Após fim da greve de fome, veja os próximos passos do processo de Glauber Braga

Após nove dias de greve de fome, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) deve concentrar seus esforços em negociar alternativas para o seu processo de cassação e recorrer ao relatório do Conselho de Ética na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). As negociações devem ganhar corpo apenas no começo do próximo mês.

Braga teve o pedido de cassação aprovado pela Comissão de Ética da Câmara após ser acusado de agredir e expulsar um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) da Casa. Ele nega as acusações e aponta uma conspiração comandada pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (Progressistas-AL) para a perda de seu mandato.

A suspensão da greve de fome veio após uma articulação intensa entre o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e os líderes do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), e do PSOL, Taliria Petroni (PSOL-RJ). A esposa de Glauber, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) também participou ativamente das negociações.

Pelo acordo, o recurso de Braga na CCJ deverá ser analisado e, a partir disso, o processo ficará na geladeira por 60 dias. Após esse período, o processo poderá ser votado no plenário da Câmara.

“Garanto que, após a deliberação da CCJ, qualquer que seja ela, não submeteremos o caso do deputado ao plenário da Câmara antes de 60 dias para que ele possa exercer a defesa do seu mandato parlamentar”, disse Motta, em publicação na rede social X.

O prazo negociado abre um período para que o PSOL e o governo tentem controlar os ânimos para evitar a cassação de Glauber. Uma das alternativas é negociar uma punição mais branda, como a suspensão do mandato ou uma moção. A ideia é rechaçada pelo Centrão, que cobra uma tramitação mais rápida do processo.

Interesse do Planalto

A esquerda parece mobilizada a negociar um acordo em torno de Glauber Braga e as conversas devem chegar ao Palácio do Planalto. Internamente, há a expectativa da interferência do governo na costura das negociações.

Aliados de Braga admitem não contar com Lula diretamente à frente das conversas, mas vê brechas para a participação de ministros do Planalto. Durante o período em que esteve de greve de fome, Glauber recebeu a visita de ao menos oito ministros palacianos.

A principal expectativa é a entrada de Gleisi Hoffmann, ministra da articulação política, nas negociações com o Centrão e com Hugo Motta. Gleisi visitou Glauber e é uma das defensoras da manutenção do mandato do carioca.

Mas o apoio do governo a Glauber Braga escancara a preocupação com a suplente do carioca. Caso perca o mandato, a cadeira do parlamentar será ocupada por Heloísa Helena (Rede-RJ), desafeto dos petistas.

Ex-senadora, Helena foi expulsa do partido em 14 de dezembro de 2003, após protestar contra a reforma da previdência defendida pelo primeiro governo Lula. Além dela, a deputada Luciana Genro (RS), Babá (PA) e João Fontes (SE) também foram expulsos. Os quatro, mais tarde, colaboraram para a fundação do PSOL.

Em meio às polêmicas e divisões dos psolistas, Heloísa Helena foi para a Rede Sustentabilidade, partido da ministra Marina Silva. A preocupação com o nome da alagoana aumenta em meio à tensão entre ela e a ministra, que disputam na Justiça o comando do partido.

Nos corredores, o governo está em alerta para a oposição que Helena poderá protagonizar dentro da esquerda, enquanto o Planalto tenta contornar os problemas de articulação no Congresso Nacional.

Processo deve ser decidido no segundo semestre

Com o processo travado em pelo menos 60 dias, a análise da cassação de Glauber Braga poderá ficar apenas para o segundo semestre. Até lá, psolistas e aliados de Braga devem intensificar as negociações com o Centrão em busca de alternativas.

Mas as conversas não devem ser fáceis. O bloco cobra prioridade no processo de cassação e deu 10 dos 13 votos favoráveis à cassação no Conselho. O relator do caso é Paulo Magalhães, do PSD, partido da base governista.

Se cumprido o prazo de 60 dias, o processo de cassação de Glauber Braga será mais rápido se comparado ao do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), apontado como mandante do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Aprovado no Conselho de Ética, o processo está parado desde agosto de 2024.

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