
Cubatão, em São Paulo, já foi um símbolo extremo da degradação ambiental. Nos anos 1980, acumulava altos índices de poluição do ar, do solo e da água, tornando-se conhecida mundialmente como um dos lugares mais contaminados do planeta. Hoje, quatro décadas depois, recebe o selo internacional de “Cidade Verde do Mundo”, concedido pela fundação Green Destinations. O reconhecimento considera aspectos como governança, meio ambiente, turismo sustentável e qualidade de vida. A mudança é, sem dúvida, significativa. A cidade investiu em recuperação ambiental, ampliou a coleta seletiva, criou áreas verdes e fortaleceu programas de educação ambiental. Mas a pergunta que precisa ser feita é: o que realmente define uma cidade sustentável? A resposta não pode estar apenas na estética. Não basta plantar árvores ou restaurar áreas degradadas. A sustentabilidade urbana precisa incluir políticas públicas consistentes que garantam mobilidade, saneamento, habitação digna e redução das desigualdades. Em outras palavras, precisa colocar as pessoas no centro das soluções.

O Brasil tem exemplos que ilustram as complexidades desse caminho. Curitiba, por muitos anos tida como referência mundial, enfrenta hoje problemas estruturais graves, como crescimento desordenado e aumento da desigualdade. Florianópolis implementou ações positivas, como ciclovias e gestão de resíduos, mas convive com ocupações irregulares em áreas ambientalmente frágeis. Já São Paulo, apesar dos programas de telhados verdes e hortas comunitárias, ainda tem córregos canalizados e comunidades inteiras à margem dos serviços públicos.
O selo concedido a Cubatão é importante, mas não pode ser visto como ponto de chegada. Serve, antes, como um lembrete: é possível mudar. Mas mudar de verdade exige mais do que boas práticas pontuais — exige continuidade, planejamento e inclusão social. O risco está em transformar a sustentabilidade em ferramenta de marketing político, descolada das necessidades reais da população. Em tempos de emergência climática, cidades que se dizem verdes precisam, de fato, provar que estão construindo futuros mais justos, resilientes e inclusivos. Mais do que selos e premiações, o Brasil precisa de políticas públicas que enxerguem a cidade como organismo vivo — onde o verde floresce junto com a cidadania.