Ministros das Relações Exteriores se encontram no Rio de Janeiro para preparar agenda da cúpula do bloco, que se reúne em julho. Representantes devem emitir declaração conjunta criticando “medidas unilaterais”.Ministros das Relações Exteriores do Brasil, China, Rússia e outros países membros do Brics iniciaram nesta segunda-feira (29/04), no Rio de Janeiro, reuniões preparatórias para a cúpula do encontro que acontecerá em julho na cidade. As discussões se concentraram em formas coordenadas de combater a política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O encontro acontece em um momento crítico para a economia global, após o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduzir suas previsões de crescimento globais devido ao impacto das novas tarifas impostas por Trump. A expectativa é que o grupo prepare uma declaração conjunta criticando “medidas unilaterais” sobre o comércio.
“Os ministros estão negociando uma declaração para reafirmar a centralidade das negociações comerciais multilaterais como o principal eixo de ação no comércio”, disse o embaixador brasileiro Mauricio Lyrio. “Eles reafirmarão suas críticas às medidas unilaterais de qualquer origem, que tem sido uma posição de longa data dos países do Brics.”
Desde que voltou à Casa Branca em janeiro, Trump aplicou tarifas de 10% a dezenas de países, enquanto a China, membro do bloco, enfrenta taxas de até 145% sobre seus produtos. Em resposta, Pequim impôs tarifas de 125% sobre mercadorias americanas.
O alto funcionário de planejamento econômico da China, Zhao Chenxin, declarou nesta segunda-feira, em Pequim, que o país está “do lado certo da história” diante do que chamou de “unilateralismo e intimidação” de Washington.
O Brics, fundado em 2009 inicialmente por Brasil, Rússia, Índia e China, representa quase metade da população mundial e 39% do PIB global.
Multilateralismo e retirada de forças israelenses
Na abertura do evento, o chanceler brasileiro Mauro Vieira destacou a importância do diálogo em um cenário de “crises humanitárias, conflitos armados, instabilidade política e erosão do multilateralismo”. “O papel do Brics como grupo nunca foi tão importante”, afirmou.
Vieira também abriu os trabalhos pedindo a “retirada completa” das forças israelenses de Gaza, classificando como “inaceitável” o novo bloqueio de ajuda humanitária ao território, que já dura mais de 50 dias.
Sobre a guerra na Ucrânia, o grupo mantém uma postura mais cautelosa, limitando-se a defender a paz sem condenar explicitamente a invasão russa. Vieira reforçou nesta segunda-feira a necessidade de uma “solução diplomática” que respeite os “princípios e objetivos” da Carta das Nações Unidas.
Outro tema de destaque na agenda é o desafio do Brics à hegemonia do dólar. Na cúpula do ano passado, os membros discutiram formas alternativas de impulsionar transações em moedas locais, o que provocou forte reação de Trump, que ameaçou impor tarifas de 100% caso tentassem enfraquecer a moeda americana.
Em entrevista ao jornal O Globo antes do encontro, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que os países planejam “aumentar o uso de moedas nacionais nas transações” entre os membros, mas considerou “prematura” a discussão sobre uma moeda unificada para o bloco.
Outro tema que deve ganhar destaque na declaração conjunta do Brics nesta terça-feira é a mudança climática. O Brasil será o anfitrião da COP30, a conferência climática da ONU deste ano, que ocorrerá em novembro na cidade de Belém, no Pará.
gq (afp, reuters, ots)