VATICANO, 25 ABR (ANSA) – Por Fausto Gasparroni – O principal desafio que os cardeais reunidos na Capela Sistina para o conclave terão de enfrentar ao escolher o novo pontífice será identificar quem poderá herdar o vasto legado do papa Francisco.
Os muitos “canteiros abertos” deixados por Jorge Bergoglio, ou “processos em andamento”, como ele mesmo dizia, são capítulos que ainda precisam ser escritos e que, na visão de muitos, não podem ser revertidos.
Em 2013, quando Bento XVI renunciou, a Igreja Católica atravessava uma grave crise, marcada por escândalos de vazamento de informações sigilosas, irregularidades financeiras e abusos sexuais no clero, e o mandato dos cardeais a quem se tornasse o novo papa era o de reconstruir a Santa Sé sobre novas bases, com um espírito de renovação cristã e uma missão evangelizadora revitalizada.
Foi exatamente isso que Jorge Mario Bergoglio buscou, não sem grandes obstáculos, ao longo de 12 anos de pontificado: reformas financeiras, mudanças na Cúria, com a inédita inclusão de leigos e mulheres em cargos de governo, avanços na proteção de menores e uma postura pessoal de radicalidade cristã, com proximidade aos pobres, migrantes e “descartados”, além de uma incansável dedicação à paz, à fraternidade humana e ao diálogo inter-religioso.
Esse conjunto de iniciativas recolocou em destaque muitos dos propósitos ainda não realizados do Concílio Vaticano II, até então prejudicados por resistências e passividades dentro da Igreja. Sem contar o último grande projeto de Francisco: a Igreja “sinodal”, que prevê uma grande assembleia final já marcada para outubro de 2028.
O próximo sucessor de Pedro herdará um caminho em grande parte traçado. Caberá a ele retomar todas as reformas e conduzi-las adiante, de acordo com suas próprias sensibilidades e prioridades, mas também com a necessária autoridade e capacidade de governo, qualidades indispensáveis para o pastor universal de uma instituição tão complexa e vasta como a Igreja Católica.
Esse, em resumo, deve ser o perfil do novo Papa, ao menos para quem acredita que não há recuo possível na revolução promovida por Bergoglio em tantos setores da Igreja. Por outro lado, não faltarão esforços dos conservadores, aqueles no colégio cardinalício que gostariam de voltar no tempo e desfazer muitas das inovações de Francisco, especialmente em áreas como a pastoral da família (alguns ainda não digeriram a comunhão a divorciados recasados ou as bênçãos a casais homoafetivos).
O fato de que 108 dos 135 cardeais eleitores (80%) foram nomeados por Francisco não garante o resultado final: trata-se de um grupo muito diverso, onde muitos nem se conhecem, e que inclui até ferrenhos opositores da linha bergogliana, como o alemão Gerhard Ludwig Müller.
O desfecho do conclave, portanto, é incerto. E, além dos favoritos apontados pela mídia, é possível que, no final, surja um nome completamente inesperado. (ANSA).