[Coluna] Famosas maduras inspiram ao abrir mão da maquiagem

Por que as celebridades que abrem mão da maquiagem são, em geral, as com mais de 50? Com a idade, muitas mulheres percebem que existem coisas mais importantes para fazer na vida do que perder horas em frente a um espelhouando tinha 25 anos, a modelo tcheca Paulina Porizkova foi eleita uma das cinquenta mulheres mais bonitas do mundo pela revista americana People. Paulina estava no auge. Era o rosto da gigante de cosméticos Estée Lauder, desfilava para grifes como Versace e posava para as revistas de moda mais importantes do mundo.

Semana passada, Paulina completou 60 anos. Ela celebrou ao lado do namorado e postou nas redes sociais uma foto sem nenhuma maquiagem, como é o seu estilo, já que a modelo, nos últimos anos, virou uma voz potente na luta contra o etarismo e pelo direito das mulheres envelhecerem com naturalidade (sim, até para uma coisa simples assim temos que lutar).

Graças a essa luta, Paulina está, de novo, em um ótimo momento de sua carreira. Ela foi contratada em janeiro passado novamente para ser embaixadora da Estée Lauder.

Rosto natural

Paulina é representante de uma tendência que atrai muitas mulheres maduras; o “make up free”, ou, em bom português, o rosto natural, sem maquiagem ou filtros de Instagram, mesmo em uma época de crescimento da indústria de cosméticos.

É fato: nunca tivemos tantos produtos disponíveis e, hoje, muitas meninas da geração Z começam a fazer “skincare” e a usar diversos produtos ainda na pré-adolescência (ou ainda crianças). Mas é possível ser diferente e simplesmente priorizar outras coisas na vida.

Por que será que as celebridades que abrem mão da maquiagem são, em geral, as com mais de 50 anos? Acho que isso acontece porque, com a idade, a gente (ou pelo menos boa parte de nós), além de se aceitar mais, também percebe que existem coisas mais importantes para fazer na vida do que perder horas em frente a um espelho.

Por isso, a escolha por um look mais “natural” é, muitas vezes, algo que simplesmente acontece e não é programado. Esse parece ser o caso da atriz Pamela Anderson, um dos maiores símbolos sexuais dos anos 1990 e 2000. Quem não lembra dela correndo em SOS Malibu (Baywatch)? Pamela, de 57 anos, parou de usar maquiagem há dois anos.

Sua primeira aparição natural, na semana de moda de Paris, é descrita em alguns sites como um momento “chocante”, (o que deixa claro o quanto mulheres ainda são prisioneiras de padrões estéticos absurdos).

Ao mesmo tempo, ela atraiu e continua atraindo, muita admiração e virou um ícone da beleza natural. Mas, segundo ela, nada disso foi programado. Em 2023, depois de causar rebuliço por aparecer natural em desfiles de moda, ela disse para a revista People: “Eu pensei: estou sem maquiagem em casa, então por que não na Semana de Moda de Paris? Eu realmente não sabia que alguém notaria, mas estou feliz que tenha se tornado uma mensagem positiva”.

Pamela continua “chocando” alguns e inspirando muitas ao aparecer natural em eventos como o Globo de Ouro. Sua carreira também está bombando e ela concorreu ao prêmio pela sua atuação no filme The Last Showgirl.

É admirável que mulheres como Paulina, Pamela e tantas outras se apresentem naturalmente. Especialmente porque elas são mulheres que ficaram famosas por causa de sua beleza.

Se para todas as mulheres, em maior ou menor grau, ainda é difícil encarar as mudanças que o envelhecimento traz, imagino como deva ser difícil para alguém que ficou famosa mundialmente justamente pela beleza na juventude. Deve ser muito mais fácil lidar com a parte estética do envelhecimento para nós, mulheres comuns, que não vivemos da nossa imagem e nunca fomos eleitas as mulheres mais bonitas do ano.

Menos maquiagem em Berlim

Claro, tudo depende também da sociedade onde você vive. Em algumas cidades do Brasil, por exemplo, é normal que a maioria das mulheres saiam sempre maquiadas.

Morando em Berlim há dez anos, eu atesto: na vida real, é possível viver em uma sociedade na qual seja mais comum que as mulheres saiam sem maquiagem para trabalhar ou se divertir. A capital da Alemanha tem fama de ser uma cidade onde as pessoas saem de qualquer jeito na rua e ninguém se importa, e onde ir de pijama no supermercado é aceito (o que é verdade).

Mulheres de mais de 40 anos aqui, no geral, usam muito menos maquiagem do que as mulheres de São Paulo, onde eu morava. Acho libertador.

Mas isso pode até ser estranho para algumas mulheres. Lembro de uma colega de aula de alemão egípcia que reclamava de não se sentir à vontade para sair arrumada (de salto alto e maquiagem) em Berlim sem que as pessoas reparassem nela e ela se sentisse um ET. “As mulheres aqui são muito desarrumadas”, ela reclamava, brincando.

Acredito que minha colega falava isso com humor. Afinal, toda mulher deve ter o direito de se vestir e aparentar a aparência que bem entender. E também, claro, o direito de envelhecer em paz (usando maquiagem, ou não).

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Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000, quando lançou com duas amigas o grupo “02 Neurônio”. Já foi colunista da Folha de S.Paulo e do UOL. É uma das criadoras da revista TPM. Em 2015, mudou para Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada. Desde então, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão.

O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.

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