Funeral de Francisco reúne 200 mil e exalta ‘papa do povo’

VATICANO, 26 ABR (ANSA) – O Vaticano celebrou na manhã deste sábado (26) o funeral do papa Francisco, cerimônia acompanhada na Praça São Pedro por dezenas de milhares de fiéis emocionados e mais de 150 delegações estrangeiras, refletindo a popularidade de um pontificado que revolucionou a Igreja Católica ao longo de 12 anos.   

Após três dias de velório público na Basílica de São Pedro, o caixão fechado de Jorge Bergoglio foi levado para o lado de fora do templo máximo do catolicismo pouco depois das 10h (5h em Brasília), em uma manhã ensolarada na Itália, e foi recebido por um longo aplauso dos fiéis. Segundo o Vaticano, pelo menos 200 mil pessoas acompanharam a missa exequial na praça e nas ruas dos arredores.   

Precedido por uma procissão de 220 cardeais, o esquife de Francisco foi levado pelos sediários, aqueles que, no passado, tinham a função de carregar os papas em compromissos oficiais, depois substituídos pelo papamóvel, e colocado sob uma proteção no centro da praça, tendo sobre si um Evangelho aberto pelo mestre das celebrações litúrgicas pontifícias, Diego Ravelli.   

Ao lado do caixão, foi colocada uma cópia do “Salus Populi Romani”, ícone venerado pelo argentino na Basílica Santa Maria Maggiore (Santa Maria Maior), igreja escolhida por ele para seu sepultamento. A réplica é a mesma utilizada na histórica bênção de Francisco em uma Praça São Pedro vazia em 27 de março de 2020, no início da pandemia de COvid-19.   

O funeral foi presidido pelo decano do colégio cardinalício, o italiano Giovanni Battista Re, de 91 anos, e concelebrada por cerca de 5 mil religiosos, entre cardeais, bispos e padres.   

“As manifestações de afeto e participação que vimos nos mostram o quão intensa foi a forma com que o pontificado do papa Francisco tocou mentes e corações”, disse Battista Re em uma longa homilia na missa exequial.   

“A sua última imagem, que ficará em nossos olhos e corações, é a de domingo passado, na solenidade de Páscoa, quando o papa Francisco, apesar dos graves problemas de saúde, quis conceder a bênção da sacada da Basílica de São Pedro e depois quis descer nesta praça para saudar no papamóvel descoberto a grande multidão reunida”, acrescentou.   

Segundo o decano, apesar da “fragilidade e do sofrimento” em seus momentos finais, Bergoglio escolheu “percorrer o caminho da doação até o último dia de sua vida terrena, e o fez com força e serenidade”.   

“Quando o cardeal Bergoglio foi eleito pelo conclave para suceder o papa Bento XVI, tinha nas costas os anos de vida religiosa na Companhia de Jesus e, sobretudo, o enriquecimento da experiência de 21 anos de ministério pastoral na Arquidiocese de Buenos Aires. A decisão de assumir o nome Francisco aparece imediatamente como a escolha de um programa e um estilo que ele queria imprimir a seu pontificado, tentando inspirar-se no espírito de São Francisco de Assis”, ressaltou o cardeal italiano.   

“O Papa sempre conservou seu temperamento e sua forma de liderança pastoral e imediatamente colocou a marca de sua forte personalidade no governo da Igreja, instaurando um contato direto com as pessoas, desejoso de ser próximo a todos, com atenção especial àqueles em dificuldade e aos últimos da Terra.   

Ele foi um Papa em meio ao povo, com o coração aberto a todos”, disse Battista Re.   

A homilia ainda destacou a “linguagem rica de imagens e metáforas” do finado pontífice, que serviam para “iluminar os problemas de nosso tempo” e encorajar as pessoas a viver “como cristãs as mudanças de nossa época”. “Ele tinha grande espontaneidade, uma maneira informal de se dirigir a todos, rico de calor humano e profundamente sensível aos dramas cotidianos”, afirmou o cardeal, destacando que Bergoglio defendia uma “Igreja para todos”.   

A mensagem do decano percorreu algumas das passagens mais importantes do pontificado, como as viagens apostólicas e as encíclicas, bem como as bandeiras carregadas pelo argentino, como o apelo incessante pela paz, a misericórdia e a defesa dos migrantes e refugiados, que mereceu aplausos dos fiéis na Praça São Pedro, na presença de líderes conhecidos pelas políticas anti-imigração, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o premiê da Hungria, Viktor Orbán.   

“O papa Francesco gostava de concluir seus discursos e encontros pessoais dizendo: ‘Não se esqueçam de orar por mim’.   

Agora, caro papa Francisco, pedimos a você que reze por nós e pedimos que, do céu, você abençoe a Igreja, abençoe Roma, abençoe o mundo inteiro”, concluiu o decano.   

Pelo menos 160 delegações estrangeiras participaram da missa exequial, começando pelo presidente da Argentina, Javier Milei, compatriota de Francisco, e pelo presidente e pela premiê da Itália, Sergio Mattarella e Giorgia Meloni.   

Também tiveram lugar na primeira fila Trump, acompanhado da primeira-dama Melania, e os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, após uma mudança do protocolo do Vaticano, que previa inicialmente que os líderes fossem distribuídos de acordo com a ordem alfabética dos países.   

A delegação brasileira foi encabeçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viajou a Roma com a primeira-dama Janja, os chefes dos outros Poderes, ministros e deputados e senadores.   

Além disso, cerca de 40 delegações ecumênicas acompanharam o funeral, refletindo a disposição de Francisco para o diálogo inter-religioso, incluindo o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, líder dos ortodoxos e amigo do finado pontífice.   

(ANSA).   

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