Sucessor deve dar continuidade a legado de Francisco, diz CNBB

SÃO PAULO, 24 ABR (ANSA) – Por Luciana Ribeiro – Os últimos 12 anos em que o papa Francisco esteve no trono de Pedro foram marcados por uma transformação significativa na Igreja Católica Romana, pautada por reformas inéditas, abertura ao diálogo e uma postura mais progressista, principalmente no que diz respeito a questões sociais e humanitárias.   

Considerado o “papa dos pobres”, Jorge Mario Bergoglio morreu aos 88 anos, no último dia 21 de abril, em decorrência de um AVC seguido de uma parada cardiocirculatória, e deixou um questionamento: os 135 cardeais com direito a voto no próximo conclave vão optar por escolher um representante com perfil mais conservador ou um substituto para dar continuidade ao seu legado? Em entrevista à ANSA, o padre Arnaldo Rodrigues, assessor de imprensa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), destacou que acredita que o sucessor do argentino “vai dar continuidade ao seu trabalho”, da mesma forma que “Francisco também deu continuidade em muitas coisas que Bento XVI realizou”.   

Segundo ele, a Igreja Católica “tem um sentido muito mais amplo do que apenas uma característica de uma pessoa” e, sendo universal, “pensa em todos os temas que o papa Francisco ressaltou muito, como a transparência, o cuidado com o migrante, a questão dos conflitos armados em vários países e locais”.   

Para Rodrigues, o novo papa deve abordar assuntos que Bergoglio tanto defendeu em seu pontificado, como “uma igreja mais austera, mais presente e que realmente faça parte da vida do povo”.   

“Se nós observamos bem, cada papa dá continuidade naquilo que o seu antecessor pensou, mas é claro que cada um também coloca depois um pouco da sua própria personalidade, da sua história, da sua cultura”, afirmou o religioso.   

Desde que iniciou seu pontificado, em 2013, e tornou-se o primeiro papa latino-americano da história, Francisco tentou inserir a Igreja Católica no século 21, pregando o amor, a humildade, o acolhimento de todas as minorias, excluídos e perseguidos, incluindo migrantes e homossexuais, e a luta pelo meio ambiente. Suas declarações lhe renderam o rótulo de “progressista”.   

O padre brasileiro, porém, acredita que, em vez de progressista, Francisco pode ser chamado de “um homem atual”, por ter respondido ao desafio da sua época, assim como todos os outros papas, e ter uma “visão muito longa e muito horizontal”.   

“Ele foi um homem atual que tocou em temas que muitos não tocaram, como por exemplo a questão ética da inteligência artificial, em que o Papa estimulou todo o Vaticano, toda Igreja, a refletir sobre isso”, enfatizou Rodrigues, lembrando que a sociedade também foi incentivada a pensar sobre o papel da tecnologia.   

O representante da CNBB acredita que o legado deixado por Bergoglio “é cada vez mais uma Igreja próxima de seu povo, que busca esse compromisso com causas que realmente tocam a vida da sociedade, como o meio ambiente e os conflitos mundiais”.   

“O Papa nos deixou essa Igreja cada vez mais comprometida com isso. E este é o legado que vai permanecer e até mesmo marcar o próximo que vier como seu sucessor”, disse.   

A expectativa é de que o conclave, que contará com sete brasileiros eleitores, seja realizado na primeira quinzena de maio. “Se vai ser algum brasileiro, isso Deus já sabe. Nós acreditamos que a escolha do papa somente passa pelas mãos dos cardeais, mas quem escolhe é Deus”, concluiu ele. (ANSA).   

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