A defesa da Amazônia, tanto de seu equilíbrio ecológico quanto de seus habitantes, foi uma das grandes batalhas de Francisco, o primeiro papa latino-americano da história, que morreu na segunda-feira(21) aos 88 anos.
Considerado o pontífice mais sensível às questões ecológicas após a publicação da encíclica “Laudato si” em 2015, o papa argentino buscou mobilizar os líderes mundiais para enfrentar os grandes problemas enfrentados por esse vasto território.
Por essa razão, em outubro de 2019, convocou um sínodo ou assembleia de bispos no Vaticano dedicado à Amazônia, região que abrange nove países sul-americanos e mede 7,5 milhões de km2, conhecida por suas florestas tropicais ricas em biodiversidade, mas que está sendo devastada.
Pela primeira vez na história, bispos desses territórios remotos da floresta participaram, ao lado de especialistas, missionários e indígenas, dos encontros de três semanas realizados no Palácio Apostólico sob o tema “Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”.
Francisco considerou a Amazônia “um lugar representativo e decisivo”, onde muitos interesses estão em jogo, e prometeu lutar contra sua devastação em resposta ao profundo sofrimento dos povos indígenas por suas terras.
Com este debate histórico para a Igreja, Francisco procurou dar o exemplo do que chamou de “ecologia integral”, que leva em conta “o clamor da terra e dos pobres”.
Da Basílica de São Pedro, denunciou o “desenvolvimento predatório” que “mata”, “saqueia”, “destrói” e “aniquila”, o que foi até descrito como “heresia” por setores conservadores.
Na exortação apostólica “Querida Amazônia”, fruto desses esforços, Francisco introduziu o termo “pecado ecológico”, porque “devastar a natureza é pecado”, afirmou.
No entanto, ele se recusou a atender ao pedido feito pelos bispos latino-americanos de autorizar excepcionalmente a ordenação de alguns homens casados da região amazônica, o que decepcionou muitos setores.
Junto com o pecado ecológico, introduziu o rito amazônico, que para alguns era outra heresia.
A ideia de usar imagens e símbolos de populações amazônicas em ritos litúrgicos gerou muitas reações, principalmente dos setores mais conservadores.
“Não há diferença entre as penas na cabeça de um indígena da Amazônia e o chapéu usado pelos líderes da Igreja”, comentou Francisco, provocativamente.
O papa também traçou o caminho para atender às necessidades espirituais dos habitantes da floresta amazônica, pedindo o fortalecimento do papel dos missionários, mas fechando as portas para mulheres diaconisas naquela região.
Francisco evitou a questão do reconhecimento oficial da Igreja do papel fundamental que as mulheres leigas desempenham na disseminação da fé católica na Amazônia, objeto de polêmica.
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