LIMA, 14 ABR (ANSA) – Morreu neste domingo (13), em Lima, o escritor peruano e vencedor do Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, aos 89 anos de idade.
O falecimento foi anunciado em um comunicado divulgado pelos filhos do autor, Álvaro, Gonzalo e Morgana. “Com profunda dor, tornamos público que nosso pai, Mario Vargas Llosa, faleceu em Lima, cercado por sua família e em paz”, diz a nota.
“Sua partida entristecerá seus parentes, amigos e leitores ao redor do mundo, mas esperamos que encontrem consolo, assim como nós, no fato de que ele aproveitou uma vida longa, múltipla e frutífera, e deixa atrás de si uma obra que sobreviverá”, acrescenta.
Segundo o comunicado, não haverá “nenhuma cerimônia pública” de despedida do escritor, protocolo que segue as instruções deixadas pelo próprio Vargas Llosa. “Nossa mãe, nossos filhos e nós mesmos sabemos que vamos ter o espaço e a privacidade para nos despedir em família e na companhia de amigos próximos. Seus restos, como era sua vontade, serão cremados”, conclui a nota.
Nascido em Arequipa, em 28 de março de 1936, Vargas Llosa é autor de obras fundamentais da literatura latino-americana, como “Batismo de fogo”, “Conversa na catedral”, “A festa do bode” e “Travessuras da menina má”.
“O símbolo da liberdade em uma sociedade sempre é a literatura. Quando há liberdade, a literatura floresce, e quando falta, ela sofre muito”, disse o autor em uma entrevista à ANSA em dezembro de 2021.
O primeiro peruano a ganhar o Nobel de Literatura sempre acreditou nos livros como um compromisso cívico e via na escrita uma força capaz de transformar a visão da realidade.
Protagonista do renascimento da literatura sul-americana com o colombiano Gabriel García Márquez, também ganhador do Nobel, Vargas Llosa alcançou sucesso já em 1963, com “Batismo de fogo”, considerada sua obra-prima e que narra o cotidiano dos alunos do Colégio Militar Leoncio Prado, de Lima.
“Uma pessoa em perfeita harmonia com o mundo ou com a vida jamais tentará criar realidades virtuais ou verbais. Todo romance, creio eu, é um assassinato formal da realidade”, afirmou ele, explicando, seis anos depois da publicação do livro que lhe deu fama internacional, sua poética que investiga as dobras da realidade para trazer à luz contradições e falsidades.
Jornalista e escritor comprometido, vencedor de vários prêmios literários, Vargas Llosa entrou para a política no final da década de 1980 e sempre teve uma posição não convencional. Em 1990, concorreu à presidência do Peru, mas foi derrotado por Alberto Fujimori.
“Nesta sociedade, há certas regras, certos preconceitos, e tudo que não se conforma a eles parece anormal, um crime ou uma doença”, diz um de seus aforismos. Ele era próximo de Fidel Castro na década de 1950 e depois se distanciou do líder cubano com duras críticas.
Suas opiniões sobre Fidel também foram motivo de controvérsia com García Márquez, sobre quem Llosa havia escrito uma tese de doutorado em 1971, mas de quem sempre se distanciou devido à postura abertamente esquerdista do autor de “Cem Anos de Solidão”.
Em muitas de suas obras literárias, denunciou ditaduras, abusos e colonialismos. “A ficção é sempre uma denúncia, é a prova de uma revolta, porque o romancista é um rebelde, um homem indignado com um aspecto ou outro da realidade”, escreveu o escritor em 1969. (ANSA).