Mais de dez grupos de ajuda humanitária interromperam suas atividades no centro de Mianmar após enfrentarem uma série de restrições impostas pela junta militar. O país ainda lida com os impactos do terremoto de magnitude 7,7 que atingiu as regiões de Sagaing, Mandalai e o estado de Shan em 28 de março, matando mais de 3,6 mil pessoas, ferindo cerca de cinco mil e deixando 148 desaparecidas, segundo números oficiais. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).
As denúncias incluem bloqueios em postos de controle, exigências de registros prévios e a imposição de que os suprimentos básicos sejam distribuídos apenas por meio das autoridades regionais controladas pelos militares. Essas medidas, segundo os voluntários, tornam inviável a continuidade do trabalho em campo.
“Eles [os grupos de ajuda] não podem fazer nada. Estamos muito chateados que aqueles que poderiam ajudar estão sendo tratados assim. Agora, é só o povo cuidando uns dos outros”, relatou um voluntário de Mandalai, que preferiu não se identificar por medo de represálias.

A junta determinou ainda que todas as organizações devem obter aprovação prévia para operar nas áreas atingidas, conforme anunciado pelo vice-presidente da junta, general Soe Win. A medida, anunciada no mesmo período em que o país registra uma escalada de conflitos armados desde o golpe de 2021, foi duramente criticada por quem tenta ajudar.
“Se eles quiserem que a gente entregue do jeito deles, como disseram, não conseguiremos entregar nada. Só doaremos se pudermos fazer por conta própria”, afirmou outro voluntário local.
A tensão entre a população e os militares se acentuou após relatos de que suprimentos estariam sendo desviados por agentes do governo.
“Minha casa desabou. Se eu for ao centro comunitário buscar itens básicos de que preciso, não consigo pegá-los como antes porque os oficiais os roubaram”, disse um morador de Mandalai, alertando para o risco de perda de apoio internacional. “O governo não tem nos ajudado em nada, e eu não sei se ainda virá mais caridade por parte deles.”
Até agora, a junta não divulgou detalhes adicionais sobre as restrições. Em comunicado no sábado (5), disse apenas que impediria a entrada de grupos que “explorem o terremoto para fins negativos”. Já no domingo (6), o Ministério da Saúde reforçou que toda entrega de ajuda deve passar pelas autoridades regionais — o que tem sido rejeitado por organizações locais.
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