Como evitar que filhos se envolvam em crimes virtuais e a quais sinais ficar atento? Veja orientações


Autora de pesquisa sobre violência extrema entre jovens aponta necessidade de diálogo, incentivar pensamento crítico e atenção a mudanças de comportamento e temas de interesse. Especialista dá orientações sobre segurança de jovens nas redes sociais
Reprodução/JN
Um adolescente, de 15 anos, que utilizava a plataforma Discord para maltratar animais, foi apreendido em operação da Polícia Civil, nesta terça-feira (15). O jovem, que é morador de Limeira (SP), foi encontrado no bairro Guainases, na Zona Leste de São Paulo (SP).
O caso não é isolado. A frequência de crimes virtuais envolvendo adolescentes vêm gerando alertas em autoridades, que já monitoram plataformas onde esse tipo de conteúdo é transmitido.
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O g1 entrevistou Cléo Garcia, mestre e doutoranda em Educação pela Unicamp e advogada especialista em Justiça Restaurativa e Direito Educacional, que deu orientações sobre como evitar o envolvimento de filhos e outros familiares nestes tipos de crimes e a quais sinais ficar atentos.
Autora de pesquisa sobre violência extrema às escolas no Brasil, ela aponta que pais devem buscar diálogo, monitoramento com limites, incentivar pensamento crítico e prestar atenção a mudanças de comportamento e temas de interesse.
Confira, a seguir, as orientações da especialista:
Adolescente de Limeira é apreendido por torturar animais e transmitir na internet
Como os pais podem evitar? 🔍
Relação de confiança
Conversar, dialogar, abertamente e constantemente com os filhos. Hoje, existem muitos materiais e especialistas oferecendo informações sobre isso gratuitamente. Também manter uma relação de confiança com os filhos. Para que eles se sintam seguros e possam relatar algumas situações que eles entendam que são suspeitas.
Interagir com a vida digital deles
Uma sugestão é jogar juntos, para que os pais vejam o tipo de jogo que o filho está acessando. Conversar sobre as tendências, sobre memes, porque grupos extremistas utilizam memes para cooptar crianças e adolescentes.
Incentivar pensamento crítico
Incentivar também a criança e adolescente para que seja crítico, ou seja, analise o que está acontecendo. E questione: será que essa pessoa que está falando comigo é de verdade? Será que esse conteúdo aí eu posso confiar?
A educação midiática também vai ajudar a identificar os discursos de ódio e linguagens que são disfarçadas de humor, mas que carregam preconceito.
Deixar claro o que pode ou não
Ensinar o que é certo e o que é errado nesse ambiente virtual, que a internet não é uma terra sem lei, que tudo o que é feito online pode sim ter consequências legais. E falar sobre os tipos de crimes online, que é o bullying, extorsão, pedofilia, golpes financeiros, uso de dados de outras pessoas, ameaça, invasão de contas, ou distribuir fotos sem consentimento.
Falar sobre privacidade e segurança
Falar sobre privacidade e segurança. Ensinar a importância de não compartilhar os seus dados, seja endereço, qual é a sua escola, qual é o seu telefone e senhas. E participar da configuração da privacidade das redes sociais. Há tutoriais que ensinam isso.
Monitorar, mas com respeito
Monitorar o que estão acessando na internet, mas com respeito. Ser transparentes, explicando porque está fazendo aquilo, estabelecer quais são os limites de tempo, como se dará o acesso, saber com quem as crianças conversam, quais sites que elas estão utilizando, os aplicativos.
É possível usar ferramentas hoje de controle parental, que permitem acompanhar o conteúdo sem invadir a privacidade. Descobrir a senha e acessar conversas privadas pode causar um dano grande na relação parental.
Mostrar o uso positivo
Mostrar também o uso positivo da internet, que é uma excelente ferramenta para aprender, para criar, para colaborar, e até mesmo para brincar.
Antivírus e atualizações
Uso de antivírus podem ajudar a evitar algumas práticas ilegais. E manter os dispositivos sempre atualizados.
