

A mediana do relatório para o IPCA de 2024 passou de 4,05% para 4,10%, de 4,00% há um mês – o centro da meta para o ano é de 3%. A mediana para 2025, horizonte relevante da política monetária, passou de 3,90% para 3,96%. Um mês antes, ela era de 3,87%.

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) cresceu 3,3 pontos em julho, a 101,7 pontos, na série com ajuste sazonal, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). Em junho, o indicador havia atingido 98,4 pontos. Com o resultado de hoje, a média móvel trimestral do índice subiu 1,7 ponto.

Em Nova York, persiste um apetite por ativos de risco, após a inflação benigna do PCE consolidar expectativas de início de corte de juros em setembro, com montante de 75 pontos-base neste ano.

Investidores estão ainda à espera das decisões de juros do Federal Reserve, Banco do Japão e Banco da Inglaterra nos próximos dias, além do relatório de empregos americano, o payroll, na sexta-feira.

Aqui, o Copom anuncia também decisão monetária na quarta. A ampla maioria do mercado prevê que a taxa Selic será mantida em 10,50% até o fim deste ano, segundo 59 de 65 casas (90,8%) consultadas pelo Projeções Broadcast. Além das expectativas de inflação desancoradas – como mostram as últimas edições do boletim Focus, o câmbio mais depreciado consolidou a percepção do juro básico estacionado no atual nível, observam os analistas.

Às 9h53 desta segunda, o dólar à vista perdia 0,18%, a R$ 5,6475. O dólar para agosto recuava 0,32%, a R$ 5,6505.

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