Marilyn Monroe, latas de sopa Campbell ou a clássica banana amarela na capa do álbum do Velvet Underground. Essas são as obras mais conhecidas e reproduzidas de Andy Warhol, artista americano ícone do movimento Pop Art que se projetou fortemente nos Estados Unidos nos anos 1960. Mas na exposição que abriu ao público na quinta-feira, 1º, será possível conferir essas e outras 600 obras originais de Warhol.
+ Paulo Bonfá, o ‘ex-humorista’ empreendedor que trouxe a megaexposição de Andy Warhol
As centenas de obras saíram direto do The Andy Warhol Museum, em Pittsburgh (Estados Unidos), para o Museu de Arte Brasileira (MAB), na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado). Entre os responsáveis por viabilizar a megaexposição está o Instituto Totex, fundado por Paulo Bonfá, conhecido pela carreira como comunicador e humorista, e Roberto Souza Leão, ex-diretor-executivo do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
Em entrevista à IstoÉ, Leão conta que as negociações começaram há três anos, e, no início, foram oferecidas 100 obras. “Mas a gente queria mostrar toda a versatilidade, a pluralidade do artista, que nem todo mundo conhece. Seria injusto não mostrar toda essa potência do Warhol”, diz.
Ele conta que então começaram a “batalhar” para ter bons exemplares de todas as fases dele, que passam por diferentes mídias, além das artes visuais, sua faceta mais conhecida. “Tem cinema, música, ele como empresário, como designer, como artista, como publicitário, tudo. E para isso a gente precisava de muito mais obras. Não dá para você mostrar uma obra de cada fase, não faz sentido. E aí a exposição foi crescendo, e, com muita negociação, conseguimos essa magnífica exposição. Isso realmente é um feito’.

Andy Warhol, Campbell’s Soup Box, 1962
The Andy Warhol Museum, Pittsburgh; Founding Collection, Contribution The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc.
A exposição não tem ordem cronológica e está divida ao longo dos dois grandes ambientes do MAB. Em um deles, o visitante logo se depara com a série Wall Papers, com vacas cor-de-rosa gigantes em um fundo amarelo (ver mais abaixo).
Uma das obras expostas, uma tela da ‘Santa Ceia’ estilizada por Warhol (Big C 699/1985), levou um dia inteiro para ser montada e 17 pessoas para a operação de disposição do quadro na parede, que em parte aborda o que Warhol chamou de ‘big C’ (grande C), que seria o “câncer” que estava afetando os homossexuais da época, no caso, o vírus do HIV.
Estão presentes também parte de suas polaroides exibindo rostos como de Mick Jagger, Keith Haring, Jean-Michael Basquiat, Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone – este último também presente em uma grande tela exibindo o olhar característico do retratado, mas totalmente desconectado de Rambo, seu principal personagem.
Pintura em tecido, retratos, caixas, embalagens, vestidos compõe a mostra. Até a mesmo a reprodução de uma vitrine feita por Warhol para a Dior, que exibe os frascos originais.
Pop Art: ícone instagramável
Paulo Bonfá destaca que é uma oportunidade “imperdível”, já que, para ver o acerto do The Andy Warhol Museum, é preciso pegar pelo menos dois voos. “E nem é um destino turístico para brasileiros nos EUA”, reforça.

The Velvet Underground, The Velvet Underground & Nico, 1967
The Andy Warhol Museum, Pittsburgh; Founding Collection, Contribution The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc.
Warhol costuma ser relacionado diretamente aos seus trabalhos de serigrafia e reprodução em massa de imagens, principalmente de outros ícones pop, como Marylin Monroe, ou mesmo detalhes do cotidiano, como latas de sopa Cambpell, item que tem marcou presença na vida de origem humilde do americano, nascido em Pittsburgh dos anos 1920.
Mas sua produção é muito mais diversa, tendo Warhol circulado por diferentes formas de expressão – televisão, fotografia, moda, tecidos – e até mesmo em diferentes papeis, como sua relação com a banda novaiorquina de rock The Velvet Underground, quando atuou como empresário e figurinista. Mas, dessa fase, fez história a capa do álbum que trazia uma grande banana amarela em um fundo branco, exposta agora no MAB.
“A exposição traz muitas novidades, muitas exclusividades, raridades. Ela traz toda a iconografia, ou seja, todo o pacote básico que alguém sonharia em ver do Andy Warhol está aqui conosco. Então, é imperdível.”
