O que seu tempo de reação revela sobre sua saúde (e como medi-lo com teste caseiro simples)


Com o passar dos anos, nossa velocidade de reação aos estímulos externos diminui. Como saber se estamos envelhecendo de forma saudável e prever possíveis problemas de saúde? Especialistas explicam teste que analisa seu tempo de reação e como esse índice fala sobre sua saúde. O seu tempo de reação pode trazer revelações surpreendentes sobre o que acontece dentro do seu corpo, desde a saúde cerebral até o risco de morte precoce
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Ao longo da vida, nossa velocidade de reação aos estímulos entra lentamente em declínio. Este é um dos motivos que levam o nosso desempenho esportivo a diminuir a partir dos 30 anos de idade.
Os cientistas estão descobrindo que poder manter um tempo médio de reação pode ser um indicador importante do bom funcionamento do nosso cérebro, mesmo nas nossas últimas décadas de vida.
Mas a nossa velocidade de reação pode revelar muito mais do que isso. Da nossa saúde cardíaca até o risco de morte precoce, os tempos de reação podem fornecer uma janela para o funcionamento interno do nosso corpo.
“Existem pessoas que simplesmente tendem a ser mais rápidas que outras, mesmo antes do aumento dos efeitos do envelhecimento”, explica o professor de envelhecimento cognitivo e cerebral Simon Cox, da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
“Mas o declínio dos tempos de reação provavelmente indica o acúmulo da degradação causada pela idade. Trata-se de um marcador que nos conta muito sobre o funcionamento combinado de uma série de sistemas biológicos.”
Teste caseiro
Mas como podemos determinar o tempo de reação no conforto do nosso lar?
Uma avaliação simples é um experimento bem conhecido chamado “teste da régua que cai”. Você irá precisar do auxílio de um amigo ou familiar e, é claro, de uma régua.
O teste da régua em intervalos regulares pode oferecer uma ideia da velocidade do nosso envelhecimento ao longo dos anos
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Instruções
Sente-se em uma cadeira e deixe seu braço em repouso sobre uma mesa, de forma que o seu pulso fique pendurado na borda, com o polegar e o indicador voltados para cima.
Peça ao seu parceiro que segure uma régua verticalmente, sobre a sua mão, com o número “zero”, onde começa a medição, alinhado ao seu polegar.
Seu parceiro deverá deixar cair a régua, sem avisar, para que você tente pegá-la com a maior rapidez possível.
A distância a que a régua cai antes de ser pega é a avaliação do seu tempo de reação.
Resultados
De forma geral, pegar a régua a uma distância de menos de 7,5 cm equivale a um desempenho excelente.
Entre 7,5 e 15,9 cm é uma distância acima da média. A média é de 15,9 a 20,4 cm; abaixo da média é qualquer número acima de 20,4 cm – e mais de 28 cm é ruim.
Estudos populacionais observaram correlação entre a velocidade do declínio dos tempos de reação e o risco de diversas doenças relativas à idade.
Um estudo encontrou relação significativa entre o tempo de reação das pessoas e a probabilidade de morte por todas as principais causas. E, além do risco geral, existe também forte relação entre esta avaliação e o risco de morte por condições específicas.
Estas condições incluem doenças cardíacas coronarianas, AVC e doenças respiratórias.
O tempo de reação de uma pessoa também é associado à sua susceptibilidade a quedas, perda da capacidade de viver de forma independente e ao desenvolvimento de demência.
Mas Cox afirma que uma única medição do tempo de reação não revela todas estas condições. A velocidade de reação varia consideravelmente de uma pessoa para outra, devido a fatores como o gênero e a genética, condicionamento físico, hábitos e estilo de vida e até o tipo de personalidade.
Cox explica que provavelmente é mais importante observar as variações da sua velocidade de reação, comparando os resultados do mesmo teste ao longo do tempo — por exemplo, anualmente, ao longo de uma década — e verificar se o seu desempenho começa a sofrer declínios sensíveis.
O tempo de reação de uma pessoa aos estímulos pode ser um reflexo da sua aptidão física e cognitiva
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Os possíveis motivos
Cox indica que a nossa capacidade de reação depende de uma rede de sistemas sensoriais interconectados, como a nossa capacidade de enxergar, ouvir ou até sentir o cheiro de certos estímulos.
Estes fatores incluem a rapidez com que o nosso cérebro processa as informações recebidas dos olhos ou ouvidos e emite um sinal em resposta, além da velocidade com que as nossas fibras nervosas, músculos e tendões finalmente conseguem pôr em prática as instruções recebidas do cérebro.
“Todas estas peças do quebra-cabeça podem ser afetadas pelo envelhecimento, não necessariamente na mesma medida em todas as pessoas”, explica o professor.
