Trans brasileira é presa e enviada pelos EUA para ala masculina de Guantánamo

A cabelereira Tarlis Marcone de Barros Gonçalves, de 28 anos, relatou ter sido detida em uma ala masculina na prisão de Guantánamo, penitenciária em Cuba administrada pelos Estados Unidos, apesar de ser uma mulher transgênero. A brasileira foi presa em 15 de fevereiro após cruzar a fronteira entre o México e os EUA em uma tentativa de pedir asilo no país por ser ameaçada no Brasil, conforme declaração enviada à Justiça americana em 12 de março.

+ Duda Salabert afirma que teve visto americano alterado para gênero masculino

+ ‘Abominável’, diz Lula sobre visto com gênero masculino para deputada Erika Hilton

O depoimento de Tarlis foi feito por meio de um telefonema em português que foi traduzido. A declaração, divulgada pelo site “The Free Radical”, foi enviada a uma corte federal de Washington pela advogada Lara Finkbeiner, diretora do International Refugee Assistance Project, uma organização responsável por dar assistência jurídica a refugiados ou indivíduos que buscam asilo em outros países.

De acordo com o documento, a brasileira atravessou a fronteira entre os EUA e o México em 15 de fevereiro em busca de asilo após ser ameaçada. Tarlis foi presa nas proximidades de El Paso, no Texas, onde um agente a pediu para que assinasse uma ordem de deportação. “Recusei porque temo pela minha vida no Brasil”, pontuou.

A mulher foi transferida para o Centro de Processamento do Condado de Otero, no Novo México, onde ficou por nove dias. No local, a brasileira foi colocada em uma unidade com 49 presos, apesar de alertar os guardas sobre se sentir desconfortável ao lado de homens, e relatou ter sido assediada nos corredores e na cela.

Após nove dias, Tarlis foi colocada em um avião militar e mandada para Guantánamo, uma prisão reservada originalmente para acusados de terrorismo, mas que também passou a receber imigrantes depois de uma determinação do governo de Donald Trump.

A cabelereira foi colocada em uma cela com cinco homens e disse ter ficado tão assustada quando chegou ao local que precisou de remédios para dormir. “Toda vez que eu ia ao banheiro ou quando tomava banho, ficava à vista de todos — não havia nenhuma porta para me dar privacidade”, contou, acrescentando que disse aos oficias da prisão que era uma transgênero, mas nada foi feito.

“Afirmei repetidas vezes que tinha medo de voltar ao Brasil e pedi para falar com minha família e meu advogado enquanto estava em Guantánamo. O que foi recusado”, pontou Tarlis. A brasileira disse que os guardas no local não a tratavam como um ser humano e podia tomar sol apenas durante 25 minutos ao longo do dia. “Também havia pouca comida e eu estava constantemente com fome.”

Depois de alguns dias, a cabelereira foi novamente transferida, mas apontou ter sofrido maus tratos durante a viagem. “Eles me algemaram com tanta força que fiquei com dor por vários dias após o voo. Tiveram que me dar analgésicos”, contou.

No momento em que a declaração foi enviada, em 12 de março, Tarlis estava detida no Pine Prairie, na Louisiana (EUA), e disse estar com medo de voltar ao Brasil. Segundo a “Folha de S. Paulo”, a brasileira foi deportada em abril e está na casa da sua família em Alvarenga (MG).

O relato da cabelereira foi usado em uma ação movida pela pela Aclu (União Americana das Liberdades Civis) e pelo CCR (Centro para Direitos Constitucionais) contra o governo Trump para impedir que dez imigrantes fossem enviados a Guantánamo.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.