Bagaço de cana-de-açúcar pode revolucionar a indústria de embalagens

Um dos resíduos mais abundantes do setor sucroalcooleiro brasileiro, o bagaço da cana-de-açúcar, acaba de ganhar um novo e nobre destino. Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), desenvolveram uma embalagem biodegradável e condutiva, feita a partir desse resíduo vegetal combinado com negro de fumo. O objetivo: substituir plásticos derivados de petróleo na proteção de equipamentos eletrônicos sensíveis, como chips e semicondutores. O material, chamado de “criogel condutivo”, é leve, poroso, resistente e capaz de dissipar cargas eletrostáticas — algo essencial na indústria de tecnologia, onde um simples acúmulo de eletricidade estática pode comprometer circuitos inteiros. Além das qualidades técnicas, a inovação carrega uma proposta ambiental poderosa: reduzir o impacto dos resíduos plásticos, que ainda dominam o setor de embalagens. Segundo dados do WWF Brasil, mais de 3 milhões de toneladas de plástico são descartadas todos os anos no país — e apenas 1% disso é reciclado de forma efetiva. Ao dar novo valor a um rejeito agrícola, o projeto também se insere numa lógica de economia circular, em que resíduos passam a ser vistos como insumos. “Estamos falando de um resíduo amplamente disponível, de baixo custo e que, agora, pode gerar produtos de alto valor agregado com menor impacto ambiental”, destaca o CNPEM em nota oficial.

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Apesar do potencial, o país ainda engatinha quando o assunto é transformação industrial sustentável. A cadeia produtiva do plástico, por exemplo, continua dependente de fontes fósseis e pouco integrada a modelos de reciclagem ou reaproveitamento em larga escala. O avanço de iniciativas como o criogel condutivo mostra que a ciência nacional está pronta para responder aos desafios ambientais e tecnológicos. Resta saber se haverá apoio suficiente — público e privado — para transformar essas respostas em políticas e produtos amplamente adotados. Em tempos de urgência climática e crescente pressão por responsabilidade ambiental, o Brasil tem, no seu próprio solo, matérias-primas e inteligência para inovar com propósito. O que falta, talvez, seja reconhecer o valor disso antes que o mundo leve o crédito.

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