CIDADE DO VATICANO, 23 ABR (ANSA) – “Padre, padre, acabei de acordar e vi que o papa Francisco está morto. Ele nos ajudou tanto, ele fez tanto por nós”. Este foi o grito desesperado de Camilla – nome fictício -, uma das transexuais que encontrou abrigo na paróquia de Torvajanica, na costa romana, na manhã de segunda-feira (21), data do falecimento do líder da Igreja Católica.
O relato foi revelado à ANSA nesta quarta (23) pelo padre italiano dom Andrea Conocchia, que acabou de prestar uma homenagem ao corpo de Jorge Bergoglio, exposto na Basílica de São Pedro, no Vaticano, e onde permanecerá até seu funeral.
Durante a conversa, o religioso mostrou diversos vídeos e reproduziu algumas das mensagens de voz que recebeu de várias trans no dia em que o argentino faleceu, aos 88 anos, vítima de uma parada cardiocirculatória em decorrência de um AVC, após mais de dois meses de batalha contra uma grave pneumonia.
Segundo Conocchia, “as amigas e paroquianas trans” de Francisco “estão chocadas e agora com medo de serem abandonadas”.
“Na sexta-feira, quero retornar com elas a São Pedro para uma última despedida do Papa que as amou”, acrescentou o padre, que quase todas as quartas-feiras participava da audiência do Pontífice junto com um grupo de transexuais.
Nas celebrações, o Santo Padre sempre encontrava um momento para cumprimentar o padre Conocchia, envolvido na pastoral LGBT, e todas as transexuais.
De acordo com o religioso, o Papa sempre dizia: ‘Vá em frente, vá em frente” e então trocou correspondência com algumas das trans. “Elas escreveram, o Papa respondeu. Elas trouxeram suas especialidades culinárias, Francisco agradeceu”, lembrou.
O pároco da Beata Vergine Immacolata, uma pequena igreja em Torvajanica com vista para o mar, afirmou ainda que não imaginava que o argentino fosse morrer tão rápido.
“Quando o vi no domingo, eu esperava que, com o bom tempo, ele surgisse com alguma coisa e que pudéssemos vê-lo novamente nas audiências gerais na quarta-feira. Segunda-feira foi um dia de muita dor e profunda tristeza. Estou chorando”, lamentou.
Por fim, Conocchia contou que, desde segunda-feira, tem “pensado em todas as pessoas que o Papa ajudou durante a pandemia na paróquia de Torvajanica”, enfatizando que elas “perderam um ponto de referência, perderam uma certeza, uma pessoa que lhes deu tanto reconhecimento e ajuda material através da Esmoleria”.
“Estão perdidas. Espero que na sexta-feira possamos saudá-lo juntamente com as meninas transexuais e alguns amigos homossexuais. Mas, acima de tudo, espero que as portas que o Papa abriu não se fechem e que os processos possam prosseguir com coragem e profecia”, concluiu o padre italiano. (ANSA).