PlatôBR: Por que Frei Betto avalia que o conclave não escolherá um papa conservador

O escritor e religioso dominicano Frei Betto avalia que o conclave no Vaticano não deve eleger um novo papa conservador. “Se a Igreja Católica fizer isso hoje, vai haver um esvaziamento maior, um retrocesso”, afirmou, em entrevista ao PlatôBR. Alinhado às posições da chamada ala progressista, ele diz que a hierarquia católica tem a preocupação de eleger um papa que também “busque o diálogo”, como era o caso de Francisco, mas que o escolhido não seguirá necessariamente a mesma linha. E faz uma aposta: “O conclave tenderá a escolher um papa poliglota, simpático e bom diplomata”.

Mas essas são características pouco comuns em uma única pessoa entre os conservadores, na opinião do religioso. “Então eles vão ter que escolher alguém que seja palatável para esse mundo de hoje. Senão, será muito complicado para a Igreja. Ela vai ficar falando sozinha”, avalia. “O perfil do conclave é moderado para conservador. O Francisco indicou 80% dos cardeais votantes, mas isso não significa que todos sejam progressistas. Francisco levava em conta o consenso dos bispos do país”, explica.

Para o dominicano, o conclave deve ter duração maior do que os dois anteriores, que escolheram Bento XVI e Francisco em 48 horas. “Será um conclave demorado, mas para os tempos atuais significa quatro ou cinco dias. Não vai ser muito fácil. Os cardeais não querem mais nenhum papa que venha a morrer 33 dias depois, como o João Paulo I, mas também nenhum papa que fique muito tempo. O Francisco foi o ideal, 12 anos, 15 anos. Então eles não vão votar no cardeal Tagle, que é muito jovem”, afirmou Frei Betto, referindo-se a Luis Antonio Tagle, que foi arcebispo de Manila, nas Filipinas, tem 67 anos e é um dos nomes cotados para o trono de Pedro.

A partir de conversas teve com um cardeal que participou de dois conclaves, o dominicano indicaria como favorito o arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência da Episcopal Italiana, Matteo Zuppi. “Os italianos não se conformam por ter perdido o papado. E entre os italianos têm cinco nomeados por Francisco que são da linha dele. O que tem mais destaque é Zuppi. Então se fosse para uma bolsa de aposta, eu apostava nele”, especula.

Frei Betto cita também o cardeal inglês Timothy Radcliffe, dominicano como ele. E, no caso de o conclave decidir por uma oportunidade à África, o nome lembrado por Betto é o do cardeal Peter Durkson, de Gana. “Desde o século V a igreja não tem um papa africano. Acontece que os cardeais africanos são conservadores, com exceção de um, o Turkson, na minha avaliação”, afirma.

O nome real de Frei Betto é Carlos Alberto Libânio Christo. É um dos expoentes da Teologia da Libertação, a corrente católica que defende a opção preferencial pelos pobres. Ele tem 80 anos, nasceu em Belo Horizonte e vive em São Paulo. Estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Em 1982, ganhou o Prêmio Jabuti com o livro autobiográfico “Batismo de sangue”, sobre sua experiência na prisão durante a ditadura militar.

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