Existem dois componentes na reação ao teste da régua que cai: a capacidade do cérebro de determinar rapidamente que a régua caiu e a velocidade com que o corpo consegue agir, com base nas instruções do cérebro, para pegá-la.
Os pesquisadores concluíram que o primeiro componente desta rede que costuma falhar, a partir da meia-idade, é a nossa capacidade física de agir com base nos sinais do cérebro.
Ou seja, o nosso cérebro podem observar que a régua caiu em questão de milissegundos — mas ainda leva algum tempo para que o corpo acompanhe a informação.
Alaa Ahmed é professora do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos
Universidade do Colorado
A professora de biomedicina Alaa Ahmed, da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, descobriu que, à medida que envelhecemos, o nosso tempo de reação pode depender mais da saúde geral do corpo do que do cérebro.
Ela explica que isso pode ocorrer devido ao desgaste de componentes do nosso corpo como fibras musculares de rápida contração, responsáveis pela nossa capacidade física de reagir com rapidez. Ou porque as mitocôndrias — os componentes das nossas células que geram energia — já não trabalham tão bem e, por isso, nossa eficiência para fazer movimentos rápidos diminui.
“Fazer movimentos rápidos é mais difícil para os idosos”, explica Ahmed. “Por isso, eles precisam principalmente reagir com mais rapidez.”
Manter a saúde
Paralelamente, se permanecermos relativamente bem de saúde, o nosso cérebro e o nosso sistema nervoso central podem continuar funcionando bem na idade avançada.
O professor de biomecânica Matthew Pain, da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, afirma que os cientistas avaliam esta questão medindo o “reflexo de alarme” nos tornozelos de pessoas idosas saudáveis, em resposta a um som alto.
Os resultados demonstraram que a capacidade cerebral de reagir ao som e enviar um sinal de “mova-se” para o tornozelo costuma permanecer relativamente inalterada.
“O hardware bruto do sistema nervoso nas [pessoas] idosas saudáveis não é [muito] inferior”, explica Pain.
“Puramente com base no reflexo de alarme, eles ainda podem reagir com rapidez suficiente para serem desclassificados nos Jogos Olímpicos por queimarem a largada. Mas não conseguirão se livrar dos blocos com muita rapidez.”
Medir o tempo de reação a estímulos ao longo da vida pode ajudar a acompanhar alterações da saúde do corpo e do cérebro
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Além do teste da régua, é possível avaliar o tempo de reação com jogos simples de computador, como o Teste do Tempo de Reação Padrão Humano. Nele, é preciso aguardar que uma caixa vermelha fique verde, para clicá-la o mais rápido possível.
Fortes declínios do desempenho ao longo do tempo podem refletir a deterioração de uma série de sistemas sensoriais, além da redução da velocidade de tomada de decisões pelo cérebro.
Em 2024, um estudo concluiu que a perda da sensibilidade visual para observar e reagir aos padrões pode ser um dos primeiros sinais de demência, verificado mais de uma década antes do início dos sintomas.
“Com a idade, as fibras nervosas da massa branca do cérebro podem começar a se comunicar com menos eficiência, o que resulta em redução da velocidade de processamento das informações”, explica Cox.
“Quando tomamos a decisão de reagir, os nervos que conectam o cérebro aos músculos também precisam estar em boas condições para transmitir aquela mensagem rapidamente — e eles também envelhecem.”
Como melhorar a avaliação
Existem medidas que todos nós podemos tomar para evitar ou reduzir este declínio.
Pain recomenda o chamado treinamento de dupla tarefa. Ele envolve atividades simultâneas de treinamento cognitivo e movimento, para sintonizar o cérebro e o corpo.
Exemplos incluem andar virando a cabeça de um lado para o outro, equilibrar-se sobre uma das pernas recitando o alfabeto ou lançar uma bola associando verbalmente palavras, ao mesmo tempo.
Até ações como participar de aulas de fitness transmitidas pela TV ou em um tablet podem ajudar a melhorar o tempo de reação. “Elas ajudam a capacidade de perceber [estímulos] e reagir com movimentos coordenados significativos”, segundo Pain.
Manter a prática de esportes ao longo do envelhecimento é fundamental para preservar a saúde física e mental
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Para Cox, muitas das atividades frequentemente relacionadas ao envelhecimento saudável, como continuar a praticar esportes na terceira idade, aprender a tocar um instrumento musical na aposentadoria ou simplesmente manter as atividades intelectuais, como jogos de tabuleiro, podem trazer imensos benefícios para o nosso tempo de reação aos estímulos.
“Treinos esportivos para promover o desempenho, que exigem respostas rápidas, podem melhorar muito o nosso tempo de reação, aprimorando o cérebro e o corpo”, explica Cox.
“E existem evidências de que manter a atividade social e intelectual, de forma geral, está relacionado ao envelhecimento cognitivo mais lento, em diversos aspectos do pensamento complexo.”
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