Europa vê oportunidade para atrair pesquisadores de elite afetados por cortes do governo Trump. Na Universidade Aix-Marseille, na França, iniciativa do tipo recebeu uma enxurrada de inscritos.Um grupo de pesquisadores baseados nos EUA deve começar a trabalhar em uma universidade francesa em junho, em meio à ofensiva do governo Donald Trump contra universidades americanas que envolve cortes de verbas para pesquisa e tentativas de controle sobre o ambiente de ensino.
A Universidade de Aix-Marseille, na França, disse que sua iniciativa “Safe Place for Science” (Lugar Seguro para a Ciência), que em março passou a aceitar cientistas norte-americanos ameaçados por cortes determinados pela Casa Branca, estava repleta de candidatos.
O programa tem como objetivo atrair pesquisadores norte-americanos de áreas como saúde, estudos queer, medicina, epidemiologia e mudanças climáticas.
A Aix-Marseille disse que recebeu 298 inscrições, das quais 242 foram consideradas elegíveis. As inscrições agora estão sendo analisadas, já que havia apenas 20 vagas disponíveis. Entre os candidatos, estavam 135 cidadãos americanos e 45 pessoas com dupla nacionalidade.
“Nossos colegas ficaram com medo”, disse o diretor da universidade, Eric Berton. “Era nosso dever estar à altura da ocasião”.
Berton acrescentou que dez universidades europeias entraram em contato com ele para lançar programas semelhantes. Ele defende a criação de um status de “cientista refugiado” para permitir que mais pesquisadores norte-americanos entrem na França e na Europa, um apelo feito também pelo ex-presidente francês François Hollande.
Europa interessada em receber acadêmicos
Com muitos acadêmicos baseados nos EUA pensando em cruzar o Atlântico em meio às ameaças crescentes de Trump, a Europa vê uma oportunidade.
Pelo menos 13 países europeus, incluindo Alemanha, França e Espanha, solicitaram à Comissão Europeia, em uma carta assinada em março, que agisse rapidamente para atrair acadêmicos talentosos, segundo a agência de notícias Reuters.
O Conselho Europeu de Pesquisa, um órgão da UE que financia o trabalho científico, disse à Reuters que planejava dobrar o orçamento de realocação concedido aos pesquisadores que se mudassem para a UE.
Alemanha quer atrair até mil pesquisadores
A Reuters também relatou ter visto documentos durante a negociação da futura coalizão de governo da Alemanha nos quais se mencionava um plano de atrair até mil pesquisadores.
“O governo americano está atualmente usando a força bruta contra as universidades dos EUA, de modo que os pesquisadores americanos estão agora entrando em contato com a Europa”, disse Friedrich Merz, provável futuro chanceler federal da Alemanha, em março. “Essa é uma grande oportunidade para nós.”
Um funcionário da Casa Branca foi citado pela Reuters afirmando que o governo dos EUA estava priorizando áreas de financiamento que provavelmente trariam retorno para os contribuintes “ou algum tipo de avanço científico significativo”.
Qual é a probabilidade de a Europa tomar o espaço dos EUA?
Os cortes de Trump afetaram acadêmicos das principais universidades do mundo, como Yale, Columbia e Johns Hopkins, aumentando as esperanças de atrair pesquisadores talentosos para a Europa.
No entanto, alguns argumentam que, apesar dos cortes e das tentativas da Europa de aproveitar a oportunidade, a diferença atual entre os gastos com universidades nos EUA e na Europa indica que o status quo não mudaria tão rapidamente.
“Não prevejo um rápido desenvolvimento de capacidade científica adicional que possa se equiparar ao que os EUA têm agora… por várias décadas”, disse Michael Oppenheimer, professor de geociências e assuntos internacionais em Princeton, à Reuters.
bl (afp, reuters)