Com certo atraso, o famigerado acordo de minerais de terras-raras proposto pelos Estados Unidos e Ucrânia foi finalmente assinado nesta quarta-feira (30). Idealmente, tal oficialização já deveria ter acontecido em Washington DC na ocasião da visita oficial do presidente Volodymir Zelensky ao país, mas a disputa vocal acalorada entre chefes de estado, postergou os planos de ambos os lados. A reconciliação ucraniana-americana se deu em um lugar propício para o perdão, a basílica de São Pedro no Vaticano. Apesar de poucos detalhes terem sido divulgados sobre o conteúdo da conversa, a postura diplomática mostrada por Trump e por Zelensky contrastou diametralmente com o bate-boca do último encontro.
Após semanas de intensas negociações, o acordo foi assinado visando criar um fundo conjunto a partir da exploração mineral do rico solo ucraniano, e com isso acelerar o processo de reconstrução da infraestrutura e renascimento econômico do país devastado pela guerra. De acordo com os Estados Unidos, esse fundo conjunto de investimentos não gerará dívida e não cederá o controle dos recursos naturais de Kiev à Washington DC, mas utilizará a expertise dos norte-americanos e seu maquinário para extrair os metais de terras- raras e outros minérios fundamentais para a indústria de alta tecnologia dos Estados Unidos, para benefício de ambos os lados. O enviado americano também deixou claro que todas as nações e indivíduos que auxiliaram a máquina de russa durante a guerra não irão se beneficiar com a reconstrução da Ucrânia.

Caso o acordo seja cumprido com os termos apresentados até o momento, seria uma ótima oportunidade para os ucranianos receberem uma brisa de esperança em meio a dias tão violentos e desesperadores. Contudo, a ambição dos Estados Unidos, principalmente através da agenda do presidente incumbente, faz com que lideranças europeias e a própria sociedade civil ucraniana desconfiem da benevolência de Donald Trump.
Ao analisarmos do ponto de vista militar e sendo pragmáticos, esse acordo talvez seja a única solução de médio prazo que evite a Ucrânia perder mais parcelas significativas de seu território e possa dar um alento momentâneo à exausta população do país. O exército russo recuperou as partes do oblast de Kursk sob o controle ucraniano desde agosto de 2024, conseguiu avançar mais profundamente em Donetsk e tem sido implacável em seus ataques aéreos em cidades densamente povoadas. Militarmente não há alternativas sob a mesa de Zelensky que o façam continuar em sua busca por fundos e armamentos.
Do lado norte-americano, a guerra comercial de Trump com a China também influenciou diretamente a velocidade para se selar o acordo com os ucranianos. Após o tarifaço e a subsequente retaliação chinesa, não apenas taxas abusivas foram impostas por ambos os lados, mas severas restrições às empresas norte-americanas foram colocadas por Pequim, em relação a aquisição de metais de terras-raras.
A China é um dos maiores produtores e exportadores desses minérios e sabe que possui grande poder de barganha ao controlar parte tão essencial da cadeia produtiva de bens de alta tecnologia, até mesmo com aplicações militares e energéticas. Encontrar um fornecedor rápido e com custo baixo, como a Ucrânia, seria aliviar, por hora, a preocupação do setor e poder repensar os próximos passos do xadrez econômico.
Por enquanto, detalhes específicos a respeito de valores, regiões que serão exploradas e a divisão do fundo, ainda não foram amplamente revelados, mas a esperança para um cessar-fogo após esse anúncio é maior do que era há uma semana. A guerra no Leste Europeu ceifou dezenas de milhares de vidas, arruinou a infraestrutura de um país inteiro e reorganizou as alianças militares globais, mas tudo indica que não será resolvida pelos tanques e caças. Talvez o poder dos acordos econômicos e a busca pelo controle das mais modernas tecnologias, serão os responsáveis pelo fim da violência.