Ilze Scamparini relembra encontro com papa Francisco que iniciou debate na Igreja

Durante a cobertura do funeral do papa Francisco neste sábado, 26, Ilze Scamparini reviveu um dos episódios mais marcantes de sua carreira. A jornalista da Globo contou como uma pergunta sua, feita em 2013 durante um voo papal, provocou nervosismo no pontífice e abriu espaço para um debate que permanece na Igreja Católica até hoje.

“Doze anos se passaram. Quando me transporto para aquela cena no avião, ainda sinto um impacto no meu sistema nervoso daquela fala do papa, ‘Quem sou eu para julgar?’, referindo-se aos homossexuais. Muitos progressistas gostaram dessa fala, mas os ultraconservadores, nem tanto”, recordou Ilze, destacando que apenas no final do pontificado Francisco conseguiu estender as bênçãos da Igreja a casais gays.

O episódio teve início durante uma entrevista coletiva. “Era um domingo, e entrei no avião com uma intuição. Me coloquei numa espécie de fila para fazer minha pergunta, levantando minha mão. Dois jornalistas brasileiros cederam os lugares deles para mim. Fiquei bastante tempo com o braço levantado. Alguns jornalistas fizeram perguntas, até que o porta-voz do Vaticano encerrou a entrevista, deixando meu braço levantado sem resposta”, relembrou.

Apesar da tentativa de encerrar a conversa, o papa percebeu Ilze e insistiu para que ela pudesse falar. “Mas o papa não me ignorou, olhou para mim e pediu ao porta-voz para deixar que eu falasse. Num gesto, me chamou. Eu fui lá na frente, onde ele estava, e peguei o microfone. Antes de perguntar, pedi licença ao papa para tocar num assunto delicado. Ele consentiu com a cabeça, bem sério. Na hora, Francisco ficou bastante embaraçado, um pouco nervoso. Essa foi a minha impressão. Era a primeira vez que alguém perguntava a um papa sobre gays”, relatou.

E continuou: “Depois, ele foi fazendo sua reflexão, e então veio a frase, criando um antes e depois, ‘Quem sou eu para julgar?’. Isso dito por uma igreja que sempre julgou de uma maneira impiedosa”, reforçou a repórter.

Após o pronunciamento, a emoção tomou conta de Ilze. “Ele me agradeceu, falou ‘obrigado por ter feito essa pergunta’, mas já não sorria. Saí dali sentindo uma emoção muito forte, contrastante. Sentei-me na cadeira do avião, fechei os olhos, e por um instante senti alguém apertando meu braço. Era o padre Lombardi, o porta-voz, que me disse algo como ‘[fica] tranquila que o papa gostou da pergunta’”, lembrou.

Segundo Ilze, a repercussão da declaração foi imediata. “Oito ou nove horas depois, a gente pousou em Ciampino, em Roma. A confusão estava armada e começou então um debate na igreja que até hoje não terminou”, concluiu.

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