Quem é Jordan Bardella, que pode concorrer à Presidência no lugar de Le Pen

Marine Le Pen, líder da ultradireita da França, foi condenada a cinco anos de inelegibilidade por peculato nesta segunda-feira (31). Se os recursos na Justiça forem negados, ela não poderá concorrer à Presidência em 2027.

Assim, Jordan Bardella, líder do partido de Le Pen, o Reunião Nacional (RN), pode ser o escolhido pela sigla para a disputa presidencial, por mais que ela tenha dito que não vai desistir da política.

Quem é Jordan Bardella?

Jordan Bardella, de 29 anos, é discípulo de Marine Le Pen. Ele a substituiu como líder do Reunião Nacional em novembro de 2022, ao vencer uma votação interna com 85% dos votos com apenas 27 anos.

Ele já foi apelidado de “ciborgue” por ser considerado uma máquina política diante da sua carreira meteórica. E também de “genro ideal” da extrema direita, com uma retórica mais suave, que se distancia da tradicional estridência dos políticos extremistas.

Mesmo assim, não conseguiu esconder seu lado mais radical. Uma reportagem de uma das principais emissoras francesas, a France 2, revelou a existência de uma conta no X administrada por Bardella sob o pseudônimo de RepNatdu Gaito.

O perfil falso estava repleto de comentários racistas e homofóbicos. Jordan Bardella negou ser proprietário da conta, mas Marine Le Pen excluiu discretamente a assinatura assim que a informação foi divulgada.

Bardella nasceu em 1995, em Drancy, comuna do subúrbio de Paris, no departamento de Seine-Saint-Denis, um dos mais pobres da França. Estudou em uma escola privada, de alto nível de exigência e é filho único de pais divorciados.

A mãe enfrentou dificuldades financeiras, mas o suporte do pai garantiu que ele tivesse uma vida confortável, bem diferente dos jovens do bairro operário em que cresceu.


Jordan Bardella é afilhado político de Marine Le Pen, líder da ultradireita da França / Chesnot/Getty Images

Depois de participar de um exercício de oratória no qual defendeu as ideias de Le Pen, ainda com 16 anos se filiou ao Reunião Nacional.

Ganhou fama dentro do partido depois de expulsar da divisão regional da sigla um jovem que compartilhou um vídeo nas redes sociais para explicar sua conversão ao islamismo.

Bardella, então secretário departamental do partido, disse que ele era “instável” e que o vídeo com elogios ao islamismo foi “a gota d’água que fez transbordar o copo”.

Depois de assumir o cargo de secretário do partido aos 19 anos, atuou por cinco meses como assistente de um deputado europeu do Reunião Nacional em 2015. No mesmo ano, foi eleito pela primeira vez, como o candidato do Reunião Nacional em Seine-Saint-Denis para as eleições regionais.

Na campanha, afirmou que seu objetivo era “desconstruir o mito que opõe o Reunião Nacional e os subúrbios”.

Em 2017, fez parte da equipe de campanha presidencial de Marine Le Pen, que perdeu as eleições para Emmanuel Macron.

Em 2018 e 2019, Marine Le Pen o indicou como o primeiro porta-voz do partido e, um ano depois, como o candidato no topo da lista do Reunião Nacional nas eleições europeias.

Ele começou então a explorar a narrativa do garoto suburbano, de origem humilde. Dizia que sua mãe era uma imigrante italiana, que o criou sozinha.

Em meio à tentativa do Reunião Nacional de mirar eleitores do partido de esquerda França Insubmissa, da classe trabalhadora, Bardella afirmava que morava no oitavo andar de um “bloco monótono” em Seine-Saint-Denis, “assolado pela criminalidade”.

Le Pen o adotou como um pupilo porque ele a ajudou a cumprir seu objetivo de modernizar o partido e afastar a imagem do seu precursor, o Frente Nacional, fundado pelo seu pai Jean-Marie Le Pen, o grande nome da ultradireita francesa após a Segunda Guerra Mundial.

Le Pen pai foi acusado de xenofobia e antissemitismo depois de negar o holocausto diversas vezes e chegou a ser condenado por incitação ao ódio racial pelo menos seis vezes.

Bardella usou as redes sociais para catapultar a nova imagem do partido e afastá-la do seu passado. Ele tem 2,1 milhões de seguidores no TikTok, o que o torna o político francês mais popular na plataforma, além de 854 mil seguidores no Instagram.

Mas em meio à tentativa de se descolar da imagem racista e xenofóbica do partido, uma reportagem do jornal Libération revelou que Bardella encaminhou documentos do Reunião Nacional para serem impressos por Frédéric Chatillon, antigo chefe de um sindicato estudantil neofascista e antissemita.

Chatillon é um grande amigo de Marine Le Pen e foi condenado em 2023 por fraude e cobrança excessiva de materiais do Reunião Nacional para desvio de verbas públicas.

Mas nada que tenha abalado a popularidade do jovem político, que após o sucesso nas eleições europeias já era visto como uma ponte para Le Pen se eleger à Presidência em 2027 — algo que, com a condenação da mentora, pode ter virado para uma candidatura própria ao cargo mais alto do país.

Jordan Bardella ajudou a rejuvenescer o Reunião Nacional e a disfarçar a imagem xenofóbica, nacionalista e anti-União Europeia da sigla. E assim “o genro ideal” pode se tornar uma opção de ultradireita viável, o que Le Pen não conseguiu nas suas três tentativas de chegar ao Palácio Eliseu.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Quem é Jordan Bardella, que pode concorrer à Presidência no lugar de Le Pen no site CNN Brasil.

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