A destruição sistemática do sistema de saúde de Mianmar pela junta militar comprometeu gravemente a resposta ao terremoto de magnitude 7,7 que devastou o país em 28 de março, segundo denúncia da ONG Human Rights Watch (HRW). Um mês após a tragédia, o acesso a serviços de emergência segue sendo bloqueado nas regiões controladas pela oposição.
Desde o golpe de 2021, mais de 872 profissionais de saúde foram presos por ligação com o movimento antijunta, enquanto hospitais privados que os empregavam foram fechados. Dados da organização suíça Insecurity Insight apontam que as forças militares atacaram ao menos 263 unidades de saúde e mataram 74 trabalhadores do setor.
“O exército de MIanmar ataca deliberadamente o sistema de saúde, agravando uma crise pública já catastrófica”, afirmou Lindsey Green, vice-diretora de pesquisa da Physicians for Human Rights.
O terremoto já causou mais de 5.350 mortes, segundo a imprensa local, mas o Serviço Geológico dos EUA estima que o número final pode ultrapassar dez mil. A ONU (Organização das Nações Unidas) calcula que cerca de dois milhões de pessoas necessitam de assistência em um país que já contava com 20 milhões em situação de vulnerabilidade antes do desastre.

Profissionais entrevistados nas regiões de Mandalai e Sagaing relataram a dificuldade de atender as vítimas diante de hospitais destruídos, falta de medicamentos e riscos constantes de prisão. “É inimaginável não poder ajudar”, desabafou um médico, explicando que equipes inteiras cancelaram operações por medo de represálias militares.
A repressão também afeta organizações internacionais. Um documento interno da ONU de 2 de abril indica que a junta restringe a ação humanitária a grandes cidades e áreas sob seu domínio, deixando regiões opositoras “praticamente sem assistência”. Grupos locais relatam que medicamentos são confiscados em postos de controle e que equipes de resgate foram impedidas de recuperar corpos.
O calor extremo, a falta de água potável e o risco de minas terrestres desenterradas pelo terremoto aumentam as ameaças para a população deslocada, sobretudo crianças, idosos, gestantes e pessoas com deficiência. A violência sexual e de gênero também teve crescimento alarmante nas zonas afetadas.
Enquanto isso, o financiamento internacional despencou. A ONU pede US$ 241 milhões (R$ 1,36 bilhão) extras para ampliar a resposta emergencial, e a retirada abrupta de apoio pelos Estados Unidos agravou a crise: o país reduziu sua participação de 30% em 2024 para apenas 3% em 2025.
China, Rússia, Índia, Turquia e países da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático) enviaram equipes de ajuda, enquanto a HRW e a Physicians for Human Rights pedem que os recursos internacionais sejam canalizados através de organizações independentes para garantir que cheguem às comunidades mais necessitadas.
“A junta militar de Mianmar passou quatro anos destruindo o sistema de saúde do país e expulsando profissionais de saúde”, disse Julia Bleckner, pesquisadora sênior de saúde da HRW. “Governos preocupados devem aumentar urgentemente a assistência humanitária e o engajamento com parceiros e redes locais para garantir que a ajuda chegue a todos que precisam.”
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