Conta verificada do governo israelense no X compartilhou, e depois tirou do ar, uma publicação em homenagem ao pontífice. Francisco era crítico contumaz do conflito em Gaza e fez diversos pedidos de cessar-fogo.O governo israelense compartilhou e, em seguida, excluiu uma postagem em rede social em que oferecia condolências pela morte do papa Francisco. Veículos israelenses vinculam a decisão às frequentes críticas do pontífice à guerra em Gaza.
A conta verificada do governo israelense no X, administrada pelo Ministério das Relações Exteriores, havia publicado uma homenagem ao papa na última segunda-feira. “Descanse em paz, papa Francisco. Que sua memória seja uma bênção”, dizia o texto, ao lado de uma imagem do pontífice visitando o Muro das Lamentações em Jerusalém.
Segundo apuração do jornal israelense Jerusalem Post, funcionários do Ministério das Relações Exteriores consideraram a publicação um erro devido a declarações feitas pelo papa vistas como críticas a Israel.
O veículo de comunicação israelense Ynet informou que as missões diplomáticas israelenses em todo o mundo também foram instruídas a excluir publicações semelhantes elogiosas ao pontífice. Os diplomatas ainda foram proibidos de assinar livros de condolências que foram colocados nas embaixadas do Vaticano em todo o mundo, segundo o veículo.
Em nota, o governo israelense disse apenas que seu embaixador no Vaticano, Yaron Sideman, estará no funeral de Francisco no sábado.
Uma manifestação de pesar do embaixador israelense na Itália, Jonathan Peled, chamando Francisco de “um líder compassivo, que promoveu incansavelmente o diálogo, a paz e a justiça”, ainda permanecia no X até esta quarta-feira.
Relações tensas
As relações entre Israel e o papa Francisco estavam tensas desde o início da guerra em Gaza, após o ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, com o pontífice frequentemente criticando o desdobramento da guerra e, ao mesmo tempo, denunciando o que chamou de “crescente clima de antissemitismo”.
Em novembro passado, Francisco subiu o tom nas críticas e sugeriu que a comunidade global deveria investigar se a campanha militar de Israel em Gaza constitui um crime de genocídio contra o povo palestino.
Em janeiro, o papa também chamou a situação humanitária em Gaza de “vergonhosa”, o que provocou críticas do rabino judeu em Roma, que acusou Francisco de demonstrar “indignação seletiva”. Em diversas entrevistas, o papa afirmou que ligava todas as noites para uma pequena missão católica em Gaza.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que lidera uma coalizão de ultradireita de partidos religiosos e nacionalistas, não comentou a morte do papa.
Já o presidente israelense Isaac Herzog, que tem um papel cerimonial no governo, publicou uma mensagem aos cristãos da Terra Santa e de todo o mundo, descrevendo Francisco como “um homem de profunda fé e compaixão sem limites”.
Gestos de aproximação
Antes da tensão gerada pelo conflito em Gaza, as relações entre a Igreja Católica e o judaísmo haviam melhorado nas últimas décadas, após séculos de animosidade.
Durante seus 12 anos de pontificado, o papa Francisco sempre foi cuidadoso ao tomar partido em conflitos e condenou o crescimento de grupos antissemitas.
Em 2014, Francisco visitou o Muro das Lamentações – o local de oração mais sagrado do judaísmo – e também orou em uma seção de um muro construído por Israel na Cisjordânia ocupada, dividindo Jerusalém e Belém.
gq/bl (afp, reuters)