Os vinhos brancos do Brasil: conheça a história e saiba onde encontrar os melhores rótulos

O Brasil tem sido reconhecido internacionalmente pela qualidade dos seus vinhos, com especial ênfase aos espumantes que, de fato, atingiram uma categoria mundial excepcional e, verdadeiramente, marcante. Ocorre que os vinhos brancos nacionais deram um salto qualitativo, na última década, que os coloca entre os melhores do Novo Mundo, tanto assim o é que o consumo dos mesmos tem crescido ano a ano. 

Sempre é bom lembrar que a história da viticultura brasileira começou no século XVI, com as primeiras videiras trazidas pelos portugueses. No entanto, foi apenas no século XIX que a produção de vinhos começou a ganhar mais relevância, principalmente com a chegada de imigrantes italianos ao Rio Grande do Sul. A Serra Gaúcha se tornou o epicentro da produção, mas, ao longo do tempo, outras regiões ganharam destaque, especialmente na produção de vinhos brancos de qualidade, nosso foco aqui. 

Os primeiros vinhos brancos produzidos no Brasil foram feitos, em grande parte, com variedades americanas e híbridas, como a Isabel Branca e a Niágara Branca, que se adaptaram bem ao clima úmido e quente das regiões Sul e Sudeste. No entanto, esses vinhos tinham características bastante simples e, muitas vezes, apresentavam sabores excessivamente frutados e pouco estruturados. Foi a partir da segunda metade do século XX que a produção começou a evoluir, com a introdução de variedades viníferas europeias, como Chardonnay, Riesling Itálico e Trebbiano (Ugni Blanc), especialmente na Serra Gaúcha e na Região da Campanha. A melhoria das técnicas de vinificação e o uso do frio na fermentação ajudaram a aprimorar a qualidade desses vinhos.

Nos últimos 30 anos, os vinhos brancos nacionais passaram por uma revolução. A introdução de novas variedades, o investimento em tecnologia de vinificação e o desenvolvimento de terroirs específicos elevaram a qualidade dos produtos. Hoje, o Brasil produz vinhos brancos de excelente frescor, mineralidade e equilíbrio, com destaque para diversas regiões. A principal produtora de vinhos brancos do Brasil, a Serra Gaúcha, se destaca pela acidez vibrante e pelo frescor de suas uvas, resultado do clima úmido e da altitude moderada. Os vinhos brancos da região apresentam aromas frutados e florais, com boa acidez, sendo o Chardonnay um dos grandes protagonistas, tanto em vinhos tranquilos quanto em espumantes. O Moscato também tem grande destaque, especialmente na produção de vinhos leves e aromáticos.

Na fronteira com o Uruguai, a Campanha Gaúcha tem um clima mais seco e temperaturas diurnas mais altas, o que resulta em vinhos brancos de maior complexidade e corpo. Os Sauvignon Blanc da região são conhecidos por sua mineralidade e toques cítricos, enquanto os Chardonnay podem ter uma estrutura mais robusta, muitas vezes passando por barricas de carvalho para ganhar cremosidade.

Com altitudes que ultrapassam os 1.200 metros, a Serra Catarinense tem um clima frio e favorável à produção de vinhos brancos com excelente acidez e elegância. O Sauvignon Blanc da região se destaca por seu frescor e notas de maracujá e ervas finas, enquanto os Chardonnay costumam apresentar um perfil mais austero e mineral.

As regiões do Sul de Minas e do interior de São Paulo vêm crescendo na produção de vinhos brancos, aproveitando o clima mais ameno e as técnicas de dupla poda, que permitem a colheita no inverno, quando as temperaturas são mais baixas. O Chardonnay e o Sauvignon Blanc são as principais variedades plantadas, com vinhos que apresentam aromas tropicais, boa acidez e equilíbrio. Um exemplo é o tradicional polo vitivinícola paulista, São Roque, que tem investido na produção de vinhos brancos de uvas viníferas, como Chardonnay e Viognier, além dos tradicionais vinhos feitos com híbridas.

Já em Espírito Santo do Pinhal (SP), ocorre que a cidade tem se destacado na produção de brancos elegantes, especialmente de Sauvignon Blanc e Chardonnay, graças à altitude e ao clima mais fresco. Outra região que vem crescendo na vitivinicultura, Avaré apresenta brancos equilibrados, principalmente os de castas francesas, inclusive com algumas experiências com Viognier. Nos últimos cinco anos, novas uvas para vinhos brancos começaram a ser cultivadas no Brasil, com ótimos resultados. Entre elas, destacam-se:  Alvarinho, que é muito cultivada em Portugal, tem mostrado grande potencial no Brasil, produzindo vinhos frescos, minerais e com ótima acidez. A Verdelho é outra uva de origem portuguesa e, também, espanhola, que vem sendo plantada na Serra Gaúcha e no Planalto Catarinense, gerando vinhos aromáticos e equilibrados. Por seu turno, a Viognier, já presente há algum tempo, vem ganhando mais espaço, especialmente em São Paulo e no Sul de Minas, trazendo vinhos brancos mais encorpados e florais. E vale mencionar a Greco di Tufo: uva italiana que começou a ser testada em algumas regiões de altitude, apresentando boa adaptação ao clima brasileiro.

Vou sugerir cinco brancos nacionais que têm qualidades excepcionais e que não são tão conhecidos como deveriam. Começo com o Chardonnay – Bodega Iribarrem, de Bento Gonçalves, vinho com absoluta equilíbrio entre acidez e dulçor, ótimo para acompanhar um bom Frango Capão; o Vinho Da Estância, produzido pela Guatambu, na Campanha Gaúcha, é um corte que resultou num vinho surpreendente pelo frescor e complexidade aromática, com notas florais e frutadas de muita elegância; o Vivalti Sauvignon Blanc, da Serra Catarinense, é um vinho que harmoniza muito bem com saladas, ceviches, ostras ou mexilhões, excelente com Sushi e Sashimi; do Sul de Minas Gerais, mais precisamente de Caldas, temos o Primeira Estrada Chardonnay Gran Reserva, da Vinícola Estrada Real, de coloração amarelo palha, límpido e brilhante, com aromas muito bem integrados de frutas como abacaxi e maçã verde, aliados aos aromas provenientes do amadurecimento em carvalho, como baunilha, coco e leve caramelo, é um vinho gastronômico a toda prova; e, finalizando, recomendo o Casa Soncini – Colheita de Inverno – Sauvignon Blanc – que vem de Itaí (Região de Avaré-SP), e apresenta notas cítricas, abacaxi e mel, além de especial minerabilidade ao fundo, sendo leve e refrescante, com um final persistente e frutado, é um ótimo companheiro para refeições onde o tempero se destaca.

O futuro dos vinhos brancos nacionais é promissor. Com o aprimoramento das técnicas de manejo no campo e na vinificação, além da escolha de novas variedades adaptadas ao terroir brasileiro, os vinhos brancos devem continuar ganhando qualidade e reconhecimento. A tendência é de vinhos mais frescos, minerais e elegantes, capazes de competir com rótulos de países tradicionalmente reconhecidos pela produção de brancos, como Chile, Argentina, Uruguai, África do Sul e, até, Austrália.  Salut!! 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.