Governo Trump ameaça barrar alunos estrangeiros em Harvard

"ReitorDepartamento de Segurança Interna exige informações detalhadas de atividades sobre estudantes de outros países, sob pena de perda de direito de matricular estrangeiros. Universidade promete resistir à investida.O governo dos Estados Unidos ameaçou retirar da prestigiada Universidade de Harvard o que classificou de “privilégio de matricular estudantes estrangeiros”, caso a instituição não forneça integralmente os requisitos de informação sobre seus alunos de outros países, conforme a exigência feita pelo Departamento de Segurança Interna (DHS) dos EUA.

A chefe do DHS, Kristi Noem, “escreveu uma carta contundente exigindo registos detalhados das atividades ilegais e violentas dos titulares de vistos de estudante estrangeiro de Harvard até 30 de abril de 2025, sob pena de perda imediata da certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio”, anunciou o órgão nesta quarta-feira (16/04).

Noem cancelou duas bolsas subsidiadas pelo seu departamento no valor de 2,7 milhões de dólares (R$ 215,84 milhões) à universidade norte-americana, por considerar que “não é adequado confiar [à instituição] o dinheiro dos contribuintes”. “Harvard, que se ajoelha perante o antissemitismo impulsionada pela sua liderança […] alimenta uma latrina de motins extremistas e ameaça a nossa segurança nacional”, afirmou ainda a secretária.

“Com a ideologia antiamericana e pró-Hamas [grupo terrorista palestino] envenenando seu campus e suas salas de aula, a posição de Harvard como instituição de ensino superior de ponta é uma memória distante. A América exige mais das universidades que recebem o dinheiro dos contribuintes”, acrescentou.

A ação do DHS se seguiu à decisão do presidente EUA, Donald Trump, no início desta semana, de congelar 2,2 bilhões de dólares de financiamentos do governo federal a Harvard, propondo ao mesmo tempo a revogação de sua isenção fiscal.

Em seu comunicado Noem acrescentou que, “com um numerário de 53,2 bilhões de dólares, Harvard pode financiar o seu próprio caos – o DHS não o fará”.

Trump sinaliza mais cortes no financiamento

Trump também intensificou nesta quarta-feira as críticas à universidade. Em postagem em sua rede social Truth Social ele disse que Harvard “ensina o ódio e a imbecilidade” e “não deve continuar a receber financiamento federal”.

Ele chamou Harvard de “piada” e disse que a universidade deveria perder seus contratos de pesquisa com o governo depois de recusar as exigências para que aceitasse supervisão política externa.

“Harvard não pode mais ser considerada um lugar decente de ensino e não deve ser incluída em nenhuma lista das melhores universidades ou faculdades do mundo”, disse Trump em sua postagem. “Harvard é uma piada, ensina ódio e estupidez e não deve mais receber verbas federais.”

O presidente acusa as instituições de ensino superior de permitirem o florescimento do antissemitismo em seus campus. Seu governo exigiu que as universidades implementassem uma série de medidas, incluindo uma auditoria sobre as opiniões dos estudantes e do corpo docente, sob pena de cortar os subsídios.

Harvard promete resistir

O reitor de Harvard, Alan Garber, em carta dirigida aos estudantes e professores da instituição divulgada na última segunda-feira, afirmou que a universidade já adota medidas contra o antissemitismo há mais de um ano e assegurou que a instituição não abandonaria “sua independência, nem os seus direitos garantidos pela Constituição”, nomeadamente, a liberdade de expressão.

“Nenhum governo, independentemente do partido que esteja no poder, deve ditar às universidades privadas o que elas devem ensinar, quem podem recrutar e contratar, ou que temas podem investigar”, acrescentou.

A reação de Harvard foi saudada por centenas de professores e por várias figuras do Partido Democrata, incluindo o ex-presidente Barack Obama (2009-2017), que saudou a medida como um exemplo que deve ser seguido por outras instituições.

A Universidade de Harvard, próxima à cidade de Boston, tem cerca de 30 mil estudantes e está há anos firmemente estabelecida no topo da classificação mundial de Xangai sobre as instituições de ensino superior.

A “capitulação” da Universidade de Columbia

Em contraste, a Universidade de Columbia concordou em empreender reformas de longo alcance, vistas por alguns como uma capitulação ao governo Trump.

Epicentro dos protestos estudantis pró-palestinos que se alastraram pelos Estados Unidos no ano passado, a Columbia foi uma das primeiras universidades afetadas pela atual ofensiva de Washington.

Contudo, a instituição sediada em Nova Iorque disse nesta terça-feira que recusaria “qualquer acordo que [a] fizesse desistir da [sua] independência”.

Na semana passada, uma juíza de imigração decidiu que o estudante da Columbia e ativista palestino Mahmoud Khalil – preso no início de março por autoridades de imigração apesar de estar no país em situação legal – pode ser deportado, porque as crenças dele supostamente ameaçariam a segurança nacional americana.

Khalil, de 30 anos, participou de protestos em solidariedade aos palestinos afetados pela guerra entre Israel e o grupo militante Hamas na Faixa de Gaza.

rc (Lusa, AFP)

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