Inaugurada por JK, Brasília celebra 65 anos como símbolo nacional

Inaugurada em 1960 pelo então presidente Juscelino Kubitscheck, Brasília completa 65 anos nesta segunda-feira (21). A capital foi construída em tempo recorde e tinha o objetivo de promover integração nacional e acelerar o desenvolvimento do interior.

A cerimônia que marcaria a transferência definitiva da sede dos Três Poderes para o Planalto Central, antes alocada no Rio de Janeiro, começou às 8h da manhã.

Ao som do Hino Nacional, Kubitschek ergueu pela primeira vez a bandeira do Brasil na recém-construída Praça dos Três Poderes.  

“Declaro, sob a proteção de Deus, inaugurada a cidade de Brasília, capital dos Estados Unidos do Brasil”, discursou JK.  

Na sequência, o presidente assinou seu primeiro ato oficial em solo brasiliense: uma mensagem ao Congresso Nacional com o projeto de lei para a criação da Universidade de Brasília (UnB). 

Representantes estrangeiros, ministros e líderes da Igreja Católica também participaram da cerimônia e foram os primeiros convidados recebidos oficialmente no Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo. 

Ainda naquele dia, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal realizaram suas primeiras sessões para instalação dos trabalhos na nova capital.  

O clima no país era de esperança. “Meu pensamento volta-se neste instante para as novas gerações que hão de recolher o fruto de nossos trabalhos e encontrar um Brasil diferente daquele que encontramos, um Brasil integrado no seu verdadeiro destino”, disse JK. 

O vice-presidente da República à época, João Goulart, que também acumulava o cargo de presidente do Senado, exaltou o esforço coletivo na realização de Brasília. Falou em “justiça” e “apreço” ao se referir aos que tornaram possível uma “obra tão complexa e monumental”. 

Outros dois parlamentares discursaram na solenidade: o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli (SP), e o vice-presidente do Senado, Filinto Müller (MT). 

Mazzili destacou que, apesar das dúvidas de muitos, a nova capital foi erguida como “o primeiro passo para a fraternal partilha dos bens econômicos, sociais e culturais”. 

“Não existem soluções prontas para problema algum. E a inauguração de Brasília é apenas a entrega de um instrumento de ação aos homens que daqui deverão governar o país. Fizeram a sua parte os construtores e os pioneiros. Deram-nos um ambiente de beleza e serenidade, aliando ao funcional o espiritual”, afirmou o deputado. 

Já o senador Filinto Müller ressaltou o sonho e a esperança que circundavam as expectativas por Brasília. “Todo o Brasil compreendeu o significado de Brasília. Todo o Brasil lutou por ela. Todo o Brasil pôs naquele sonho as suas esperanças”, declarou. 

A ideia de levar a capital para o interior do Brasil era antiga, mas só saiu do papel com Kubitschek.  

Como parte do plano de metas que prometia “cinquenta anos em cinco”, Brasília foi concebida para promover a integração nacional, impulsionar o desenvolvimento do interior e afastar o centro do poder de tensões políticas e de pressões populares concentradas no Rio de Janeiro.  

A cidade foi construída em tempo recorde por cerca de 60 mil trabalhadores vindos de várias regiões do país, mas principalmente do Nordeste — os candangos.  

O projeto urbanístico de Lúcio Costa e a arquitetura de Oscar Niemeyer criaram uma capital símbolo do modernismo, com formas ousadas e traços simbólicos.  

Um ícone da arquitetura

Brasília foi pensada para ser uma cidade moderna em todos os sentidos — inclusive na forma. O projeto urbanístico foi escolhido por meio de um concurso público vencido por Lúcio Costa, que desenhou a cidade com o traçado em forma de avião. 

 A arquitetura ficou a cargo de Oscar Niemeyer, responsável pelos edifícios monumentais que marcaram o estilo modernista brasileiro. Concreto, curvas e grandes vãos livres deram à nova capital uma identidade única, que refletia a ideia de um país voltado para o futuro. 

A Praça dos Três Poderes tornou-se um dos marcos mais reconhecíveis da arquitetura brasileira por unir, em poucos metros, os poderes: Legislativo, com o Congresso Nacional; Judiciário, com o Supremo Tribunal Federal (STF) e Executivo, com o Palácio do Planalto. 

O Congresso Nacional, que reúne sob a mesma estrutura, 513 deputados federais e 81 senadores de todo o país, tornou-se um dos marcos mais reconhecíveis da arquitetura brasileira por simbolizar a união entre as duas casas legislativas. 

Para Niemeyer, o projeto que desenhou o palácio tinha mais do que uma função prática. 

“Arquitetura não constitui uma simples questão de engenharia, mas uma manifestação do espírito, da imaginação e da poesia (…). No Palácio do Congresso, por exemplo, a composição se formulou em função desse critério, das conveniências da arquitetura e do urbanismo, dos volumes, dos espaços livres, da oportunidade visual e das perspectivas e, especialmente, da intenção de lhe dar o caráter de monumentalidade, com a simplificação de seus elementos e a adoção de formas puras e geométricas. Daí decorreu todo o projeto do Palácio e o aproveitamento da conformação local, de maneira a criar no nível das avenidas que o ladeiam uma monumental esplanada e sobre ela fixar as cúpulas que deviam hierarquicamente caracterizá-lo”, disse o arquiteto à época.

Segundo o consultor legislativo Marcos Magalhães, ao contrário do que acontecia no Rio de Janeiro, onde Câmara e Senado ocupavam prédios distintos, a proximidade física em Brasília favoreceu uma nova dinâmica entre as duas Casas Legislativas. 

“O edifício foi pensado não apenas como uma sede funcional, mas como uma afirmação simbólica da harmonia entre os Poderes e do espírito republicano que motivou a mudança da capital”, disse o consultor. 

A construção de Brasília foi uma decisão política do presidente Juscelino Kubitschek, mas foi o Congresso Nacional quem autorizou e acompanhou cada etapa da empreitada. 

No mesmo dia, Brasília inaugurou também outras duas sedes dos Poderes com arquitetura assinada por Niemeyer, o STF, a Corte mais importante do judiciário brasileiro, e o Palácio do Planalto, de onde despacha oficialmente o presidente da República e seu vice.   

O então presidente da Corte, ministro Barros Barreto, iniciou a sessão solene de inauguração da sede do STF às 9h30 e discursou sobre o significado da mudança para a capital federal. 

“Neste planalto e nesta hora, em que, entre festejos e aplausos, se instala a Capital do País, espero venha a surgir uma nova era, a que tanto aspiramos, para os melhores destinos da nossa Pátria, era que se anuncia no arrojo e suntuosidade deste empreendimento de repercussão histórica, que é Brasília”, disse o ministro.  

Além da presença de oito dos ministros atuantes naquele momento, a cerimônia contou com a presença de autoridades militares e civis.  

Na Praça dos Três Poderes, líderes estrangeiros e populares se reuniram para presenciar a solenidade de inauguração do Palácio do Planalto, que simbolizava oficialmente a mudança da capital. 

Durante seu discurso, JK ressaltou que a ação de estabelecer uma nova capital seria o ato mais importante de sua vida política. “Brasileiros! Daqui, do centro da Pátria, levo o meu pensamento a vossos lares e vos dirijo a minha saudação. Explicai a vossos filhos o que está sendo feito agora. É sobretudo para eles que se ergue esta cidade síntese”, declarou o então líder do Executivo.  

*Sob supervisão de Mayara da Paz

Este conteúdo foi originalmente publicado em Inaugurada por JK, Brasília celebra 65 anos como símbolo nacional no site CNN Brasil.

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