De ‘Conclave’ a ‘Dois Papas’, Francisco inspirou cinema

NOVA YORK, 22 ABR (ANSA) – Por Alessandra Baldini – Entre maquinações, mistérios e rituais secretos, o processo dos bastidores da eleição de um pontífice tem sido uma fonte de inspiração para cineastas do mundo todo. Talvez também graças ao destino mortal do papa Francisco, um líder católico carismático com quase 90 anos.   

“Conclave”, de Edward Berger, que chegou a vencer no último Oscar o prêmio de melhor roteiro adaptado, é estrelado por Ralph Fiennes, o cardeal Lawrence encarregado de organizar o conclave, a assembleia de cardeais que elege o próximo sumo pontífice após a morte do então Bispo de Roma.   

Com Isabella Rosselini e Sergio Castellitto no elenco, a obra foi elogiada por fontes do Vaticano pela confiabilidade quase total do que acontece entre Santa Marta e a Capela Sistina e também se tornou um sucesso de bilheteria, arrecadando US$ 115 milhões globalmente.   

A ascensão de Jorge Mario Bergoglio ao trono papal em março de 2013 inaugurou uma nova tendência de filmes inspirados em sua figura. Menos hierática, mais acessível, profundamente contemporânea: a imagem de Francisco quebrava clichês no cotidiano, inaugurando uma temporada de reflexões também no cinema sobre espiritualidade, consciência, poder e crise da autoridade religiosa.   

O precursor desse novo gênero foi, sem dúvida, “Dois Papas”, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e magistralmente interpretado por Anthony Hopkins e Jonathan Pryce.   

Lançado em 2019 e agora disponível na Netflix, o filme biográfico ambientado na véspera da renúncia de Joseph Ratzinger ao papado imagina um confronto entre o conservador Bento XVI e o progressista arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio, envolvidos em um diálogo em Castel Gandolfo sobre fé, pecado e a possibilidade de mudança, com um final marcado pelo esporte.   

A produção também abre com um conclave, o de 2005, no qual o alemão foi eleito, deixando o argentino à beira do sucesso. Com três indicações ao Oscar (de roteiro e de dois atores), o filme de Meirelles trouxe o Vaticano de volta ao centro da grande narrativa cinematográfica mundial, já tendo sido tratado diversas vezes por Hollywood de forma mais ficcional, como no terceiro episódio de “O Poderoso Chefão” (1990) e em “Anjos e Demônios” (2009), baseado no romance de Dan Brown.   

Francisco também inspirou documentaristas: em 2018, foi lançado “Papa Francisco – Um Homem de Palavra”, no qual Wim Wenders apresenta o pontífice como um líder moral capaz de falar diretamente aos homens e mulheres do nosso tempo sobre questões como pobreza, meio ambiente e justiça social.   

Dois anos depois, chegou “Francesco”, de Evgeny Afineevsky, vencedor do Prêmio Kinéo, no Festival de Cinema de Veneza, causando ainda mais rebuliço por suas declarações sobre os direitos dos migrantes e homossexuais.   

Dedicado às missões do Papa no exterior, o filme “In viaggio”, de Gianfranco Rosi, apresentado fora de competição em Veneza em 2022, reconstitui com emoção as viagens de Bergoglio através da visualização dos filmes que as documentam: uma espécie de diálogo remoto entre o fluxo do arquivo das viagens do Papa, as imagens do seu cinema, a atualidade e a história recente.   

Depois, houve o filme biográfico de 2015, “Pode me chamar de Francisco”, de Daniele Luchetti, que retrata a juventude de Bergoglio (Rodrigo De La Serna) em Buenos Aires durante os anos da ditadura.   

Antes disso, foi a vez de “Habemus Papam”, de Nanni Moretti.   

Lançado em 2011 e, embora não fale diretamente de Francisco, o personagem interpretado por Michel Piccoli é um Papa que foge do Vaticano, antecipando quase profeticamente a ideia de um papado frágil, inquieto, humano.   

Por fim, totalmente imaginativo no registro barroco de Paolo Sorrentino, há a série da Sky “O Jovem Papa”, com o galã Jude Law. (ANSA).   

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