Poderosos, povo e crianças, veja como foi último dia do Papa

VATICANO, 21 ABR (ANSA) – Por Nina Fabrizio – O desejo do papa Francisco de estar presente já era conhecido desde a tarde do último sábado, especialmente para conceder a bênção “Urbi et Orbi” (“À cidade e ao mundo”), na solenidade da Páscoa, coração do cristianismo. Uma espécie de último testamento, poderíamos dizer hoje (21), no dia de sua morte.   

Contudo, nem mesmo ele poderia prever que seu último dia se desenrolaria quase que como uma soma de todos os ensinamentos e mensagens que ele transmitiu durante seus 12 anos de pontificado.   

Do chamado ao mundo da cadeira mais alta às carícias das crianças, um símbolo do futuro. De loggione – onde fez uma aparição surpresa no dia de sua eleição, 13 de março de 2013, quando cativou a multidão ao afirmar ter vindo do “fim do mundo” – ao “nível inferior” da praça, com seu último passeio no papamóvel, um “mergulho” entre os fiéis, seu último antes de deixar o palco para sempre.   

O dia do Papa começou com ele acordando na casa Santa Marta, em seu apartamento no segundo andar. Como sempre, ao seu lado estavam seu enfermeiro de confiança, Massimiliano Strappetti, e seu secretário, Fabio Salerno.   

O Pontífice estava perfeitamente vestido e preparado para um primeiro compromisso importante, um encontro pessoal com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance. Tendo já se manifestado na sexta-feira anterior, Francisco estava muito interessado nesta breve conversa, uma reunião cara a cara com um homem que se professa católico e cujas responsabilidades e visão política o Papa conhecia bem, tão distante de tudo que ele pregou durante seu pontificado, particularmente no que diz respeito à necessidade de não construir muros.   

O Santo Padre reservou carícias e presentes, como ovos de Páscoa, para os três filhos de Vance, que recebeu com cortesia e em clima familiar em uma pequena sala da Santa Marta, por volta das 11h30 (horário local) – alguns minutos para olhar em seus olhos e apostar que deixaria uma marca nele.   

Às 12h, Francisco apareceu na loggia delle Benedizioni. Com a voz embargada, ele desejou à multidão de fiéis uma “Feliz Páscoa” e, com palavras claras, mas dolorosas, ele mesmo explicou que a mensagem pascal seria lida por um assistente.   

O cessar-fogo na Faixa de Gaza e a libertação dos reféns ainda mantidos pelo Hamas foram seu apelo ao mundo, juntamente com um apelo final: “A paz não é possível sem o verdadeiro desarmamento! A necessidade de cada povo de garantir sua própria defesa não pode se transformar em uma corrida armamentista generaliza”.   

Ele retornou à praça para se aproximar do papamóvel e conduzir os fiéis para celebrar a Páscoa, um evento não programado que ficará gravado não apenas na memória daqueles que participaram, mas também daqueles que já o veem como uma espécie de legado.   

Na Basílica, ele se encontrou brevemente com o primeiro-ministro da Croácia, Andrej Plenkovic, que estava em uma visita privada com sua família. Foram justamente os seus três filhos que Francisco abordou, tomando a mão do mais velho para lhe entregar um terço.   

O rosto do líder da Igreja Católica estava muito aflito, a cena despertava emoção nos presentes, quase como se estivesse envolto em uma bolha de irrealidade. O Papa então embarcou no papamóvel para ser “visto” pelo mundo pela última vez, por volta das 13h, encorajado pelo afeto dos fiéis. (ANSA).   

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