Especialista recomenda que pais monitorem temas de postagens de filhos
Jornal Nacional/ Reprodução
Sinais aos quais ficar atento ⚠️
Mudanças de comportamento
Os pais podem ficar atentos se há um isolamento repentino, se o jovem está se afastando da família, dos amigos, demonstra uma irritabilidade ou frequentemente ele se mostra agressivo. Principalmente quando fala sobre alguns assuntos específicos como política, religião, gênero e raça. Avaliar se o adolescente está utilizando uma linguagem mais agressiva ou carregada de preconceito.
Postagens que defendem violência
Verificar se posta comentários que defendem a violência como solução de conflitos, que demonstra desprezo por certos grupos minorizados em âmbito social, racial, religioso, ou de gênero. Verificar se existe menção a termos ou desenho de símbolos ligados a ideologias extremistas.
Temas de interesse
Monitorar se tem um interesse exagerado por temas de guerra, armamentos ou outras causas violentas. Verificar se acessa sites com memes tóxicos, se está lendo algum conteúdo com teor conspiracionista, ou racista, ou mesmo misógino.
Uso de símbolos extremistas
Checar se faz uso de símbolos de movimentos extremistas ou de palavras-códigos. Há algumas siglas que identificam certos grupos. Por exemplo, o número 1488 identifica grupos de ideologias extremistas. Também há os red pill, incels, entre outros.
Discord: o que é a rede social usada para cometer crimes contra adolescentes?
Adolescente torturava animais
No caso envolvendo o adolescente de Limeira, segundo a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Limeira, ele torturava e matava gato enquanto fazia transmissões no Discord.
As ações eram acompanhadas por espectadores online, que também solicitavam atos de tortura por meio do chat, segundo a polícia.
A investigação teve início após o Laboratório de Operações Cibernéticas receber a notícia de que usuários da plataforma planejavam ataques a escolas por meio da caixa de conversas do aplicativo, segundo a polícia.
No local das buscas, a polícia também apreendeu dois celulares. As equipes ainda cumpriram mandado de prisão preventiva contra a mãe do adolescente, por crimes de furto e tráfico de drogas.
“A partir de análise de grupos na plataforma Discord, a investigação desvelou uma comunidade focada em maus tratos de animais, em que, através de transmissão ao vivo, utilizam da tortura e posterior morte de seres sencientes para a diversão de expectadores, que também solicitam atos de tortura através do chat”, detalhou a polícia.
“Ainda, através de pesquisas em sistemas de investigação e de informações fornecidas pelo Google, foi possível desvelar um dos envolvidos nas atrocidades demonstradas contra um gatos, os quais foram torturados e sacrificados de maneira repugnante”, descreveu.
Prédio da DIG de Limeira, equipe responsável pela operação de apreendeu o adolescente suspeito
Polícia Civil de Limeira
O que é o Discord?
O Discord é uma plataforma de comunicação digital que permite que os usuários conversem por meio de mensagens de texto, voz e vídeo.
No Brasil, a rede social diz que só permite acesso para adolescentes a partir dos 13 anos.
O aplicativo é usado principalmente por adolescentes que querem jogar e conversar ao mesmo tempo, e, inclusive, foi desenvolvido com esse propósito.
Denúncias contra conteúdo criminoso no Discord aumentaram 272% no 1º trimestre de 2025
Plataforma diz ter política de ‘tolerância zero’
Em nota, o Discord afirmou que tem uma política de tolerância zero para atividades ilegais. “Assim que tomamos conhecimento desse tipo de conteúdo, agimos imediatamente e aplicamos as medidas cabíveis, que podem incluir o banimento de usuários e a derrubada de servidores”, comunicou.
A plataforma acrescentou que mantém diálogo constante com o sistema judiciário e autoridades de segurança e coopera com investigações realizadas.
“O Discord fez comunicações proativas às autoridades brasileiras, denunciando grupos e indivíduos envolvidos nesse tipo de conduta prejudicial e/ou comportamentos que apresentavam risco para outras pessoas. Nossas divulgações proativas, em alguns casos, ajudaram a impedir crimes antes que ocorressem e contribuíram para a prisão de indivíduos mal-intencionados”, destacou.
O Discord ainda informou que continua investindo em novas tecnologias e iniciativas, como a Assistência à Segurança do Adolescente, para combater seu uso para atos ilegais.
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