A última rodada de negociações no Cairo para restaurar o cessar-fogo em Gaza e libertar reféns israelenses terminou sem nenhum avanço aparente, segundo fontes palestinas e egípcias nesta segunda-feira (14).
As fontes disseram que o Hamas manteve a posição de que qualquer acordo deve levar ao fim da guerra em Gaza.
Israel, que reiniciou a campanha militar em Gaza no mês passado após o fracasso de um cessar-fogo em janeiro, afirmou que não encerrará a guerra até que o Hamas seja eliminado.
O grupo militante descartou qualquer proposta de depor as armas.
Mas, apesar dessa discordância fundamental, as fontes comentaram que uma delegação do Hamas liderada pelo chefe do grupo em Gaza, Khalil Al-Hayya, demonstrou alguma flexibilidade quanto ao número de reféns que poderia libertar em troca de prisioneiros palestinos mantidos por Israel, caso a trégua seja estendida.
Uma fonte egípcia disse à Reuters que a proposta mais recente para estender a trégua resultaria na libertação de um número maior de reféns pelo Hamas.
O ministro israelense Zeev Elkin, membro do gabinete de segurança do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, falou à Rádio do Exército nesta segunda-feira (14) que Israel buscava a libertação de cerca de 10 reféns, após o consentimento anterior do Hamas para libertar cinco.
O Hamas pediu mais tempo para responder à proposta mais recente, comentou a fonte egípcia.
“O Hamas não tem problemas, mas quer garantias de que Israel concorda em iniciar as negociações sobre a segunda fase do acordo de cessar-fogo”, que levará ao fim da guerra, falou a fonte egípcia.
Onda de ataques
Militantes do Hamas libertaram 33 reféns israelenses em troca de centenas de detidos palestinos durante a primeira fase de seis semanas do cessar-fogo, que começou em janeiro.
Mas a segunda fase, que deveria começar no início de março e levar ao fim da guerra, nunca foi lançada.
Desde o reinício da campanha militar no mês passado, as forças israelenses mataram mais de 1.500 palestinos, muitos deles civis, e desalojaram centenas de milhares, tomando grandes extensões de território e impondo um bloqueio total a todos os suprimentos para todo o enclave.
Enquanto isso, 59 reféns israelenses permanecem nas mãos dos militantes. Israel acredita que até 24 deles estejam vivos.
Os palestinos afirmam que a onda de ataques israelenses desde o colapso do cessar-fogo está entre as mais mortais e intensas da guerra, atingindo uma população exausta que sobrevive nas ruínas do enclave.
Em Jabalia, uma comunidade no extremo norte de Gaza, equipes de resgate com coletes laranja tentavam quebrar o concreto com uma marreta para recuperar corpos soterrados sob um prédio que desabou em um ataque israelense.
Pés e a mão de uma pessoa podiam ser vistos sob uma laje de concreto. Homens carregavam um corpo envolto em um cobertor. Trabalhadores no local disseram que até 25 pessoas foram mortas.
O exército israelense afirmou ter atacado militantes que planejavam uma emboscada.
Em Khan Younis, no sul, um acampamento de barracas improvisadas foi reduzido a pilhas de escombros por um ataque aéreo. Famílias retornaram para vasculhar o lixo em busca de pertences.
“Costumávamos morar em casas. Elas foram destruídas. Agora, nossas barracas também foram destruídas. Não sabemos onde ficar”, falou Ismail al-Raqab, que retornou à área depois que sua família fugiu do ataque antes do amanhecer.
Encontro de líderes
Os líderes dos dois países árabes que lideraram os esforços de mediação do cessar-fogo, o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi e o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, se encontraram em Doha no domingo (13).
A fonte egípcia relatou que Sisi pediu garantias internacionais adicionais para um acordo de trégua, além daquelas fornecidas pelo Egito e pelo Catar.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que apoiou a decisão de Israel de retomar a campanha e pediu que a população palestina de Gaza deixasse o território, afirmou na semana passada que havia progresso no retorno dos reféns.
A guerra foi desencadeada pelo ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual 1.200 pessoas foram mortas e 251 foram levadas como reféns para Gaza, segundo dados israelenses.
Desde então, mais de 50.900 palestinos foram mortos na ofensiva israelense, segundo autoridades de saúde locais.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Não há avanços nas negociações de Gaza, dizem fontes egípcias e palestinas no site CNN Brasil.