É ruim que a Geração Z faça menos sexo que outras? Especialistas explicam

Nos últimos anos, uma série de pesquisas trouxe um tópico muito relevante para a mesa de discussões de sexólogos, educadores e psicólogos: a Geração Z, composta pelas pessoas que nasceram entre 1995 e 2010, faz menos sexo do que as que vieram antes.

Muito mais individualistas e cronicamente on-line do que os millennials, que vieram imediatamente antes deles, as pessoas da Geração Z tendem a sofrer para conseguir conexões profundas e físicas, já que passam suas vidas nas redes sociais e aplicativos. Essas não são, no entanto, as únicas explicações para o apagão sexual entre os jovens.

A sexóloga e membro da Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual (Abrasex) Tamara W. Zanotelli defende a tese de que, com mais acesso a uma educação sexual de qualidade, a Geração Z é capaz de tomar decisões melhores e mais conscientes.

“Eu também acredito que a questão da educação sexual melhorou muito, mas isso também traz para nós mais consciência sobre o consentimento, sobre escolha, e sem contar que a gente vive numa era onde as preocupações financeiras pesam muito. Isso pode fazer com que a gente adie relacionamentos sérios”, afirmou em entrevista à CNN.

Luciana Vilela, também sexóloga e fundadora do Grupo Afrodites, também enxerga uma mudança nas prioridades da Geração Z, que, segundo ela, está mais focada em alcançar conforto financeiro e bem-estar individual do que em desenvolver uma vida sexual tão ativa.

“Muitos jovens estão focados em estudos, carreira e bem-estar pessoal, postergando relacionamentos sérios e vida sexual ativa. Enquanto diferentes gerações passadas viam o sexo como um rito de passagem, quase obrigatório, hoje há mais aceitação para diferentes estilos de vida, incluindo a escolha de não ter relações sexuais”, defende.

Apagão sexual na Geração Z é um problema?

Abstinência sexual por si só não é exatamente um problema se ela for fruto de uma escolha fundamentada e respeitosa, conforme explica o médico Rodrigo Schroder, especialista nos 7 pilares da saúde (mente, corpo, família, vida sexual, profissional, espiritual e financeiro).

“O problema surge quando a decisão vem de medo, culpa, desinformação, ou falta de contato humano. Isso pode impactar o desenvolvimento da identidade sexual, gerar ansiedade social, e dificultar a criação de vínculos profundos. Por isso, o papel dos pais, educadores e profissionais de saúde é orientar, acolher e garantir que o jovem tem acesso à informação segura, sem tabu e com empatia”, explica Schroder.

Vilela, por sua vez, alerta para os perigos de uma castidade induzida por um ambiente moralista ou religioso — o que, segundo ela, pode causar culpa e vergonha.

“A adolescência é uma fase de autoconhecimento e a repressão total da sexualidade pode dificultar a compreensão dos desejos, dos limites das orientações sexuais, o que pode levar a dificuldades em relacionamentos futuros, ansiedade, estresse”, afirma. “Estudos mostram que adolescentes educados exclusivamente com base na abstinência podem ser mais propensos a comportamentos sexuais de risco quando finalmente decidem ter relações, pois não receber educação sob proteção e consentimento.”

“Isso não significa que a castidade e a abstinência sejam necessariamente prejudiciais. Quando são escolhas conscientes e não impostas por medo ou pressão social, podem ser vividas de maneira saudável.”

Deixar os adolescentes no escuro, sem acesso a uma educação sexual de qualidade, pode colocá-los em situações arriscadas, segundo Zanotelli. Ela defende que sentir atração faz parte da vida jovem.

“Sem um entendimento saudável dessa sexualidade, eles acabam, muitas vezes, se colocando em situações arriscadas. Então, buscam experiência sem certeza do que estão fazendo, vivem o que os amigos falam, e tudo isso pode ser muito perigoso e muito problemático”, reforça. “Então, quando esses adolescentes não têm esse espaço para falar sobre isso, muitas vezes acaba gerando muita frustração, muita ansiedade, muita curiosidade.”

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Este conteúdo foi originalmente publicado em É ruim que a Geração Z faça menos sexo que outras? Especialistas explicam no site CNN Brasil.

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