Mudanças em cidadania revoltam ítalo-descendentes no Brasil

SÃO PAULO, 31 MAR (ANSA) – Mais de 46 mil ítalo-descendentes de diversos países já assinaram uma petição virtual que pede ao governo da Itália que revogue o decreto-lei anunciado no último 28 de março com mudanças drásticas para a obtenção da cidadania italiana.   

O abaixo-assinado na plataforma change.org está perto de alcançar a meta de 50 mil assinaturas e é destinado à premiê de direita Giorgia Meloni e ao restante do governo, incluindo o vice-premiê e ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, autor da proposta.   

“Nós, cidadãos italianos e descendentes de italianos residentes no exterior, manifestamos a nossa firme oposição ao Decreto-Lei Tajani sobre a cidadania, que ameaça limitar o direito ao reconhecimento da cidadania italiana para os descendentes de emigrantes”, diz o texto, que fala em “traição da história da emigração italiana” no mundo.   

No Brasil, ítalo-descendentes repudiaram o decreto, que impõe um limite geracional na transmissão da cidadania “jus sanguinis” (“direito de sangue”), permitindo o reconhecimento apenas para quem tem pelo menos um pai ou um avô nascido na Itália.   

“Tenho trilhado o caminho de recuperação das raízes e da identidade da família, dado o meu grande interesse pela história e cultura da Itália, em especial da região do Vêneto, de onde provinham a maioria dos meus ancestrais”, revelou o jovem Davi Colombini, de 16 anos. Descendente de quarta geração, ele contou à ANSA que oito de seus 16 trisavós são italianos de nascimento.   

“Triste dia. Vêneto, Lombardia, Campânia e Calábria, teus ramos foram ceifados, teus frutos, arrancados e ateados ao fogo”, acrescentou.   

Com processo para a cidadania em andamento, Nathalia Marangoni, 34, bisneta de italianos do Vêneto, recebeu a notícia sobre a limitação da cidadania com preocupação. Após o “susto”, ela disse à ANSA que sua advogada “confirmou que o processo já foi protocolado”. “Então está tudo certo”, afirmou a paulistana, aliviada.   

Mas nem todos tiveram a mesma sorte. Descendentes que não apresentaram os pedidos até 23h59 (horário de Roma) de 27 de março terão de respeitar as novas regras do decreto.   

O deputado do Parlamento da Itália Fabio Porta, eleito pela comunidade italiana na América do Sul, afirmou que “não se pode intervir de forma emergencial e precipitada” em “questões tão delicadas”. “Iremos ler os textos completos e aguardaremos as diligências parlamentares necessárias para intervir de forma séria e adequada”, salientou.   

Já para a ex-deputada ítalo-brasileira Renata Bueno, a mudança é “arbitrária” e “fere os direitos institucionais dos descendentes de italianos residentes no exterior, principalmente na América Latina”. (ANSA).   

Adicionar aos favoritos o Link permanente.