Desde 2019, argentinos só podiam comprar US$ 200 por mês. País flexibiliza controle sobre o câmbio após receber socorro de US$ 20 bilhões do FMI.O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou que vai acabar com a maior parte dos controles estritos do país sobre capital e moeda, permitindo que o peso argentino flutue livremente dentro de uma faixa móvel entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar, e facilitando a compra da moeda no mercado oficial por pessoas físicas, que desde 2019 era limitada a 200 dólares por mês.
A medida entra em vigor na próxima segunda-feira (14/04) e é uma aposta ousada do país que fechou, nesta sexta-feira, um pacote de resgate no valor de 20 bilhões de dólares (R$ 117,4 bilhões) com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O acordo, com prazo de quatro anos, dá à Argentina um respiro em um momento em que o país praticamente exauriu suas reservas de moeda estrangeira. É a 23º vez que o país é socorrido pelo FMI, a quem já deve cerca de 43 bilhões de dólares – o maior devedor da instituição.
A entidade elogiou o rigoroso programa de austeridade de Milei e sua política fiscal de déficit zero, dizendo que ele busca “consolidar os impressionantes ganhos iniciais” e enfrentar “as vulnerabilidades macroeconômicas remanescentes”.
Dos 20 bilhões de dólares prometidos pelo FMI, 12 bilhões devem ser disponibilizados já na próxima terça-feira, e mais outros 2 bilhões em junho.
Segundo a presidente do FMI, Kristalina Georgieva, a Argentina se comprometeu a cortar ainda mais gastos públicos, desregular a economia e transicionar rumo a um novo regime de câmbio de moeda estrangeira.
Temores de desvalorização do peso
Além de facilitar a compra de dólares por pessoas físicas e permitir a flutuação do dólar – dentro de uma faixa que será aumentada em 1% a cada mês –, a Argentina também permitirá a remessa de lucros de empresas ao exterior a partir deste ano.
Christopher Ecclestone, do banco de investimentos Hallgarten & Company, disse à agência de notícias Associated Press ser difícil prever como as pessoas irão reagir, mas que as medidas podem levar à saída de um “tsunami de dinheiro”.
As restrições tornavam praticamente impossível a compra de dólares por um argentino comum, fomentando o mercado ilegal de câmbio. Agora que elas serão extintas, espera-se que Milei consiga atrair os investimentos estrangeiros de que precisa para transformar a Argentina em uma economia livre.
Ao anunciar a flexibilização do controle cambial, o ministro da Economia Luis Caputo frisou que a medida não é uma “desvalorização” do peso – algo que poderia piorar ainda mais a inflação de três dígitos no país. “A verdade é que não sabemos onde o dólar irá parar”, afirmou.
Mas estava claro que o peso teria que se desvalorizar até certo ponto, e economistas estimavam que ele cairia até se aproximar da cotação do mercado paralelo. Na sexta-feira, essa cotação estava em 1.375 pesos por dólar, em comparação com a taxa oficial de 1.097 pesos.
História conturbada com o FMI
Na história da Argentina, governos de todo o espectro político foram forçados, ao longo dos anos, a recorrer ao FMI em busca de ajuda para enfrentar déficits fiscais recorrentes, uma inflação persistentemente alta e uma produção econômica ineficiente que empurra o país para crises cíclicas.
O próprio FMI reconheceu suas falhas no relacionamento com a Argentina, afirmando que suas políticas não conseguiram alcançar os objetivos propostos.
ra (AP, Reuters, ots)