O novo Plano Nacional da Educação (PNE) tem o triplo de metas do anterior e 18 objetivos que vão da primeira infância à formação docente. Conteúdo é ousado, mas como vai ser colocado em prática?Na coluna passada falei sobre o novo Plano Nacional da Educação (PNE) e já deixei bem pontuada minha opinião: há sim metas e objetivos relevantes, mas ele é, sem exagero, ousado. Por si só, essa ousadia traria preocupações, mas o fato de existir um plano anterior, mais moderado, com metas não cumpridas não ajuda em nada nossas expectativas.
Nesta coluna irei discorrer sobre os 18 objetivos do plano.
Atenção para com a primeira infância e alfabetização
Ampliar a oferta de matrículas em creches, universalizar a pré-escola e garantir a qualidade da educação infantil são objetivos bem nobres.
Os países escandinavos são referência como estados de bem-estar social e investem forte na primeira infância. Espero que os criadores do PNE entendam que isso não requer apenas investimento financeiro, mas sim uma verdadeira e complexa infraestrutura que articula muitos agentes, inclusive dos próprios empregadores, considerando o fato de que muitas mães estão presentes no mercado de trabalho.
Outro objetivo é assegurar a alfabetização ao final do 2° ano do ensino fundamental e ampliar a conclusão da educação básica para todos os jovens, adultos e idosos. A ideia é que todos terminem a escola na idade regular.
Aprendizagem, melhorias na rede de ensino e inclusão
“Garantir a aprendizagem dos estudantes no ensino fundamental e médio.” Quem não gostaria que esse objetivo fosse cumprido? Queria muito entender detalhadamente qual é o plano.
Outros dois são: aumentar a oferta do ensino integral e garantir a qualidade e equidade nas condições da educação básica.
No campo da inclusão, há preocupação para com os estudantes indígenas, quilombolas, do campo, de educação especial e surdos. A ideia é garantir acesso, qualidade e a permanência.
Ensino superior e educação profissional
Quando se trata da educação profissional e tecnológica, a ideia é garantir acesso e permanência.
O mesmo com o ensino superior. O plano ainda sinaliza a inclusão e a redução das desigualdades. Trabalho há 10 anos com uma ação social que auxilia jovens da rede pública com acesso ao ensino superior e vejo na prática que o trabalho aqui não se resume à criação de políticas, mas também inclui criar estratégias para que os beneficiários usufruam dos próprios direitos.
Há preocupação com a qualidade dos cursos de graduação. A ideia é que a formação, seja via graduação, técnico ou profissional, esteja coesa com as demandas da sociedade.
Olhar para o docente
Os professores não foram excluídos do documento. Ainda bem. De um lado, há um objetivo de ampliar a formação de mestres e doutores, de forma equitativa e inclusiva, para a solução dos problemas da sociedade. Haverá aumento da bolsa? Muitos programas não permitem que os pós-graduandos trabalhem e o valor da bolsa, dependendo da fase da vida ou da cidade, pode ser pouco atrativo. E, quando se formarem, o mercado irá absorver? Quais políticas serão criadas para isso?
Para os da educação básica, o documento sinaliza a garantia da formação e das condições de trabalho.
Ousadia reinou
Há dois objetivos que achei excessivamente ousados. O primeiro é: “assegurar a participação social no planejamento e gestão educacional”. A ideia é linda, mas como será feito?
Mas, disparado, o mais ousado para mim foi: “Promover a educação digital para o uso crítico, reflexivo e ético das tecnologias da informação e da comunicação”. De novo: soa lindo. É perfeito. É necessário e quem não gostaria? Mas como?
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.