Oncologista explica os recursos para Preta Gil decidir tratar seu câncer nos EUA

A cantora Preta Gil, de 50 anos, emocionou fãs e telespectadores ao falar sobre sua luta contra o câncer no intestino durante sua participação no ‘Domingão com Huck’, da Globo. A filha de Gilberto Gil, que segue em tratamento, reforçou que precisará viajar novamente para os Estados Unidos para dar continuidade ao processo.

“Aqui no Brasil, já fizemos tudo o que podíamos. Minhas chances de cura estão fora do Brasil, para poder voltar curada e fazer o que eu amo”, afirmou Preta na atração dominical.

A artista também destacou sua confiança na ciência e nas alternativas terapêuticas que vêm surgindo em outros países. “Acredito na ciência e nessas novas oportunidades fora do Brasil”, disse.

Bastante emocionada, Preta Gil recebeu o carinho dos convidados do programa, do público e do apresentador Luciano Huck. Durante a conversa, fez questão de reconhecer sua posição de privilégio e reforçou sua determinação em continuar lutando. “Me recuso a aceitar que acabou pra mim”, completou.

Infecção urinária

No início do mês de março, Preta Gil causou preocupação em seus fãs após ser internada com um quadro de infecção urinária em um hospital particular de Salvador, no último sábado, 8. Seu estado clínico é considerado estável.

De acordo com informações divulgadas pela assessoria de Preta nas redes sociais, ela foi internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Aliança Star “em virtude de uma infecção urinária, para monitoramento e cuidados médicos”.

A artista permanece hospitalizada, mas seu quadro clínico é considerado “estável”. Ela está sob os cuidados do coordenador da UTI, Dr. Diogo Azevedo, do urologista Dr. Frederico Mascarenhas, da equipe médica do Hospital Aliança Star e de seu médico particular, Dr. Roberto Kall Filho, conforme informado pela assessoria.

Nos Stories de seu perfil no Instagram, a filha de Gilberto Gil também postou uma mensagem para tranquilizar os fãs. “Amores, fiquem tranquilos! Estou sendo bem cuidada e, em breve, estarei em casa. Amo vocês”, escreveu.

Luta contra o câncer

Diagnosticada com câncer no intestino em 2023, Preta passou por uma delicada cirurgia para a retirada de tumores no dia 19 de novembro do ano passado, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O procedimento, parte essencial de seu tratamento, durou cerca de 18 horas. No dia 11 de fevereiro, a cantora recebeu alta hospitalar e voltou para casa.

Descoberta do câncer

Em janeiro de 2023, Preta Gil foi diagnosticada com câncer no intestino, especificamente com um tumor de seis centímetros no reto. Após o tratamento inicial, que incluiu cirurgia e quimioterapia, a doença entrou em remissão.

Em agosto de 2024, a artista anunciou que o câncer havia retornado, apresentando-se em quatro locais distintos: dois linfonodos na região pélvica, metástase no peritônio e um nódulo no ureter. Esses novos focos indicam a propagação do câncer para outras áreas do corpo.

Atualmente, ela está passando por tratamentos específicos para combater essas recorrências.

Tratamento fora do Brasil

No ano passado, Preta Gil viajou para Nova York para consultar especialistas em busca de alternativas terapêuticas, após os tratamentos anteriores não apresentarem os resultados esperados.

Procurada pela reportagem de IstoÉ Gente, a Dra. Daniélle Amaro, médica oncologista e cofundadora do canal Longidade, explica os motivos que levaram Preta Gil a decidir tratar seu câncer nos Estados Unidos.

“Os pacientes que buscam opções terapêuticas fora do país, em sua maioria, almejam ter acesso a tratamentos mais inovadores que ainda não chegaram ao Brasil, seja por entraves na regulação e aprovação, seja por serem ainda experimentais e apresentarem acesso restrito, via inclusão em pesquisas clínicas que ocorrem em centros específicos espalhados pelo mundo”, analisa a profissional.

“A FDA (Food and Drug Administration), americana, tem um processo de aprovação de novos medicamentos relativamente rápido em comparação com outros países. Embora existam rigorosos padrões de segurança e eficácia, a FDA frequentemente prioriza medicamentos inovadores que podem trazer grandes benefícios aos pacientes. Isso cria um ambiente propício para o desenvolvimento rápido de novas terapias.”

“Em contraponto, no Brasil, essa regulamentação é realizada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em um processo rigoroso que, embora muito eficaz, tende a ser mais demorado em comparação com a FDA dos Estados Unidos. Isso pode retardar o acesso a novos tratamentos e terapias inovadoras em nosso país, representando um obstáculo no acesso à medicação para o paciente oncológico que pode estar em uma luta contra o tempo”, prossegue Daniélle Amaro.

Segundo a oncologista, a acessibilidade a uma variedade de estudos clínicos de novas medicações nos Estados Unidos é uma das razões pelas quais o país tem se destacado como um centro global de pesquisa médica e desenvolvimento de novas terapias. “Existem vários fatores que contribuem para essa vantagem em relação a outros países. Os Estados Unidos têm uma infraestrutura robusta dedicada à pesquisa médica e contam com instituições acadêmicas de renome, além de financiamento governamental e privado direcionado à pesquisa clínica. Isso permite que novas medicações sejam testadas rapidamente e com mais recursos.”

“Isso propicia aos pacientes acesso a uma ampla gama de estudos clínicos de fase inicial (como os ensaios de fase 1 e 2), o que permite que os pacientes participem de experimentos com tratamentos inovadores que ainda não estão disponíveis no mercado. O próprio paciente, ou seu médico, pode verificar a disponibilidade de ensaios clínicos em andamento em plataformas de registros de ensaios clínicos. O site ClinicalTrials.gov, por exemplo, é uma base de dados amplamente acessada e fornece informações sobre ensaios clínicos em andamento em todo o mundo”, diz.

A Dra. Daniélle Amaro explica que a quantidade de ensaios clínicos realizados no Brasil é menor quando comparada aos Estados Unidos. Isso pode ser atribuído à falta de infraestrutura, financiamento e às dificuldades logísticas para envolver centros médicos e hospitais de todo o país nessa área.

“Apesar de contarmos com algumas instituições de excelência, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional de Câncer (INCA), ainda enfrentamos limitações no financiamento de pesquisas clínicas. Muitos estudos, especialmente os de fase inicial, dependem de parcerias com empresas farmacêuticas internacionais ou de recursos do governo, que em nosso país são escassos.”

“A adoção de processos de revisão mais ágeis e a colaboração internacional podem ser soluções importantes para melhorar o acesso a terapias inovadoras em nosso país e acelerar o processo de aprovação, possibilitando que mais pacientes possam ter acesso sem precisar sair do Brasil para tal. Infelizmente, isso não acontecerá tão cedo”, finaliza.

 

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