Bonfá aponta que a influência da Art Pop é tão marcante que segue ainda hoje na publicidade, no design, na moda, no audiovisual. “A estética da Pop Art, da qual o Andy Warhol foi o principal expoente, ela está no nosso dia-a-dia. Nos filtros e redes sociais você tem pop art”, afirma Bonfá. “Estamos dando toda essa dinâmica de atender aos fanáticos pelos ícones que estão aqui presentes, pinturas famosas mundialmente e que certamente vão ser objeto de desejo para um registro, uma selfie, para contar essa relação de ver ao vivo esses trabalhos que aparecem no cinema, aparecem nas camisetas, aparecem nas fotos, mas também, uma multiplicidade do trabalho do Warhol que é incrível mesmo” conclui.
Paulo Bonfá destaca algumas das obras expostas e comenta:
Warhol Rorschach
Warhol fez experimentações de grande porte. O Warhol Shack, um quadro baseado no teste de psicologia Rorschach, criado no Canadá, que depois deu origem a um personagem de história em quadrinhos, um anti-herói dos Watchmen e que ele transformou em uma tela de 5 metros de altura por mais de 3 metros de largura, um colosso e que tem uma parede só para ela.
Oxidation
A série Oxidation é composta por raridades, em que o Warhol, no seu atelier novaiorquino, The Factory, trabalhava com urina e placas e tintas metálicas para estudar como ele conseguiria um efeito de deterioração que pudesse ser absolutamente original e que pudesse ser também um segredo. As pessoas não sabiam como ele tinha feito aquilo, como ele tinha chegado naquele material, até que ele mesmo revelasse através das suas conversas e dos seus amigos.
Música
Nós temos um orgulho no mundo da música que as pessoas relembram pela capa do disco com uma banana assinada por ele, Velvet Underground & Nico, mas Warhol fez mais de 300 capas de LP’s: Rolling Stones, Diana Ross, Aretha Franklin, John Lennon, não são nomes desconhecidos e ele tava lá ilustrando as capas.
Mas na banda Velvet Underground, o local de ensaio, primordialmente, era o atelier do Warhol. Ele fazia desenhos dos figurinos para a banda, ele fazia vários para os shows. Ele dirigia gravações como os filmes estão com a exclusividade dentro do Museu da Faap. E ele foi empresário da banda.
Moda
Ele foi para o mundo da moda, tangenciou a moda de uma forma presente, foi para o mundo da música, se interferiu ou interferiu no cenário musical, foi para o mundo audiovisual, produzindo como cineasta, como roteirista, como diretor ou simplesmente relacionando a sua obra aos grandes atores e atrizes da época de ouro do cinema, depois incorporou a televisão novamente de massa que assumia protagonismo, como a TV por satélite, principalmente na América do Norte. E seguiu sendo um artista disruptivo, irônico.
Série “Wall Papers”
A entrada da exposição do Museu reflete a mesma entrada do Museu de Arte Moderna (MoMa) em Nova York. É uma série chamada Wall Papers, como o nome diz em inglês, de papéis de parede, com as vacas cor-de-rosa em fundo amarelo e que vem de uma situação real e prosaica.
Quando um crítico de arte influente dos anos 60 começa a dizer que os artistas faziam pinturas e telas cada vez maiores para poder cobrar mais caro pelo trabalho, e que um dia aquilo ia aparecer um papel de parede, o Warhol toma aquela declaração e cria uma linha de papéis de parede como obra de arte.
É um pacote de parede que não está disponível, que vem do museu, no tamanho exato da parede que vai ser aplicado aqui, está colocado, mas é uma ironia irreverente, do Warhol criticando a crítica. Então, essa não diferenciação o que é produto, o que é arte, o que é arte como produto, o que que é um produto que está ressignificado como a lata de sopa, como a caixa de ketchup e outros objetos corriqueiros do dia a dia.
SERVIÇO
Andy Warhol: Pop Art!
MAB FAAP – Rua Alagoas, 903 – Higienópolis
1º de maio a 30 de junho de 2025
fechado às segundas-feiras
3ª a 6ª feira: R$ 50 inteira | R$ 25 meia-entrada
Sábados, Domingos e Feriados: R$ 70 inteira | R$ 35 meia-entrada
9h às 20h (última entrada às 19h)